Aos 7 anos de idade, Neymar perdeu o pai. Um varão preto, chamado Kleber, que morreu com um tiro nas costas. Segundo a família, o homicida foi um policial militar. A morte não foi um evento solitário, mas uma das muitas ocorridas durante a vaga de violência que tomou conta da cidade de Altamira, no Pará, depois da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu.
Nos dois anos seguintes, a tia de Neymar, Daniela Silva, percebeu que a vida do sobrinho era marcada tanto pela perda da relação do pai, uma vez que da conexão com as raízes amazônicas. Neymar, uma vez que tantos outros de sua geração, cresceu a mais de 10 quilômetros (km) de intervalo do Xingu. Um grupo de crianças e adolescentes criados em bairros populares urbanos, com infraestrutura precária, que surgiram depois do processo de expulsão das terras do Xingu.
“As crianças depois da minha geração não tiveram o recta de vivenciar o rio, o igarapé, uma comunidade cercada por curandeiros, rezadeiras, indígenas, ribeirinhos. O Neymar, dissemelhante da minha geração, não teve recta de conviver com uma puerícia na Amazônia. Eu sou de uma geração que tive esse privilégio. Cresci no meio dessa volubilidade”, disse a geógrafa, ativista socioambiental e liderança lugar Daniela Silva, durante o TEDxAmazônia 2024, evento realizado entre o final de novembro e o início de dezembro, em Manaus.
Foi a partir dessas reflexões que nasceu o Projeto Aldeias em 2019. Resistir aos processos de violência e de ruptura afetiva com a Amazônia se tornou um dos nortes de Daniela. Por meio de um conjunto de ações educacionais, ela ajuda crianças e adolescentes a reatar laços naturais com a floresta e laços culturais com a cultura ribeirinha amazônica. Existe a preocupação em trabalhar uma identidade amazônida que valorize indivíduos e territórios.
“A gente só nutriz aquilo que conhece. E o Projeto Aldeias nasce da história desse menino, com o objetivo de retomada das nossas conexões que foram rompidas em seguida o processo de deslocamento forçado pela construção da hidrelétrica de ‘Belo Monstro’ no nosso Rio Xingu. O Aldeias é uma conclamação para todos os setores da sociedade colocarem as nossas crianças no núcleo, para pensarem junto com os adultos o nosso horizonte. É um projeto que se baseia naquele famoso provérbio africano que diz ser preciso uma lugarejo inteira para educar uma rapaz”, explica Daniela.
Uma das principais iniciativas do projeto é o Escola da Rua, que promove a ensino ambiental, o recta e a cidadania de crianças e adolescentes periféricos de Altamira. São atividades criativas, culturais, artísticas e socioambientais, uma vez que visitas às áreas naturais da região. Em generalidade, as ações do Projeto Aldeias desenvolvem trabalhos conjuntos e participativos, discutem políticas públicas, infâncias, juventudes, e tentam ampliar vozes em resguardo do meio envolvente e da Amazônia. O fortalecimento comunitário é visto uma vez que o melhor caminho para resguardo da floresta e dos povos tradicionais. Assim dizem os versos escritos pela Daniela:
“Dá até nó na gorgomilos de relatar essa história./ Cá na Amazônia, a violência tem etnia, tem cor, tem gênero./ Morre ‘noiz’: pretos, indígenas, seringueiros, beiradeiros./ Querem nos silenciar, para nossas riquezas saquear./ Mas nós não vamos deixar!/ É tempo de nos conectar!/ E juntos, com fé, união e ação, lutar!”.
Menear o incêndio
O exemplo de Daniela mostra que ensino e conhecimento vão muito além de disciplinas formais da escola. Incluem também habilidades, técnicas e saberes úteis para uma vida equilibrada com a natureza. Por essa razão, não seria inexacto considerar que os brigadistas de Alter do Soalho, no Pará, são educadores. O grupo foi criado em 2018, com seis pessoas, para dar uma primeira resposta organizada aos incêndios florestais da região e ajudar a comunidade lugar. A formação incluiu cursos com a Resguardo Social e o Corpo de Bombeiros.
Além do trabalho direto de combate aos incêndios, o grupo ajuda na formação de outros brigadistas e na conscientização da população sobre o manejo correto e legítimo do incêndio. O que é harmónico com uma das principais missões da brigada: “Implementar e aprimorar processos contínuos de formação técnica, treinamento, ensino ambiental, engajamento comunitário”.
