Acervo Do Antigo Teatro Bela Vista é Liberado Ao Público

Acervo do antigo Teatro Bela Vista é liberado ao público – 21/11/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Boa segmento do legado teatral brasílio ainda está registrada em folhas de papel —algumas perdidas, outras conservadas com zelo.

Recentemente, o pilha do Teatro Bela Vista, atual Teatro Sérgio Cardoso, foi digitalizado e está disponível ao público no banco de dados no Amabile, o Registo da Memória Artística Brasileira, da Unifesp. O pilha inclui fotografias, textos dramáticos, programas de peças, registros de ensaios, croquis de figurinos e cenários.

Foi nesse cenário do Bela Vista que o músico “Hair” foi apresentado em São Paulo, ecoando as vozes da contracultura em plena ditadura militar, assim porquê a peça “Vestido de Prometida”, de Nelson Rodrigues, em 1958. O Montão Nydia Licia e Sérgio Cardoso, preservado por Sylvia Cardoso Leão, filha dos atores, tem mais de 1.200 itens.

Sérgio Cardoso, um dos mais renomados atores brasileiros, fundou o Teatro Bela Vista com Nydia Licia, sua esposa, em São Paulo. Os dois se conheceram em 1949, durante os ensaios da peça “Entre Quatro Paredes”, do TBC, o Teatro Brasílio de Comédia.

“Eles foram arrojados ao buscar expressar suas visões pessoais. Sérgio tinha uma teoria clara sobre o que queria para o teatro”, afirma Elizabeth Ribeiro Azevedo, professora da USP, a Universidade de São Paulo. “O Teatro Bela Vista teve um papel crucial na modernização do teatro brasílio, com uma proposta de valorizar autores nacionais.”

A digitalização do pilha foi iniciativa de Sylvia, com pedestal da Grifo Projetos Históricos e Culturais e financiamento do ProAC, o Programa de Ação Cultural.

Sylvia trabalhou ao lado dos historiadores Silvana Goulart e Pedro Roble para organizar e registar os materiais. “Hoje, Sérgio Cardoso precisa ser reapresentado. Ele foi um ator imenso, um verdadeiro tradutor shakespeariano”, afirma Silvana, diretora da Grifo.

O processo de digitalização levou murado de um ano e envolveu saneamento, conservação e catalogação dos itens. Sylvia cuidou do pilha que estava na lar de Nydia, que faleceu em 2015.

Levaram qualquer tempo até que Sylvia e seu rebento revisassem os documentos, carregados de memórias. “Fiquei impressionada com a quantidade de coisas que encontramos e com o zelo que ela teve para preservar tudo, desde textos montados no TBC, no Bela Vista, na TV Cultura, até fitas de áudio das peças.”, comenta Sylvia.

O Teatro Sérgio Cardoso, localizado no Bela Vista, ocupa o mesmo endereço desde 1956, quando foi inaugurado porquê Teatro Bela Vista. A peça de estreia foi “Hamlet”, com Sérgio Cardoso no papel principal.

Naquela quadra, era vasqueiro atores construírem seu próprio espaço cênico. O parelha deixou a Companhia Dramática Pátrio, no Rio de Janeiro, para formar a própria companhia e realizar seu sonho de ter um teatro próprio. Sylvia, que tinha somente quatro anos na inauguração, cresceu nesse envolvente.

Durante uma marcha, Sérgio e Nydia avistaram uma construção abandonada, o macróbio Cine Teatro Esperia, e decidiram transformá-lo em um teatro. Em seguida negociações, alugaram o espaço e abriram a Empresa Bela Vista para a reforma. Em dois anos, inauguraram um teatro moderno e espaçoso numa São Paulo carente de espaços culturais.

Entre os registros do pilha, destaca-se a montagem de “Quarto de Lixo”, adaptação de Edy Lima do livro de Carolina de Jesus, com Ruth de Souza no papel principal. Carolina de Jesus, que assistiu à peça, comentou: “Fiquei emocionada ao ver a imitação leal da minha vida na favela.” O programa da peça ressaltava a valor da denúncia social presente no livro.

O pilha também inclui programas de peças, textos com anotações de Sérgio Cardoso e croquis de figurinos. “Temos, pelo menos, um documento de cada uma das 64 peças montadas no Teatro Bela Vista”, explica Pedro Roble, da Grifo.

Em seguida o divórcio, em 1960, Sérgio deixou São Paulo, e Nydia assumiu a gestão do teatro. Ela enfrentou resistência para permanecer primeiro do espaço, mas contou com o pedestal da classe teatral. Nydia criou a Companhia Nydia Licia, que realizou produções próprias e coproduções. Mais tarde, dedicou-se à escrita, publicando biografias de artistas e ganhando o Prêmio Jabuti pelo livro sobre Raul Cortez.

Apesar das dificuldades, Nydia conseguiu manter o teatro até o término do contrato de 15 anos, mas, ao deixar o espaço, os proprietários consideraram desmantelar o prédio para erigir um mercado. Nydia mobilizou-se para impedir a demolição, e, com pedestal do Juízo de Cultura, o governo de São Paulo adquiriu o imóvel, transformando-o em patrimônio público.

Quando o novo teatro foi inaugurado em 1980, já com o nome de Sérgio Cardoso, ele havia falecido. Nydia sugeriu a homenagem ao ex-marido, reconhecendo a valor dele para a cena teatral brasileira. “Mesmo separados, eles mantinham uma relação muito privativo. Havia um entendimento entre eles”, relembra Sylvia.

Em 2020, no natalício de 40 anos do teatro, a sala principal foi renomeada porquê Sala Nydia Licia, reconhecendo a luta de Nydia pela preservação do espaço. Agora, Sylvia faz um apelo para que outras memórias culturais sejam preservadas, destacando a valor de manter registros físicos.

“Talvez a geração dos meus pais e as poucas seguintes sejam as últimas a ter um pouco físico para mostrar, porquê textos escritos e rabiscados. Peço a quem possui acervos que os preserve, pois serão os últimos que teremos em formato físico.”

Folha

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