Qualquer pessoa, por menor contato que tenha com cinema, sabe que crianças e bichos de estimação costumam atrair olhares de carinho e simpatia.
Portanto, é um recurso fácil recorrer para uma trama que contemple uma párvulo e um cachorro, porquê é o caso, ao menos em sua primeira metade, de “A Mais Preciosa das Cargas”, filme franco-belga do oscarizado Michel Hazanavicius, fundamentado em um história de Jean-Claude Grumberg.
Porquê é uma animação, o apelo mercantil ao mesmo tempo aumenta e diminui. A Pixar, o estúdio Ghibli e outros polos de animação fortaleceram o nicho nas últimas décadas, tornando o formato mais interessante para distribuidores e produtores.
Mas por mais bela que seja a animação, não conseguirá se igualar ao rosto e ao carisma de uma bela párvulo ou um belo cachorro. Ou seja, a animação enfraquece um pouco o apelo, embora não de modo a não o justificar.
O filme, mas, abandona em visível ponto essa facilidade para mostrar o horror da guerra com alguma verso. Estamos diante de uma animação mais nuançada e adulta.
Um rachador e sua esposa vivem numa região florestal e fria, em meio à pobreza e ao terror de serem atingidos de alguma forma pela Segunda Guerra Mundial. Num dia de muita nevasca, representada com um marcante trabalho de som, a esposa segue o pranto de uma párvulo. Depois de muito procurar, encontra um bebê ignorado perto dos trilhos do trem.
Ela decide adotar a pequena moçoila, enfrentando a resistência inicial do marido. Depois de um tempo, ele também se rende aos encantos da párvulo, que por sua vez se encanta com a enorme barba ruiva do rachador. O parelha acompanha enternecido o propagação da filha que ganharam: suas brincadeiras divertidas com o cachorro, a primeira vez que ela fica de pé, seu sorriso cativante.
Até que a malícia humana aparece e uma novidade reviravolta acontece na vida da párvulo e do parelha. A esta profundeza, já havíamos percebido que o filme é ambientado perto de um campo de concentração. A câmera acompanha um pássaro até lá. Curiosa maneira de nos situar geograficamente.
É portanto que as peças começam a se encaixar, o desespero explica o deserção e uma bela congregação entre humanos e animais provoca um fio de esperança.
Ficam as perguntas, sempre feitas quando surgem filmes do tipo. Vale entrar novamente no tema do sacrifício, nas atrocidades cometidas por nazistas? Há um pouco novo a expor sobre o matéria? E outra pergunta, em contraposição à anterior. Precisa ter um pouco novo para voltarmos a esse evento traumático?
A resposta é fácil nestes dias em que se normalizou a extrema direita, o genocídio e a intolerância. Infelizmente, a humanidade não aprende. Logo, um tema porquê esse não se esgota. Tudo depende do tratamento que se dê a ele.
O diretor tem normalmente uma mão um tanto pesada, mas cá se beneficia do atenuamento inerente à opção pela animação. As atrocidades surgem porquê pinturas expressionistas. O muito visto é mostrado com alguma versão que o torna mais palatável, geralmente de forma alegórica.
A escolha ainda traz outra diferença. O história de Grumberg poderia ter sido facilmente apropriado com atores e atrizes. Mas provavelmente não teria esse tempo, que nos permite experienciar uma emoção extrema, sem nos sentirmos chantageados —a bela trilha de Alexandre Desplat contribui. É um pequeno e belo história moral o que vemos em 80 minutos de projeção.
Hazanavicius tem um caminho curioso no cinema, embora com muita misericórdia e alguma ingenuidade se possa expor que é bem-sucedido, de um ponto de vista crítico. O vencedor do Oscar de melhor filme, “O Artista”, tem uma teoria nostálgica realizada de maneira pueril. O longa que homenageia Godard, “O Formidável”, não é muito melhor.
Existem bons animadores em atividade, alguns franceses entre eles. Com “A Mais Preciosa das Cargas”, Hazanavicius involuntariamente reivindica seu espaço, e talvez mereça, pois realiza, de longe, o seu melhor filme.
Talvez a animação seja um caminho mais seguro para cineastas porquê ele, um tanto incertos no trato de temas fortes, com pouco critério na hora de escolher o que mostrar e o que não mostrar, e com alguma falta de noção, que permanece na hora de terminar um filme tão melancólico com uma música prazenteiro.