O que Cinisca conseguiu há muro de 2.400 anos foi, sem incerteza, um grande feito.
Ela ganhou louros em duas Olimpíadas consecutivas –em 396 a.C. e 392 a.C.–, o que já é um pouco a se evidenciar.
Mas conseguir isso quando uma pessoa porquê ela não poderia sequer estar presente na competição em homenagem ao deus Zeus é um pouco ainda mais memorável.
Cinisca, mesmo sendo princesa, filha e mana de reis poderosos, era uma mulher de muro de 50 anos, e as mulheres daquela era não podiam competir.
Foram até proibidas de frequentar o recinto sagrado do Santuário Olímpico. E as mulheres casadas corriam risco de pena de morte caso fossem vistas no evento, mesmo porquê meras espectadoras.
Para elas havia lugar em um festival dissemelhante, em homenagem a Hera, esposa de Zeus.
Pouco se sabe sobre esses jogos além do que o viajante, geógrafo e historiador heleno Pausânias contou em sua extensa obra “Descrição da Grécia”, do século 2 d.C.
Segundo esse registro, essa competição era organizada e supervisionada por uma percentagem de 16 mulheres das cidades de Elis, que acontecia a cada quatro anos e incluía corridas de meninas vestidas com uma túnica que pendia do ombro esquerdo e com os cabelos soltos.
Mas as atletas tinham que ser jovens e solteiras, portanto Cinisca também não poderia participar desses jogos.
Portanto, porquê ela conseguiu a vitória se a competição olímpica era tão cuidadosamente reservada aos homens?
A fenomenal Esparta
Cinisca se aproveitou de uma brecha lítico.
Ela participou de corridas de bigas (carruagens) de quatro cavalos seguidas, mas não precisou conduzi-las para vencer… nem precisou estar em Olímpia.
Ontem porquê hoje, as vitórias nas corridas equestres são atribuídas aos proprietários dos cavalos e não aos jóqueis.
Por que as regras eram tão rígidas sobre a presença de mulheres nos Jogos?
Talvez porque a maioria das mulheres na Grécia Antiga não teria sido capaz de competir de qualquer forma.
Em Atenas, porquê Sarah Pomeroy relata no seu livro “Mulheres Espartanas”, as leis e as medidas suntuárias destinadas a reduzir a visibilidade das mulheres impediam que elas andassem em carruagens, e não há provas de que alguma vez tenham percorrido a cavalo.
Ainda mais tarde, em Roma, onde havia muito mais riqueza disponível, a legislação promulgada porquê medida suntuária em 216 a.C. também proibia as mulheres de andarem em carruagens, exceto para fins religiosos.
Mas Cinisca era espartana e, porquê tal, gozava de liberdades inconcebíveis para outras.
Na cultura espartana, acreditava-se que os filhos mais fortes vinham de pais fortes, por isso, ao contrário do resto da sociedade grega antiga, as autoridades encorajavam as mulheres a treinar tanto a mente quanto o corpo.
Porquê também podiam herdar, possuir e dirigir propriedades, assim porquê os proprietários de terras do sexo masculino, as mulheres espartanas podiam guiar carruagens ou marchar a cavalo para inspecioná-las.
Ser capaz de marchar a cavalo deu aos espartanos uma autonomia única para as mulheres no mundo heleno.
Cinisca também adorava cavalos.
Ela era filha do rei Arquidamo 2º e mana do rei Agesilau 2º, um dos guerreiros mais famosos da Grécia, por isso desfrutou de uma vida privilegiada.
Segundo diversas fontes, ela possuía uma grande herdade inteiramente dedicada à geração e treinamento de cavalos.
Ela mesma preparou sua equipe e esperou o termo da Guerra do Peloponeso, quando foi levantado o veto à participação de Esparta no festival de Olímpia.
Sem pisar nos terrenos sagrados proibidos, a princesa inscreveu seus cavalos na corrida olímpica de bigas.
E sua motivação para fazer isso permanece porquê uma questão de debate.
Avidez ou manipulação?
Pode parecer normal que alguém que nutriz tanto os cavalos e dedica todo o seu tempo a treiná-los queira participar da competição de maior prestígio da era.
No entanto, houve opiniões diferentes sobre o que motivou um membro da realeza espartana a desrespeitar as regras dos Jogos.
O filósofo e historiador Xenofonte era camarada do rei Agesilau e creditou a ele o despertar das ambições olímpicas da princesa.
“Ele convenceu sua mana Cinisca a gerar cavalos para carruagens e demonstrou com sua vitória que tal garanhão marca o possuinte porquê uma pessoa rica, mas não necessariamente de valor [viril]”, escreveu ele.
Acrescentou que Agesilau sentia que a vitória em Olímpia significava pouco; era melhor ser um bom rei, o que incluía ser virtuoso, modesto e economicamente conservador.
Cinco séculos depois, o filósofo Plutarco, elogiando a naturalidade do estilo de vida de Agesilau, observou: “No entanto, vendo que alguns cidadãos eram muito estimados e tinham grande orgulho na geração de cavalos de corrida, convenceu a sua mana Cinisca a participar nas competições de bigas em Olímpia, desejando mostrar aos gregos que a vitória ali não era uma marca de primazia, mas simplesmente de riqueza e desperdício.”
Segundo Pausânias, porém, o que motivava a princesa espartana era a anseio pessoal.
“Cinisca desejava fortemente a glória nos Jogos Olímpicos e foi a primeira mulher a gerar cavalos e a primeira a entender uma vitória olímpica”, escreveu.
Foi uma vitória engendrada pela princesa ou arquitetada pelo rei? Cinisca foi uma pioneira ou um peão político?
O debate de longa data continuou e se expandiu.
Mas, apesar de todo esse debate, a vitória rapidamente transformou Cinisca em heroína.
“Depois de Cinisca, outras mulheres também, principalmente da Lacedemônia, obtiveram vitórias olímpicas, nenhuma delas mais famosa que ela pelas vitórias”, relatou Pausânias.
E contou que “num lugar chamado Platanistas, por culpa do argola ininterrupto de altas bananas que crescem ao seu volta”, havia um “santuário de heróis” devotado a Cinisca.
Essa foi uma honra importante: o sítio era reservado para cerimônias religiosas e exclusivamente os reis espartanos eram lembrados dessa forma, e nunca uma mulher.
Mas talvez ainda mais emocionante foi o indumento de uma estátua de bronze de Cinisca ter sido erguida em Olímpia, o lugar onde ela triunfou apesar da sua falta forçada.
Junto com esculturas de sua carruagem e cavalos de bronze, foram os primeiros monumentos dedicados para uma mulher para comemorar vitórias em competições pan-helênicas.
Assim, embora pouco se saiba sobre sua vida, seu nome entrou para a história e ficou gravado na base de sua estátua:
“Eu, Cinisca, vencedora com uma carruagem de corcéis velozes, (…) declaro-me a única mulher em toda a Grécia que conquistou esta grinalda.”