Adaptação Das Cidades à Crise Climática Exige Mudança De Paradigma

Adaptação das cidades à crise climática exige mudança de paradigma

Brasil

A reconstrução das cidades gaúchas e a adaptação dos territórios urbanos à crise climática exigem uma mudança de paradigma, com estratégias de mitigação de impactos climáticos em confluência com a preservação dos recursos naturais e modelos baseados em soluções da natureza. A avaliação é de especialistas ouvidos pela Escritório Brasil.

Coordenador de Justiça Climática do Greenpeace Brasil, Igor Travassos.  Foto: Fael Miranda/ASCOM Talíria Petrone
Coordenador de Justiça Climática do Greenpeace Brasil, Igor Travassos.  Foto: Fael Miranda/ASCOM Talíria Petrone

Coordenador de Justiça Climática do Greenpeace Brasil, Igor Travassos – Fael Miranda/ASCOM Talíria Petrone

O coordenador de Justiça Climática do Greenpeace Brasil, Igor Travassos, reforça que é preciso se harmonizar a essa verdade de ocorrência de eventos climáticos extremos. “Não adianta a gente simplesmente reconstruir as coisas do mesmo jeito, a gente já entendeu que as estruturas vão ser impactadas, onde chega o nível do rio”, diz. Ele defende um processo participativo de reconstrução das cidades afetadas pelas enchentes no Sul do país, junto à população dos territórios mais impactados e a pesquisadores.

Ou por outra, Travassos avalia que a prevenção e a resposta a esses eventos têm que ser política prioritária em todas as esferas de governo. “Porque se harmonizar a essa verdade é prometer, sobretudo, o recta constitucional à vida das pessoas. Tem pessoas morrendo diante de eventos climáticos extremos, a gente precisa prometer políticas públicas que assegurem o recta à vida dessas pessoas”, diz.

Entre as ações, estão o incentivo à cultura de prevenção e planos de adaptação às mudanças climáticas e de gestão de risco e sinistro. No entanto, ele enfatiza que os planos precisam transpor do papel.

“O que a gente precisa é que exista a vontade política e o orçamento público talhado para a efetivação desse projecto. Antes de tudo, é colocar porquê prioridade. Prevenção e adaptação às mudanças climáticas e resposta a eventos climáticos extremos têm que ser política prioritária, tanto em orçamento, porquê prioridade de ações e medidas do poder público, seja ele municipal, estadual ou federalista”, destaca o coordenador do Greenpeace Brasil.

“A gente vem num contexto, nas últimas décadas, de intensificação desses eventos climáticos extremos. No ano pretérito, por exemplo, no Rio Grande do Sul, as comportas do Guaíba foram acionadas mais de uma vez, a gente lidou com eventos de grande proporção que ocasionaram mortes. Já tinha sinais de que precisava de um investimento pesado e de que isso fosse posto porquê prioridade”, aponta.

Com base nos dados da Lei Orçamentária Anual (LOA) deste ano, o Greenpeace Brasil identificou que somente R$ 7,6 milhões da LOA do Rio Grande do Sul, de um totalidade de mais de R$ 80 bilhões foram destinados para ações da Resguardo Social. O montante equivale a exclusivamente 0,009% da receita totalidade do estado, o que é “escandaloso”, na avaliação de Travassos. Considerando exclusivamente as ações da Resguardo Social relacionadas à prevenção, resposta, emergência e reconstrução, o valor é ainda menor, murado de R$ 5 milhões.

Ações locais

Apesar da urgência de um projecto pátrio de adaptação às mudanças climáticas, o profissional ressalta que é “importante entender que adaptação não é receita de bolo” e que cada território vai mourejar de uma forma dissemelhante com a questão. Isso porque cada região tem diferenças geológicas, hidrológicas e sociais. Ele aponta a urgência de estudo e mapeamento de risco dos territórios para que, a partir daí, seja feita uma adaptação.

