'a Sociedade Da Neve': O Homem Que Não Embarcou No

‘A Sociedade da Neve’: o homem que não embarcou no avião – 05/02/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

“Alfredo! Estão dizendo no rádio que você caiu de avião nos Andes!”. O porteiro do prédio onde Alfredo Cibils morava com seus pais em Montevidéu, no Uruguai, ficou surpreso ao vê-lo entrar naquela sexta-feira, 13 de outubro, pois minutos antes soube que Alfredo era um dos passageiros do voo 571 que ia para Santiago do Chile e tinha sofrido um acidente.

Alfredo estava na lista de passageiros do avião Fairchild da Força Aérea Uruguaia que havia partido em 12 de outubro de 1972 com fado ao Chile.

O avião teve que pousar em Mendoza, na Argentina, porque as condições climáticas não eram adequadas para a travessia da Serrania dos Andes e, no dia seguinte, decolou para Santiago, mas colidiu com as montanhas.

Sete horas antes da partida de Montevidéu, Alfredo decidiu não embarcar naquele avião.

Seu melhor companheiro, Numa Turcatti, embarcou –interpretado pelo ator uruguaio Enzo Vogrincic, o personagem de Turcatti é protagonista do filme “A Sociedade da Neve”, indicado ao Oscar de melhor filme internacional e melhor maquiagem e penteados.

Termo de semana planejado para diversão

Em outubro de 1972, Alfredo Cibils insistiu com Numa Turcatti para que viajassem a Santiago a invitação de outro companheiro em geral, Gastón Costemalle, que jogaria uma partida de rugby com seu time, Old Christians, na capital chilena.

Ambos tinham 24 anos, eram solteiros, e Alfredo havia partido nove meses antes naquele mesmo avião da Força Aérea Uruguaia —que vendia serviços fretados— com outro grupo ligado a um clube de futebol amásio.

Nessa viagem, ele conheceu jovens chilenas e guardou seus números de telefone.

A teoria agora era replicar aquela viagem de festas e folia com seus três amigos, Gastón Costemalle, Alfredo “Pancho” Franzino e, principalmente, Numa, já que os dois primeiros tinham namoradas.

Mas Numa não queria ir. Ele era mais granjeiro, não gostava muito de trespassar e não tinha excitação pela teoria de viajar.

Seus interesses eram o futebol –jogar uma vez que atacante com a camisa sete na Liga Universitária ou presenciar ao Vernáculo nas arquibancadas do Estádio Centenário– e os estudos, já que queria se formar em recta.

“Ele era um faceta com um coração enorme e uma força física enorme”, lembra Alfredo em diálogo com a BBC News Mundo.

Sua relação com o futebol foi legado de família. Seu avô materno, Numa Pesquera, havia sido presidente do Vernáculo e, para os Jogos Olímpicos de Paris, em 1924, assinou um cheque em branco para que a seleção uruguaia de futebol (que acabou conquistando a medalha de ouro) pudesse comparecer.

“Não tenho quantia”, Numa disse a Alfredo uma vez que desculpa para não viajar.

“Fale com seu pai e sua mãe”, retrucou Alfredo, que conhecia o bom histórico financeiro da família e argumentava que o Chile era muito barato.

Ou por outra, Numa era muito tímido, principalmente com as mulheres, por isso a teoria de ir a festas e saber garotas também não o seduzia completamente.

Um jovem devotado ao futebol e aos estudos

Numa Turcatti era um varão de pele branca, com pouco menos de 1,80m de fundura, musculoso, com cabelos pretos cacheados, penteados com gel para alisá-los e assim exibir a risca lateral uma vez que indicava a voga, e um bigode grosso.

Um bigode que, dada a impossibilidade originário e técnica de Vogrincic tê-lo no filme, foi entregue a Alfredo, que nunca o tinha deixado crescer na vida, para simbolizar a idade.

Ele tinha quatro irmãos, um deles gêmeo, e morava com os pais, Isabel Pesquera (“Tota”) e Gastón Turcatti, em uma moradia de três andares em um bairro residencial da capital uruguaia.

Conheceu Alfredo Cibils e Gastón Costemalle aos 15 anos na sala de lição do escola Jesuíta Seminário. Com Pancho Franzino, com quem partilhou aulas desde os seis anos, formaram um grupo próximo de amigos, estudos e aventuras.

Mais tarde, os quatro ingressaram juntos na faculdade de recta da universidade e a moradia dos Turcatti (a frente e a ingresso da moradia que aparece no filme são da moradia real onde Numa morava) era o ponto de encontro habitual.

