Agroindústria beneficia bioativos com energia limpa na ilha do marajó

Agroindústria beneficia bioativos com energia limpa na Ilha do Marajó

Brasil

Antes de desaguar no mar, o Rio Amazonas banha inúmeras comunidades de várzea do Amapá e da Ilhota do Marajó, no Pará. Casas esparsas sobre palafitas espalham-se entre o verdejante da paisagem florestal, mas, na Ilhota das Cinzas, uma construção se destaca: é a novidade agroindústria, onde frutos amazônicos serão beneficiados, antes de serem vendidos para a fabricação de cosméticos. Com o incremento de valor associado, estima-se que a renda das famílias extrativistas aumente em muro de 60%.

Durante a cerimônia de inauguração das instalações, no sábado pretérito (24), os irmãos Josi e Francisco Malheiros faziam questão de receber pessoalmente os convidados que chegavam de embarcação, com um sorriso largo nos lábios e, por vezes, os olhos marejados de emoção. Ela, com somente 16 anos, foi uma das fundadoras da Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas da Ilhota das Cinzas (Ataic), no ano 2000. Ele, que tinha somente 11 anos naquela quadra, hoje é o atual presidente da organização que vai gerenciar a agroindústria.

Quando a Ataic foi fundada, a comunidade trabalhava principalmente com a pesca de camarão, e a associação chegou a receber diversos prêmios pela geração de uma tecnologia social de manejo do crustáceo. Pouco tempo depois, veio a teoria de investir na diversificação produtiva, primeiro com a colheita de açaí, para fins alimentícios, e depois com os frutos do patauá e as sementes de ucuuba e murumuru, utilizadas em cosméticos.


Ilha de Marajó (PA), 29/05/2025 - Josi Malheiros fala na inauguração Agroindústria na Ilha de Marajó. Foto: Anderson Águia/Natura/WEG
Ilha de Marajó (PA), 29/05/2025 - Josi Malheiros fala na inauguração Agroindústria na Ilha de Marajó. Foto: Anderson Águia/Natura/WEG

Josi Malheiros defende a urgência de se pensar em mais programas de desenvolvimento para as comunidades de várzea – Foto: Anderson Águia/Natureza/WEG

“Na floresta tem gente”, lembra Josi. “O envolvente de várzea nunca foi considerado nas políticas públicas para desenvolvimento da Amazônia. A gente precisa ter programas de desenvolvimento de indumento, considerando esse envolvente que está cá e que as populações precisam sobreviver e continuar”, complementa.

Assim, a Ilhota das Cinzas se tornou um assentamento extrativista, e em 2015, a partir de uma parceria com a empresa Natureza, o manejo de bioativos para a produção de cosméticos se tornou a principal atividade da Ataic. De 5 toneladas colhidas no primeiro ano, as remessas aumentaram para muro de 200 toneladas anuais de murumuru e 100 de ucuuba, além de 120 toneladas de patauá recolhidas na última temporada.

Além de contribuir para o desenvolvimento da ilhota, a partir da geração de renda para as famílias extrativistas, a associação também investiu em melhorias que trouxeram benefícios coletivos, uma vez que tecnologias para tratamento de chuva e esgoto e a instalação de sistemas de pujança solar, substituindo os poluentes geradores a diesel utilizados para alguns equipamentos e levando a pujança elétrica para o dia a dia da comunidade.

“Antes as famílias guardavam maná com sal. Hoje tem um freezer que pode vigiar por mais dias. O proveito de saúde que essa família teve, sabe? As mulheres tinham que carregar por 20 metros um barril com chuva e agora tem uma petardo para retrair… As famílias têm uma máquina de lavar roupa agora, têm batedeira de açaí, esses itens necessários para ter, minimamente, condições melhores de vida”, conta Francisco Malheiros.

A atividade também permite que as comunidades se desenvolvam sem impactar a floresta. “A ucuuba é uma espécie madeireira, ameaçada também de extinção, com uma exploração intensa na região para negócio de cabo de vassoura. E aí o pessoal parou de vender para atravessador, ganhando um valor irrisório para madeira virar cabo de vassoura, e teve ampliação de renda, vendendo as sementes para virarem o óleo”, exemplifica Josi.

Hoje, a Ataic trabalha com quase 450 famílias em diversas localidades nos municípios de Gurupá, Afuá, Chaves, Breves e Anajás, na Ilhota do Marajó, e no município de Mazagão, no Amapá. E Francisco espera que essa rede cresça ainda mais, a partir da agroindústria.

“Quem sabe a gente até refolho o número de famílias atendidas nos próximos anos… É mais renda sendo gerada, é mais qualidade de vida sendo implantada no território. Esse é o sonho.”

