Dicas para manter o pau duro e a vagina umedecida. Dificuldade na penetração. A mulher goza mesmo na penetração? Uma questão escolástica para as mentes ilustradas do século 21. O século ridículo.
Aos poucos, os jornais viram revista Resistência. E não para aí. Quem traiu quem. Quem bate em quem. Quem processou quem por “ghosting” —um desses termos idiotas da voga para a turba infantil das redes— na Novidade Zelândia? Aos poucos, o progresso vai mostrando sua boca desdentada e sua deformação facial. E a dita perceptibilidade pública torna-se “inteligentinha”, achando-se avançada.
A preocupação pelos gêneros também é secção do rumor universal inútil. No fundo, trata-se de sexo. Quem quer dar, quem quer manducar, quem quer dar e manducar, quem é indiferente a dar ou manducar. Tudo sexo. Freud ri feliz vendo onde foi parar a velha histerismo.
O mundo se torna uma grande rede de mexericos. Daqui a pouco, ouviremos as estrelas do universo fofocando. Uma novidade forma de apocalipse infame. A luta entre Deus e o Diabo sempre foi mais digna.
Olhemos de longe essa nebulosa de seres risíveis em propagação lesma. O que aconteceu com essa espécie? “Minha hipótese”: somos uma espécie precária psiquicamente —além de fisiologicamente infeliz—, e a cultura moderna racionalista, tecnológica e, portanto, de uma pobreza místico selvagem, é um surto nevrótico que acometeu a psique de uma espécie que permanece, em muito, intoxicada ou saturada —no sentido químico do termo— por elementos religiosos primitivos e pura e simples irracionalidade.
Nesse sentido, sob pressão do surto, nos afogamos no caldo dessa patologia que se assenta na história da própria evolução —ou involução— da psique. O paradigma hermenêutico —interpretativo— da nossa estação deveria ser o de uma patologia histórica insuperável em graduação e não o de um progresso em curso. Quanto mais emitimos ruídos —nós que evoluímos num mundo habitado em toda secção pelo silêncio— mais doentes ficamos.
O ridículo descrito na exórdio desta pilastra é exclusivamente um dos fenômenos de uma espécie pré-histórica que vive no exílio do seu habitat procedente psíquico, a saber, o mundo dos mitos, dos delírios extáticos, dos sonhos com os mortos que falam, das deusas e dos deuses que gozam e criam o ser por meio de seus óvulos e sêmen, uma vez que é geral ver nos relatos míticos politeístas.
Ou da procura da perdão, de um paixão divino que não existe, mas que nos conforta, da luta contra o mal, que não derrotamos nunca porque é, simplesmente, mais possante do que tudo, e o mundo é sustentado nele.
A razão não é uma mera estranha a nós —a razão tem suas razões que a própria razão desconhece, não só o coração, uma vez que dizia Pascal no século 17—, mas uma neófita, uma recém-chegada, que zero sabe sobre nós e sobre si mesma, afogada num inconsciente que transcende o sujeito e o mergulha num magma primitivo escuro e terrificante, uma vez que num profundeza de águas profundas.
Antes de pensarmos, já percebíamos. Antes da consciência, já pensávamos e percebíamos, mas, de certa forma, percebíamos esse enredado de ideias e imagens —o pensamento em si— uma vez que uma visitação do mundo exterior e divino. Os deuses falavam dentro da nossa consciência, não era ela que pensava nos deuses e em tudo a sua volta. Só os ingênuos pensam que somos o sujeito do “nosso” pensamento, quando, na verdade, somos seu objeto, seu refém.
Quem conhece conceitos uma vez que “arquétipo” ou “inconsciente coletivo” do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), instituidor da psicologia analítica, percebe a semelhança entre “minha hipótese” e sua antropologia filosófica ou teoria da psique. Uma vez que disse Jung, “a humanidade zero pode contra a humanidade”. O que decorre de um raciocínio uma vez que esse?
Antes de tudo, uma atitude radicalmente oposta ao “páthos” contemporâneo: a mais aterradora humildade. Quando dizemos alguma coisa uma vez que “a humanidade deveria isso” ou “a humanidade conseguirá chegar àquilo”, não temos a mínima teoria do que estamos a manifestar. Não temos nenhum controle sobre a humanidade, ela vaga sobre o mundo uma vez que uma sonâmbula em procura de uma janela.
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