A Direita Radical Cresce Mesmo Onde Parecia Improvável 25/02/2025

A direita radical cresce mesmo onde parecia improvável – 25/02/2025 – Wilson Gomes

Celebridades Cultura

A eleição de domingo para o Parlamento Teutónico deve, enfim, fechar qualquer incerteza sobre o roupa de que, nas grandes democracias da América e da Europa, o voto na extrema direita está consolidado. Ou não?

Não há incerteza de que a AfD —que dobrou de tamanho entre uma eleição e outra e foi a legenda preferida de um em cada cinco alemães— é um partido extremista de direita, tanto no exposição eleitoral quanto na proposta política. Dificilmente se pode ser mais radical à direita do que ele, dentro dos limites das regras da democracia liberal. Ou por outra, não se pode subestimar o roupa de que esse propagação ocorreu na Alemanha, um país onde, devido à memória de sua tragédia política no século 20, qualquer exposição extremista de direita dispara milénio alarmes.

Nem mesmo se pode recorrer, com a mesma plausibilidade, à hipótese de uma manipulação do dedo desgovernada das pobres almas iletradas e desinformadas pelos discursos extremistas. Os alemães nunca revelaram a mesma paixão de brasileiros e americanos pela plataformização das interações sociais. Ou por outra, mantêm alguns poucos jornais e telejornais porquê principal nascente de informação e possuem uma das legislações mais rigorosas do mundo sobre dados e comportamento online.

Evidente, ainda há quem explique mudanças eleitorais e viradas políticas exclusivamente com base em fatores econômicos. A percepção de uma crise econômica sem precedentes nesta geração certamente bagunçou os cálculos eleitorais dos alemães. Também há fatores sociais importantes, porquê a leitura coletiva, amplamente disseminada, sobre o impacto da convívio com tantos migrantes. Mas, se isso explica por que houve uma mudança, não ajuda a entender por que essa mudança resultou em uma guinada para a ultradireita nem por que a maior democracia europeia deixou de ser uma resistência ao esquina da sereia da direita radical.

Se nem a Alemanha, com suas rigorosas cláusulas de barreira, que evitam surtos de aventureirismo político e protegem suas instituições, conseguiu resistir ao impacto dos novos ventos, talvez seja hora de considerar seriamente que o extremismo de direita entrou no sistema das democracias liberais. Falta ainda alguma coisa para que se possa expor que as populações desses países decidiram considerar a extrema direita porquê uma escolha política normal em seu consumo eleitoral?

Ou por outra, na Alemanha e na França, duas coisas curiosas aconteceram. De um lado, foram os tradicionais partidos de direita que apareceram porquê principal contenção eleitoral às ofertas radicais, enquanto os partidos de centro-esquerda se tornaram opções esquecidas. Essa contenção implica, no entanto, assumir qualquer compromisso com pautas populares dos radicais, ainda que de forma mitigada.

De outro lado, há um voto de esquerda que também se radicaliza, principalmente entre os mais jovens —embora em menor graduação do que a viradela à ultradireita. Isso sinaliza que, mais do que uma guinada conservadora, há um movimento em direção ao radicalismo, ao antissistema e à repudiação do convencionalismo político.

A esta profundidade, a questão importante já não pode mais ser se é legítimo considerar proveniente a extrema direita porquê escolha eleitoral e política. Os eleitores de quase todas as maiores democracias dos dois continentes já decidiram que sim, independentemente de o quanto colunistas e intelectuais vejam nisso um delito de lesa-democracia.

A veras é quem põe os pratos na mesa e escolhe o cardápio, não o nosso libido. O que realmente importa, para quem se ocupa da extrema direita porquê roupa político, é se as pessoas estão de roupa apostando em saídas políticas não convencionais e radicais, seja de direita, seja de esquerda, ou se simplesmente preferem explicações, interpretações e narrativas radicais e não convencionais —ainda que nem todas impliquem, deliberadamente, uma aposta em soluções antidemocráticas.

Caso esta última hipótese seja considerada, logo as perguntas a serem feitas são: em que problemas da ordem da veras esses eleitores estão prestando atenção e por que nós não? Por que eles preferem as explicações e interpretações fornecidas pelos extremos e não os diagnósticos convencionais da direita e da esquerda? Por que a resguardo dos combinados democráticos está sendo negligenciada ou subestimada em suas preferências eleitorais diante das narrativas e interpretações radicais?

Não basta rejeitar e sentenciar o radicalismo —é preciso entender por que seus diagnósticos e propostas ressoam tão profundamente e o que eles enxergam que os demais insistem em ignorar.


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Folha

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