Em relação à cultura de prevenção, ele ressalta que deve possuir um planejamento de evacuação, as pessoas precisam saber em que sítio se homiziar e o que fazer com animais de estimação, por exemplo, diante de tais eventos. “Não adianta a gente instalar sirene se a gente não souber o que fazer quando ela disparar.” Sobre estruturas nas cidades, ele cita obras de contenção de encostas onde há risco de deslizamento e soluções baseadas na natureza.

“Por muito tempo, a gente fez uma cultura de impermeabilizar tudo, de uma estrutura cinza na cidade. A gente precisa urgentemente produzir outras formas de escoamento e de absorvência da chuva pelo solo. Inclusive, a própria restauração das áreas degradadas é também para isso, para estimular que o solo e a natureza cumpram seu papel de absorvência da chuva”, diz.

Paulo Pellegrino, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Foto:  Leonor Calasans/IEA-USP
Paulo Pellegrino, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. Foto:  Leonor Calasans/IEA-USP

Paulo Pellegrino, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP – Leonor Calasans/IEA-USP

Estratégias de drenagem

O professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo Paulo Pellegrino lembra que o protótipo atual de drenagem nas cidades tende a se livrar das águas. “Tem uma sequência de superfícies impermeáveis que vai levando a chuva cada vez mais rapidamente, em maior volume, ladeira inferior. Quer expor, rumo ao rio, rumo aos principais canais, às planícies de aluvião, nos pontos onde as águas se acumulam lá embaixo”, explica. No contexto da crise climática, ele avalia que tais modelos têm que ser revistos.

“Se nós continuarmos usando as mesmas ideias antigas de meio das águas, de tentar moderar as águas e fazer estruturas de cimento, concreto e alvenaria para se proteger das águas, vai ser uma perda de tempo. Vai ser muito quantia jogado fora se tentarmos reconstruir a mesma infraestrutura que estava antes lá”, diz o professor sobre a reconstrução no Sul.

Para o urbanista, as cidades precisam perfurar espaços para as águas. “Nós estamos presenciando fenômenos extremos, de muita chuva caindo em pouco tempo, em uma frequência muito maior do que era previsto. Quando chega a esse ponto, você vai ter que forçosamente mudar o seu paradigma”, diz. Para mitigação dos impactos de chuvas intensas, são necessárias estratégias para reter a chuva e reduzir a velocidade desse fluxo, evitando que seja direcionada uma grande quantidade de chuva para um mesmo lugar.

“Tem que riscar, por exemplo, nessas áreas que são factíveis de se receber chuva, áreas para plantio de culturas que recebam inundações periódicas, parques alagáveis, áreas de recuperação ambiental, ou outras estruturas de usos que podem ser amigáveis com as águas, receber e restituir as águas, e até tratá-las nesse caminho”, aponta o urbanista, que também defende a eficiência de modelos baseados nas soluções da natureza.

Pellegrino cita exemplos de outros países, porquê cidades na China que estão tornando seus solos mais permeáveis, numa solução que ficou conhecida porquê cidades-esponja. “São grandes espaços que estão sendo abertos, para que recebam e absorvam as águas.”

Ele acrescenta que a cidade de Bangkok, capital da Tailândia, também está sofrendo muito com o aumento do nível das águas. Diante dessa verdade, em espaços que eram totalmente impermeáveis, estão sendo criados grandes parques alagáveis, relata o professor.

Além de garantirem espaços permeáveis para as águas, as superfícies de chuva, as áreas úmidas e com vegetação podem ser utilizadas para lazer quando as águas baixam. Elas se configuram ainda porquê ilhas de frescor na paisagem urbana, um sistema de condicionamento climatológico. “O sistema tradicional que eliminava a chuva, que enterrava em galerias subterrâneas e canalizava córregos em concreto, aumenta a temperatura, deixando a cidade mais suscetível a ondas de calor”, diz.

Fonte EBC

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