Lá eles se reuniam a partir das 8h da manhã para estudar, com mate pronto e cigarros no meio da mesa.

Na mesma idade, Numa, Alfredo e Pancho formaram um time de futebol entre os ex-alunos do Seminário de sua geração e o chamaram de Loyola Fútbol Club, em referência a Santo Inácio de Loyola, fundador da congregação jesuíta.

Jogavam nas manhãs de domingo. Às terças-feiras, ao anoitecer, Numa e Alfredo iam às reuniões da liga esportiva uma vez que representantes do time para coordenar calendário, jogos a serem disputados e campos para jogar.

Loyola também incluiu Arturo Nogueira, Julio Martínez Lamas e José Luis Inciarte, que fizeram segmento do grupo de viagem ao Chile.

A prova que atrapalhou a viagem

A insistência de Alfredo para que ele fosse passar aquele termo de semana prolongado no Chile acabou convencendo Numa. “Olha, conversei com a mamãe e ela disse que sim”, disse.

Um tropeço, no entanto, ficou no caminho.

Alfredo tinha que fazer uma prova na universidade na quarta-feira, 11 de outubro, às 14h, e o avião para Santiago partiria na quinta-feira, dia 12, às 6 da manhã.

Ao chegar à universidade, no entanto, descobriu que a prova havia sido adiada devido a uma greve estudantil de 24 horas. Em 1972, no Uruguai, o envolvente social estava tumultuado e faltavam unicamente alguns meses para que ocorresse um golpe de Estado.

Alfredo havia chamado os três amigos à sua moradia às 17h para mostrar os lugares onde poderiam trespassar à noite e as fotos que havia tirado em sua viagem ao Chile em janeiro.

“Naquela idade, as fotos estavam muito na voga. Tirei várias fotos com garotas chilenas: morenas, loiras… tinha de tudo”, disse Alfredo à BBC.

Ao mesmo tempo, ele deu as más notícias: teria que permanecer para a prova.

Pancho Franzino telefonou ao professor, que era muito companheiro do tio de Alfredo, e explicou que viajaria ao Chile, na esperança de ele poder fazer alguma coisa.

Ele procurou o número no diretório e discou. Do outro lado, o professor atendeu e rapidamente concordou em deixar o vistoria para a semana seguinte.

“Arrumei a mala, fui dormir, mas fiquei pensando: ‘Tenho o vistoria em breve, uma vez que vou para o Chile?'”, se perguntou.

“Pancho e Gastón me disseram: ‘Mas você revisa no avião.’ E lembrei do avião, foi uma alegria, foi muito jocoso. Porquê estudar no avião? Aí no Chile você vai dormir tarde, bebe pisco o dia todo, era uma vida maluca.”

“Portanto, às 11 da noite fui ao quarto dos meus pais, bati na porta e disse-lhes: ‘Não se preocupem, não vou para o Chile.’ “

Depois ligou para a mãe de Costemalle, que morava na esquina de sua moradia e eles iriam juntos para o aeroporto.

“Diga a ele para, por obséquio, não me pegar porque eu não irei. E por obséquio, não diga zero a Pancho e Numa até que estejam no aeroporto, porque eles podem vir me procurar.”

O último a morrer nos Andes

Numa Turcatti morreu em 11 de dezembro de 1972 na serrania dos Andes, depois passar 59 dias na serra congelada.

Ele tentou encontrar alguma saída em duas tentativas, e na segunda vez ficou desconceituado ao ver que era impossível, segundo o livro “A Sociedade da Neve”, de Pablo Vierci.

Ele foi fundamental para desenterrar colegas cobertos de neve no dia em que uma avalanche passou por cima deles.

Depois disso, Numa praticamente não saiu do avião. Ele desenvolveu escaras nas costas, cheias de pus, e depois contraiu septicemia, uma infecção generalizada.

Deixou escrita num pedaço de papel a seguinte frase, em referência a um trecho do Evangelho segundo João: “Não há paixão maior do que dar a vida pelos amigos”.

Numa foi o último a morrer na serra e sua morte levou Roberto Canessa, Fernando Parrado e Antonio Vizintín a partir no dia seguinte para o Chile em procura de salvação.

Das 45 pessoas que viajaram, 16 sobreviveram. Pancho Franzino foi um deles.

Gastón Costemalle foi ejetado do avião depois a rabo se soltar no impacto com a serra. Julio Martínez Lamas e Arturo Nogueira também morreram. José Luis Inciarte sobreviveu.

Em homenagem à sua morte, Alfredo Cibils propôs renomear o Loyola Fútbol Club uma vez que Numa Turcatti, que desde portanto leva seu nome.

Folha

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