Qual é a chance de o responsável do processo que você enfrenta ser atropelado por dois elefantes durante um safári no Zimbábue? “Seu santo é poderoso”, disse a advogada de Adriana Degreas, ao vincular para a estilista em 2006, durante uma disputa judicial envolvendo o nome de sua marca.
Do outro lado da ação estava Gianpaolo Tarabini, cofundador da Blumarine, que, alertado por David Azulay —fundador da Blue Man— sobre o uso da frase “Blue Girls” nas criações de Degreas, decidiu reivindicar o recta restrito sobre a grife Blugirl.
Antes mesmo de o grupo italiano Blufin saber a etiqueta da brasileira, Azulay já havia processado e fechado uma loja de fábrica da designer pelo uso da termo “Blue” em sua primeira grife. “Ele disse que eu estava desviando o seu público feminino”, diz.
“Nós tínhamos estilos diferentes. Eu era admiradora do trabalho dele, não seguidora. Aqueles eram os anos de ebulição de tendência praia no cenário pátrio”, afirma Degreas. Hoje, ela é uma das principais estilistas do beachwear brasílico, que soube projetar e solidificar esse segmento no mercado de luxo internacional e que, na semana passada, lançou uma novidade coleção em parceria com a joalheira Sabine Getty.
“Ela é ousada, adora decote e sensualidade”, diz a Degreas, que viu os maiôs pretos ganharem tiras em volta do pescoço, conjuntos de cropped com longas tiras nas mangas e saias com fendas consolidarem o seu propósito de ir além da cortininha. Os padrões de animais agora ganham versão em tigre para biquínis e vestidos longos, numa frase de glamour atemporal.
Mas quando Degreas chegou, em 2001, ela tinha a intenção de fazer um contraponto do que era a estética daquele tempo. Enquanto a indústria exportava as mais diversas versões do tropicalismo, ela estava interessada em explorar uma cartela neutra e terrosa —o marrom se tornou seu grande sucesso—, além de uma modelagem maior.
E apostava em materiais incomuns —uma vez que as lycras brilhantes. “Uma vez, o Aron Rosset [da Rosset Têxtil] me procurou para proferir que os materiais com fulgor que eu estava usando não tinham solidez e não eram apropriados para chuva do mar e cloro”, diz ela. “Quem disse que a minha cliente vai submergir ou fazer castelinho na areia?”
Se a criadora já vislumbrava sua cliente vestindo suas lycras e sedas, principalmente em saídas de banho, pelas ruas, mais de duas décadas mais tarde, essa previsão se confirmou. “Naquele tempo, eu já entendia que a consumidora poderia levar essas peças para o seu dia a dia, não uma roupa para amarrotar na mala”, diz ela, que, sentada em um moca nos Jardins, no meio de São Paulo, exibe seu biquíni usado uma vez que underwear.
“Penso no noção do resultado, no comportamento e na cultura de uso. Se eu quiser vestir um maiô de veludo num sol de 40ºC, está tudo muito. O veludo não vai esquentar mais que a lycra”, afirma ela, que já imaginava essa roupa sendo usada em uma ocasião de “talvez só ingerir um Martini à margem da piscina”.
“Essa foi a base para o meu primícias: transformar o beachwear em um tanto mais do que uma simples roupa de praia”. Ou seja, trespassar do biquíni cotidiano que margem o comum. No entanto, nem todos estavam prontos para essa teoria na idade. “Até na São Paulo Fashion Week, precisei entrar em um embate com o Paulo Borges para o beachwear ser valorizado. E não secundário”.
Foi trabalhando qualidade, noção e modelagem que ela conquistou uma consumidora à deriva. “O meu duelo é trabalhar o design. Quando você pega 30 centímetros de lycra e consegue mexer com texturas e desenvolver um recurso inteligente para a silhueta, é o caminho da transformação para fazer a diferença”, observa ela, que vive em Miami, há 12 anos, e, com malotes semanais, faz a aprovação das peças produzidas em São Paulo.
A proposta elegante do seu trabalho não só chamou a atenção das consumidoras, mas também a de formadoras de opinião e grandes plataformas de distribuição, uma vez que o Tendência Operandi, que viram na marca de Degreas um revérbero do luxo e sofisticação.
Entre os nomes estava a designer de acessórios inglesa com origens brasileiras Charlotte Olympia. “Ela tinha aqueles itens que eu sempre me perguntei: ‘Quem compraria um maiô de paetês?’. O mais inusitado era ela entrar com ele na chuva para divertir com os filhos”.
Foi a partir dessa conexão que, em 2018, Olympia e Degreas lançaram uma coleção-cápsula. Para estrelar as imagens, Charlotte convidou logo a amiga joalheira Sabine Getty para vestir hot pants com emprego de frutas e conjuntos de oncinha. ”Sempre adorei a estética glamourosa e nostálgica da Degreas. Quando via fotos de suas campanhas, eu me enxergava sendo aquela mulher e vestindo suas roupas”, diz Getty.
Foi logo que a relação entre elas começou, culminando nas novas peças que chegaram às araras e plataformas digitais —uma geração feita a quatro mãos entre a brasileira e a suíço-libanesa.
“Acredito nessa teoria de inovação, de evitar que a marca envelheça e tenho vontade para isso”, conta a estilista que celebra essa colaboração e, simples, uma vez que um sinal de confirmação sobre ter seguido seus instintos.
“Quem abriu a empresa comigo foram as pessoas que trabalharam com a família do meu marido, que começaram na tendência praia em 1948, dois anos depois o promanação do biquíni”, comenta. O sabor veio com o tempo, quando conquistou seus 40% de liberdade para fabricar coleções conceituais e inovadoras, mas garantindo os 60% da risca mercantil.
Mas não só: ela disse “não” para três grupos de tendência que tentaram comprar a sua etiqueta. “Adorei declinar! Eu não vou vender a psique da minha marca por desculpa de verba”, diz. No termo, a sua liberdade está supra de egos e cifras que anulariam todo o seu esforço até hoje. É uma dedicação para o avesso estar perfeito. “Se não, a gente não consegue desancar no peito dessa forma”.