'a Viúva Clicquot' Encena Dramas Para Além Do Chamapanhe

‘A Viúva Clicquot’ encena dramas para além do chamapanhe – 21/08/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

O filme “A Viúva Clicquot: A Mulher que Formou um Poderio”, que estreia nesta quinta-feira (22) nos cinemas, conta a história de Barbe-Nicole Clicquot-Ponsardin. Mais conhecida pela maison que leva o seu nome, Veuve Clicquot, Barbe-Nicole foi peça fundamental na geração do estilo dos champanhes uma vez que os conhecemos hoje. O vinho, porém, é exclusivamente tecido de fundo para o drama vivido pela jovem viúva, interpretada pela talentosa Haley Bennett, no filme do diretor Thomas Napper.

Um belíssimo tecido de fundo, é verdade. Filmado na maior secção no Château Beru, um produtor de vinhos biodinâmicos de Chablis, região muito próxima de Champagne, o longa tem várias cenas externas. A retrato de Caroline Champetier usa e abusa da formosura dos vinhedos. Nas cenas internas, o figurino e a cenografia também impecáveis mantêm o padrão estético.

A história segue duas narrativas paralelas: uma retrata o período em que Barbe-Nicole viveu com o marido, François Clicquot —Tom Sturridge—, e outra, os acontecimentos depois a morte de François. O filme não tem patrocínio da LVMH, grupo ao qual a Veuve Clicquot pertence hoje. Não tem o compromisso de ser uma biografia.

Apesar de se expressar fundamentado no livro “A Viúva Clicquot”, de Tilar J. Mazzeo, publicado no Brasil pela Rocco, o filme trata exclusivamente de um pequeno período da vida de Barbe-Nicole e traz uma versão romanceada da história, que se passa na viradela do século 18 para o 19.

O roteiro, por exemplo, cria uma versão para a morte de François que não é comprovada. Mostra uma paixão entre Barbe-Nicole e o marido que tampouco se baseia em documentos históricos. E esmiúça o sofrimento decorrente da morte prematura do jovem monsieur Clicquot. Sentimentos universais.

Nesse romance, fatos importantes para a biografia de Barbe-Nicole passam quase despercebidos por aqueles que não são aficionados por vinho. A viúva foi responsável, por exemplo, pelo desenvolvimento da técnica conhecida uma vez que “remuage”. Isso aparece, mas não é explicado de forma didática para o testemunha leigo no mundo dos vinhos.

Os champanhes, uma vez que a maioria dos espumantes, passam por duas fermentações. Na primeira, o mosto da uva é transformado em vinho e, na segunda, há a conquista do gás carbônico, responsável tanto pela “perlage” (borbulhas) quanto pela espuma.

A segunda levedação, em Champagne, acontece na garrafa lacrada. Ao ser fechado, além do vinho base, o recipiente recebe também uma mistura de leveduras e açúcar, que provocam uma novidade levedação. Antes da viúva Clicquot, as fezes dessas leveduras permaneciam nas garrafas que iam para o mercado, o que resultava num líquido mais turvo, uma vez que os espumantes sur lie, hoje tão na tendência.

Esse líquido turvo, com aromas e sensação de boca menos limpos, estava longe de ser um resultado de luxo. Na estação, por sinal, acreditava-se que a vocação de Champagne era produzir vinhos tintos.

Até que Barbe-Nicole desenvolveu essa técnica de “remuage”: acabada a segunda levedação, as garrafas são inclinadas, com o gargalo para reles, de modo que as fezes escorreguem lentamente para a boca. Por término, o gargalo é enregelado, a tampa removida, as fezes saem, se completa o líquido da garrafa, fecha com a rolha e a gaiola e, voilá, o champanhe está pronto. Um líquido cristalino com bolhas finas, que virou sinônimo de luxo.

Paralelamente, às duas narrativas principais, corre uma terceira, de fundo, que trata da história da França e das guerras napoleônicas. Essas guerras certamente não ajudavam nos negócios. Barbe-Nicole ficou viúva em 1805, aos 27 anos, herdando os vinhedos que o marido administrava. Poucos anos depois, Napoleão tentou invadir a Rússia, um dos principais mercados consumidores de vinho na estação.

O filme fala muito sobre a luta dessa mulher por saudação. Contra a vontade do sogro, que queria vender os vinhedos para um vizinho de sobrenome Möet, quando perdeu o marido, a jovem viúva decidiu tocar a vinícola. Encontrou resistência por todos os lados. Ainda assim, foi bem-sucedida. Isso não é spoiler. Essa secção da história é muito fácil de prever.

O filme vale a pena, mas tem um final meio repentino, com muita coisa não resolvida, que deixa uma sensação de “continua na próxima temporada”.

Folha

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