“Uma coisa muito didática para as pessoas entenderem. Se uma empresa tem um prédio grande, é obrigada a ter uma brigada para dar o primeiro combate ao incêndio predial. As brigadas que estão nos territórios rurais têm as melhores condições para dar a primeira resposta no combate ao incêndio florestal, porque o governo nunca vai ter braço suficiente. É muito custoso você transmitir alguém de Brasília, por exemplo. Ideal sempre que tenha uma brigada em todas as regiões”, diz Daniel Gutierrez, brigadista voluntário.
“Todo incêndio florestal pode ser extinto com o pé no início, quando ainda é pequeno. E as brigadas são as melhores ferramentas para impedir que esses fogos virem grandes incêndios”, acrescenta
Apesar do trabalho majoritariamente voluntário, os brigadistas tiveram de mourejar com opositores poderosos. Em novembro de 2019, quatro deles, incluindo Gutierrez, chegaram a ser presos, responsabilizados pelo incêndio que atingiu a Superfície de Proteção Ambiental (APA) Alter do Soalho dois meses antes. Segundo a Polícia Social, eles teriam cometido o transgressão para recepcionar doações para a brigada. Passaram três dias na prisão. O incidente incluiu acusações do presidente da República à estação, Jair Bolsonaro, e do portanto ministro do Meio Envolvente, Ricardo Salles. Até o ator norte-americano Leonardo Di Caprio foi citado pelo governo uma vez que financiador dos incêndios. Por falta de provas, o sindicância foi arquivado pela Polícia Federalista e o processo acabou sendo extinto na Justiça.
“ONGs são demonizadas. E esses ataques da extrema-direita vêm porque eles não querem que a gente se organize e fique cobrando ações do poder público. E não entra na cabeça de muita gente que eu gaste o meu tempo e a minha saúde em um trabalho voluntário, sem receber zero para isso. Apesar de tudo, queremos crescer uma vez que instituição e, em 2025, planejamos ter um corpo de funcionários pagos e inteiramente dedicados às atividades da brigada”, projeta Daniel Gutierrez.
Na luta pela preservação da Floresta Amazônica, os brigadistas de Alter do Soalho tentam conscientizar a população para o uso correto do incêndio e esperam por uma regulação melhor do trabalho pelo poder público. Um primeiro passo foi oferecido em julho de 2024, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Política Pátrio de Manejo do Queimada.
“O incêndio é uma utensílio avoengo nas comunidades da Amazônia. Pessoas queimam, por exemplo, uma superfície pequena para plantar mandioca, que ajuda na subsistência lugar. É o que a gente labareda de incêndio bom, com aceiro em volta, para as chamas não se alastrarem. Mas ocorrem irregularidades quando, por exemplo, a prefeitura não disponibiliza recolhimento de lixo, as pessoas queimam tudo e perdem o controle das chamas. A gente precisa de políticas públicas, que os governos entendam a novidade veras climática, com eventos extremos mais frequentes. E que ofereçam serviços adequados para a população”, conclui o brigadista.
Ensino ribeirinha
Impactados diretamente por esses eventos extremos, uma vez que secas e inundações, povos ribeirinhos procuram mourejar com a novidade veras e preparar respostas para proteger o meio envolvente. Na comunidade de Tumbira, município de Iranduba, Amazonas, esse aprendizagem conta com a ajuda do Núcleo de Inovação e Ensino para o Desenvolvimento Sustentável (Nieds), da Instalação Amazônia Sustentável (FAS), uma organização sem fins lucrativos. Alberta Pacheco é a gestora do núcleo e coordena projetos educativos para que as pessoas sejam protagonistas do desenvolvimento social, econômico e ambiental da Amazônia.
Ela explica que crianças, jovens e adultos que estão cursando o ensino fundamental e médio participam dos projetos complementares no contraturno das aulas. Pelos menos 380 pessoas já foram impactadas pelas ações desde 2010. A conservação da floresta é um dos pilares dessas atividades, que entendem a Amazônia uma vez que uma grande sala de lição, onde se desenvolvem justiça, a justiça, o saudação, a moral e liberdade das pessoas que vivem na floresta.
“Dentro dos nossos projetos complementares, trabalhamos, por exemplo, com o Repórter da Floresta. Temos oficinas de rádio, vídeo e produção de texto para os estudantes desenvolverem práticas de educomunicação e levarem perspectivas da floresta para o mundo por meio de redes sociais e do rádio. Há outro projeto que trabalha práticas agroecológicas, a questão de produção das hortaliças, da geração de aves. A escola está dentro de uma unidade de conservação, portanto a gente procura o ano inteiro fazer palestras e promover debates de zelo com o meio envolvente”, explica Alberta Pacheco. “Quem vive dentro da floresta sofre impactos diariamente das mudanças climáticas. Nossos alunos são engajados e representam a nossa escola em congressos e eventos que tratam desse tema.”
