Admiro país que julga golpistas, diz marcelo rubens paiva

Admiro país que julga golpistas, diz Marcelo Rubens Paiva – 28/03/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Marcelo Rubens Paiva gostaria de estar na primeira fileira do Supremo Tribunal Federalista, ao lado das famílias de Stuart Angel e Vladimir Herzog, vítimas da ditadura porquê seu pai, Rubens, durante o julgamento dos acusados por tentativa de golpe de Estado em 2022 e 2023.

“Uma pena que minha família não pôde ir, mas ela certamente se sentiu muito representada pelas famílias dessas duas grandes figuras da nossa história”, afirmou o jornalista. “Minha sensação é de muito orgulho e assombro por ver que o país tem coragem para enfrentar um traumatismo grande e para julgar os golpistas”,

Marcelo não pôde ir porque está na Europa, cumprindo uma agenda de compromissos que ainda repercutem o sucesso de “Ainda Estou Cá”. Nesta sexta-feira, o responsável emocionou e arrancou risos e aplausos, falando do livro e do filme nele inspirado, que trouxe o primeiro Oscar de melhor filme internacional do Brasil, para um auditório lotado por 350 pessoas na universidade Sorbonne-Nouvelle, em Paris.

O evento faz secção do festival Printemps Brésilien, ou primavera brasileira, organizado pelo professor Leonardo Tonus, com o suporte do serviço cultural da universidade. O festival terá eventos com diversas personalidades da cultura brasileira ao longo de 2025, eleito porquê o ano do Brasil na França.

Alternando português e galicismo, Marcelo Rubens Paiva descreveu o processo de geração de “Ainda Estou Cá”, ao mesmo tempo que explicava à jovem plateia francesa o contexto político brasiliano da estação. Durante a palestra, foram lidos textos do responsável e de sua mãe, Eunice Paiva. Também estava presente outra filha de Rubens Paiva, Ana Lúcia, a Nalu, que mora em Paris há três décadas e foi muito aplaudida.

Marcelo contou ter testemunhado a “Ainda Estou Cá” pela segunda vez dez dias detrás, no Brasil, com os colegas de escola de seus filhos —a primeira foi no Festival de Veneza, onde o filme ganhou o prêmio de melhor roteiro. “Crianças de sete a 11 anos de idade. Que adoraram o filme, acharam muito muito produzido”, disse, fazendo a plateia rir.

Vendo o filme de novo, Marcelo contou que lhe chamou a atenção a cena em que sua mana Vera, vivida por Valentina Herszage, chega de Londres, indaga a reverência da prisão de outra mana, Eliana, e não obtém resposta. “Está relacionado a um pouco que minha terapeuta me disse: ‘puxa, sua família não falava do matéria?’ E de vestimenta minha família não falava muito sobre esse matéria. Principalmente com a minha mãe”, afirmou o jornalista.

Um dos momentos mais aplaudidos foi quando Marcelo descreveu o amplexo que sua mãe deu em um militar, em uma cerimônia de homenagem a Rubens Paiva no Palácio do Planalto, em 1996. “Eu perguntei: ‘mãe, que história é essa de abraçar general?’ ‘Ele estava do meu lado, eu ia fazer o quê?’ Mas é de uma sabedoria que faz muita falta hoje. É um momento Eunice Paiva. É dessa mulher que o mundo precisa.”

A história que mais causou risos foi quando Marcelo descreveu a história da transformação de “Ainda Estou Cá” em filme. Contou que estava satisfeito com o sucesso do livro, quando foi procurado por Walter Salles. “A Rede Orbe tinha me procurado para fazer uma série, e eu estava apavorado. Na estação tinha umas novelas das dez e das onze que tinham muita nudez e muito sexo. Eu tinha terror que tivesse uma cena com minha mãe e meu pai, e os tanques passando…”

Para Marcelo, o filme “ficou perfeito, porque captou tudo aquilo que precisava. Aquela meia hora de uma família feliz, de uma utopia. E de repente a intolerância arrebenta com uma família, porquê poderia sobrevir em Israel, na Ucrânia, em vários lugares do mundo. Uma vez que está acontecendo nos Estados Unidos agora.”

O responsável ainda defendeu o filme de uma sátira que lhe é feita às vezes, a de não mostrar explicitamente a tortura. “Não estávamos ali para descrever a história da ditadura brasileira. Não dava tempo para descrever. Outros filmes virão para descrever essa história. É o mesmo que você pedir que ‘A Lista de Schindler’ conte a história do nazismo. Não dá. A minha mãe não viu tortura, logo por que a gente tem que mostrar tortura?”

O livro “Ainda Estou Cá” ainda não foi lançado na França. A previsão é que a tradução francesa seja publicada em outubro pela editora Decrescenzo.

Folha

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