A Normalização Da Extrema Direita Já Ocorreu 24/07/2024

A normalização da extrema direita já ocorreu – 24/07/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Na semana passada, Wilson Gomes publicou, nesta Folha, um cláusula em que exortava a admitir a normalização pretensamente inevitável da extrema direita. Chamando as reações a tal processo de “dogmas” animados por alguma forma de cruzada moral contra setores muitas vezes hegemônicos das populações mundiais, o responsável julgou por muito lembrar que “se o voto é o meio consagrado pelas democracias para legitimar pretensões políticas” não haveria razão alguma para agir uma vez que se a extrema direita não fosse democraticamente legítima. Por término, não faltou estigmatizar aqueles que falam em “fascismo” ao se referir atualmente a tais correntes.

Esse cláusula não é peça isolada, mas representa certa tendência poderoso entre analistas liberais e conservadores do mundo inteiro. Tal tendência consiste em recusar a tese da subida mundial da extrema direita uma vez que movimento catastrófico global de consolidação autoritária e de esgotamento terminal das ilusões da democracia liberal.

Vimos alguma coisa semelhante há pouco quando comentaristas políticos tentavam explicar que um partido uma vez que o gálico Renovação Vernáculo, com seu racismo e xenofobia orgânicos, seus vínculos com o pretérito colaboracionista e colonial gálico, seu sumptuosidade policial pronto para atirar contra tudo o que se assemelhe a um arábico, não era por fim um problema assim tão grande e sequer deveria o partido ser chamados de “extrema direita”.

Posições uma vez que essas não são exclusivamente equivocadas. Não há catástrofe política que não tenha sido minimizada pelos que, em momento de crises estruturais, se apresentam uma vez que “antidogmáticos”, “equilibrados” e “avessos a palavras de ordem”. Diria, na verdade, que esse pretenso “estabilidade” é uma peça fundamental do problema e de sua extensão.

Pois aos que pregam a normalização da extrema direita eu diria que ela nunca teria força tão grande atualmente se não estivesse há muito normalizada. Não pelos eleitores, mas pelos políticos e formadores de opinião liberais. Há uma confederação objetiva entre os dois grupos.

As políticas anti-imigração precisam ser inicialmente implementadas pelo “núcleo democrático” para que a extrema direita cresça. A paranoia securitária precisa estar cotidianamente na boca dos analistas políticos “liberais” para que a extrema direita conquiste eleitores e eleitoras.

Idem para a equalização entre militantes de movimentos sociais e tropas de bolsonaristas, trumpistas e afins. Ou seja, quando a extrema direita enfim sobe ao poder normalmente ela precisa exclusivamente chutar uma porta podre. A normalização real já tinha definido a agenda do debate político.

Contra essa tendência, eu diria que se espera da classe intelectual ao menos a capacidade de invocar de gato um gato. Martelar, por exemplo, que um oração marcado pelo letrado à violência, pela indiferença em relação a grupos mais vulneráveis, pela concepção paranoica de fronteiras e identidade, pelo anticomunismo congênito, pela transferência de poder a uma figura, ao mesmo tempo, autoritária e caricata, tem um nome analítico preciso, a saber, “fascismo”, é uma forma de sensibilizar a sociedade para os riscos e tendências reais que ela enfrenta atualmente.

Lembrar disso em um país uma vez que o Brasil, que conheceu nos anos trinta um dos maiores partidos fascistas fora da Europa, que teve dois militares integralistas na junta militar de 1969, que teve um presidente que há alguns anos assinava cartas a país com o lema “Deus, pátria, família”, é sinal de honestidade intelectual mínima. A universidade brasileira já tem uma responsabilidade enorme em ter tratado o fascismo estrutural em nossa sociedade com zombarias até vir um governo marcado por genocídios indígenas, massacres espetacularizados em favelas e 700 milénio mortos na pandemia em nome da preservação das dinâmicas de aglomeração numulário.

Recusar a normalização da extrema direita não significa ignorar os sofrimentos reais de seus eleitores, a precarização crônica da situação social dos que a apoiam. Muitos menos significa impor discursos morais no lugar de decisões políticas.

Significa não criar de forma alguma com as soluções da extrema direita, ter a capacidade de recusar de forma absoluta sua maneira de definir o debate. Significa tensionar a sociedade com uma visão opção de transformação e ruptura. Mas talvez seja exatamente isso que alguns mais temam.

Folha

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