Conhecimento indígena
Originário de Minas Gerais, Maria do Carmo Barcelos se mudou para o interno de Rondônia em 1976, no auge da ditadura militar e da teoria de colonização dos territórios amazônicos. Ela tinha 26 anos de idade e uma vontade imensa de saber melhor a vida dos indígenas Paiter Suruí. Educadora e licenciada em geografia, Maria começou a atuar uma vez que professora, mas o trabalho com os indígenas se desenvolveu em outras frentes com o passar do tempo.
A vida se mesclou com a dos Paiter Suruí a ponto de adotar uma vez que filha uma moçoila da etnia, que havia perdido a mãe com dez dias de vida e tinha a saúde frágil. Hoje, a integração é tamanha que ela afirma ser vista uma vez que uma “igual” onde vive, no município de Cacoal. Quem quiser encontrá-la por lá precisa perguntar por Maria dos Índios, uma vez que é conhecida há décadas. O trabalho em prol da comunidade é reconhecido e valorizado, uma vez que os projetos que envolvem ensino de crianças, jovens e professores indígenas. Um dos focos atuais é o de discutir governança territorial e mudanças climáticas.
“Desenvolvemos uma metodologia que privilegia interdisciplinaridade e interculturalidade. Produzimos um livro para cada povo, porque cada um deles tem a própria história. Só não produzimos nas línguas originais ainda, porque nenhuma delas está esquematizada. O português é a língua que eles têm usado mais”, explica a indigenista. “O objetivo é que a rede de ensino escolar indígena possa inserir esses materiais na grade curricular básica do ensino fundamental. E isso já vem acontecendo.”
O trabalho foi feito até agora em oito territórios diferentes e, entre os materiais oferecidos, estão livros sobre mudanças climáticas escritos mormente para cada um desses povos. Há um diálogo entre os saberes tradicionais e os saberes científicos, adaptados para cada cosmologia dissemelhante. Maria conta que uma das partes do livro, por exemplo, fala do “surgimento das coisas”, para explicar uma vez que determinado povo indígena explica a origem do Sol, da Lua, dos seres humanos.
“A partir daí, falamos da história das mudanças climáticas, buscando os sinais da natureza que os antigos interpretavam. Conhecimento que muitos deles ainda têm, mas outros vão esquecendo. Por exemplo, quando as cigarras estão cantando muito, ou quando o sapinho coaxa muito, é um sinal de que a chuva vai chegar. A gente começa aí e procura o entendimento mormente que os mais velhos têm sobre o matéria. O material é muito interativo e são as crianças que vão erigir com os mais velhos as respostas para as mudanças climáticas. Vemos ali o que eles falam de concreto, uma vez que os impactos na pesca, quando a chuva se aquece demais e provoca mortandade dos peixes, ou dos periquitos que passaram a trovar de madrugada. O ciclo das plantações, o que florescia em determinada estação, e agora está tudo bagunçado, sem muita previsibilidade”, diz Maria.
Cônscio de que as mudanças climáticas são um repto de longo prazo, ela entende que o investimento no conhecimento dos mais jovens é importante para que as próximas gerações assumam a liderança na resguardo da Amazônia. “Um dos objetivos é que eles possam desenvolver um tino crítico e elaborar respostas para esses impactos climáticos. Essas crianças e adolescentes daqui a pouco tempo vão ser os gestores dos territórios em que vivem e os tomadores de decisão. E as pressões continuam sendo muitas. Mesmo que o movimento indígena esteja maravilhosamente assumindo seu protagonismo, ganhando espaço no mundo, os problemas vão continuar, e as soluções têm que ser encontradas”, ressalta Maria dos Índios.
Série sobre a Amazônia
A reportagem faz segmento da série Trilhas Amazônicas, que abre o ano da 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP30), a ser realizada em Belém, em novembro deste ano. Nas matérias publicadas na Dependência Brasil, povos da Amazônia e aqueles diretamente engajados na resguardo da floresta discutem os impactos das mudanças climáticas e respostas para mourejar com elas.
*A equipe viajou a invitação da CCR, patrocinadora do TEDxAmazônia 2024.