Agnaldo Rayol Foi Símbolo De Um País Nostálgico 04/11/2024

Agnaldo Rayol foi símbolo de um país nostálgico – 04/11/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Agnaldo Rayol, morto nesta segunda-feira (4), gravou seu primeiro álbum no simbólico ano de 1958, considerado o marco inicial da bossa novidade, com o lançamento de “Chega de Saudade”, no álbum “Cantiga do Paixão Demais”, de Elizeth Cardoso.

Foi também o ano da primeira conquista da Despensa do Mundo de futebol, incidente que, no contexto dos anos JK, ajudava a gerar o imaginário do Brasil uma vez que um país moderno, do porvir. No entanto, embora em seu primeiro álbum Rayol já tenha gravado canções de Tom Jobim e Vinícius de Moraes, é verosímil declarar que seu esquina remetia justamente a um país nostálgico, “pleno de saudade”.

Assim uma vez que Cauby Peixoto, Rayol gravou pioneiramente rock e apresentou ao longo de sua curso um repertório elegante de crooner, cantando standards do cancioneiro estadunidense, sambas-canções, boleros, serestas e fados.

Cua marca registrada, mas, foi a gravação de canções italianas. Nas décadas de 1960 e 1970, antes da preponderância quase completa das canções anglófonas, era generalidade cantores românticos gravarem versões de canções francesas e italianas.

Alguns deles, uma vez que o próprio Rayol, seu xará Agnaldo Timóteo e Jerry Adriani, participaram da Jovem Guarda, em um momento em que a dita MPB se firmava uma vez que herdeira da bossa novidade e das músicas de festival, em contraposição ao iê-iê-iê.

Nessa disputa estética, mas também política, o rock e a música romântica eram tachados de alienados. Por outro lado, o tipo de esquina de Rayol, operístico, era considerado melodramático, ultrapassado, exagerado e “cafona” pela escol intelectual acadêmica de esquerda.

Coube contraditoriamente aos tropicalistas, que também reivindicavam a bossa novidade, resgatar em seu álbum manifesto, no simbólico ano de 1968, “Coração Materno”, cantiga de Vicente Celestino, uma das influências de Rayol.

Neste mesmo ano de 1968, Rayol gravou o álbum “As Minhas Preferidas — Na Voz de Agnaldo Rayol — Presidente Costa e Silva”, em que homenageava o ditador, inclusive estampando sua imagem na envoltório do disco.

O repertório, fundamentado no sabor músico do general, incluía, curiosamente, “Carolina”, de Chico Buarque. Há que se ter em mente, porém, que a ditadura militar contava com poderoso suporte popular, ao contrário do que diz uma narrativa construída a posteriori e que idealiza o povo brasílico uma vez que vítima do regime e os artistas da chamada MPB uma vez que ícones da resistência.

Da mesma forma, cantores da MPB também gravaram músicas ufanistas e foram acusados de bajular o regime militar. Posteriormente passar os anos 1970 e 1980 sem tanta visibilidade, gravando poucos álbuns, o grande renascimento músico de Rayol veio em 1994, ajudado provavelmente por dois fatores.

Em 1990, Luciano Pavarotti, Plácido Domingo e José Carreras formaram Os Três Tenores e fizeram sucesso mundial cantando árias famosas, mas também músicas populares, incluindo “Aquarela do Brasil”. Da mesma forma, no primórdio dos anos 1990, o tenor Andrea Bocelli era catapultado à nomeada mundial. Trovar músicas populares com empostação operística, comitiva de orquestra e participações especiais de astros pop, de certa forma, voltou à tendência.

A nostalgia era o espírito do tempo. Não à toa, também no início dos anos 1990, Luis Miguel começou a gravar álbuns cantando boleros clássicos, apresentando essas músicas a uma novidade geração.

O fator decisivo para a volta triunfal de Rayol, no entanto, foi uma velha receita conhecida da indústria músico brasileira —a inserção de músicas em trilhas sonoras de novelas. Assim, em 1993, “Em Nome do Paixão”, elaboração de César Augusto e Piska, também gravada pela dupla sertaneja Leandro e Leonardo, entrou na trilha sonora de “Renascer”, na voz de Rayol.

Na romance seguinte de Benedito Ruy Barbosa, o “Rei do Rebanho”, de 1996, Rayol fez a ponte entre Vicente Celestino e os sertanejos Chrystian e Ralf, cantando na trilha sonora, com ainda mais sucesso, “Mia Gioconda”, com participação próprio da dupla e fazendo a junção entre o italiano e o caipira, o “erudito” e o popular, o tradicional e o moderno.

A glorificação maior veio em 1999, quando, em dueto com a jovem soprano Charlotte Church, Rayol podia ser ouvido todas as noites na fenda da romance “Terreno Nostra”, do mesmo Benedito Ruy Barbosa. Composta por Antônio Scarpellini, Luiz Schiavon e Marcelo Barbosa , o tema inédito “Tormento d´amore” reinventava uma tradição.

Cantor romântico e de músicas católicas, ator galã e responsável de trilha de telenovelas, artista que nutria um próprio carinho pelo público idoso, cantando “as canções bonitas de antigamente”, Rayol fica uma vez que símbolo de um Brasil nostálgico e profundo, o mesmo de Vicente Celestino, que escutava a “Ave Maria” nos cume falantes das praças e uma seresta nos coretos, mas também pop e internacional uma vez que Luciano Pavarotti.

Folha

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