Ineditismo

Além de promover o incremento de renda para as famílias da Ataic, a agroindústria da Ilhota das Cinzas representa dois marcos para a região: é a primeira instalação do tipo construída em uma espaço de várzea, e também a primeira operada totalmente com pujança limpa, proveniente de um sistema solar com armazenamento em baterias, divulgado uma vez que Bess, {sigla} para Battery Energy Storage System, ou Sistema de Armazenamento de Pujança por Baterias, em português.


Ilha de Marajó (PA), 29/05/2025 - Inauguração Agroindústria na Ilha de Marajó. Foto: Anderson Águia/Natura/WEG
Ilha de Marajó (PA), 29/05/2025 - Inauguração Agroindústria na Ilha de Marajó. Foto: Anderson Águia/Natura/WEG

Agroindústria na Ilhota de Marajó pode aumentar renda das famílias extrativistas em muro de 60% – Foto: Anderson Águia/Natureza/WEG

As instalações foram construídas pela Ataic em parceria com três empresas, que investiram em caráter de doação. A Natureza foi responsável pela fala e pelo suporte técnico e operacional, a Weg doou o sistema de pujança, e a W-energy instalou os equipamentos fotovoltaicos. Esse sistema alimenta o maquinário que transforma as sementes e os frutos em óleos e manteigas, vendidos por um preço superior ao das matérias-primas.

“É a 20ª agroindústria que a gente inaugura com as comunidades, dentro de um projecto estruturado de industrialização descentralizada. O protagonismo da Amazônia para a gente é bastante importante. Nós temos várias metas públicas, uma delas é proteger 3 milhões de hectares, o que a gente faz no dia a dia em relação com as comunidades”, diz a diretora de Sustentabilidade da Natureza, Ângela Pinhati.

A localização à ourela do rio impõe desafios específicos, já que só é verosímil chegar à comunidade de embarcação. Ou por outra, não há uma vez que se conectar à rede de pujança tradicional. As placas solares e baterias, por exemplo, foram construídas em Santa Catarina, transportadas de embarcação até Belém, movidas para um segundo embarcação, para o transporte até Macapá, e depois para um terceiro que conseguisse chegar à Ilhota das Cinzas. Para o trajectória final, do pequeno cais até os galpões, os equipamentos foram colocados sobre toras de madeira, empurradas com o supremo de zelo para não promover nenhum dano.

A indústria será alimentada primariamente pela pujança produzida nas placas solares, e, em dias de menor incidência, as baterias – também abastecidas pelo sol – entram em operação. Mesmo em um cenário bastante improvável de escassez totalidade de luz solar, o Bess conseguiria manter a indústria operando por muro de oito horas. De negócio com o diretor de Sustentabilidade e Relações Institucionais da Weg, Daniel Godinho, é um projeto inovador, já que, em outras vegetalidade industriais, o sistema de pujança solar combinado com baterias é utilizado uma vez que complemento ou retaguarda para a manadeira de provisão principal.

“Esse é um projeto dissemelhante e privativo, porque cá ele toca a indústria. Nós temos cá dois módulos de pujança solar: se falhar um, a indústria consegue operar com a outra. E seis módulos de bateria. Não tendo pujança solar suficiente, ele consome pujança do Bess. Somente se esgotar a pujança renovável, o que é muito improvável, é que vai acionar o gerador a diesel. A gente colocou várias camadas para que venha a ser uma pujança limpa de verdade”, explica Godinho.


Ilha de Marajó (PA), 29/05/2025 - Francisco Malheiros fala sobre a inauguração Agroindústria na Ilha de Marajó. Foto: Anderson Águia/Natura/WEG
Ilha de Marajó (PA), 29/05/2025 - Francisco Malheiros fala sobre a inauguração Agroindústria na Ilha de Marajó. Foto: Anderson Águia/Natura/WEG

Francisco Malheiros preside a Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas da Ilhota das Cinzas (Ataic), que vai gerenciar a agroindústria – Foto: Anderson Águia/Natureza/WEG

Padrão

“Vocês podem levar daqui um padrão não só de agroindústria, mas um padrão de residência, de moradia… Um padrão de bem-estar das famílias, nesse e em qualquer outro território só”, incentivou o presidente da Ataic, Francisco Malheiros, durante a inauguração.

“Quando você faz uma fábrica utilizando tecnologias nacionais para processar produtos da socioeconomia, gerando qualidade de vida no interno do Brasil e utilizando pujança limpa, certamente tem um efeito demonstrativo muito grande para outras cadeias produtivas em outras regiões isoladas da Amazônia”, concorda o secretário de Economia Virente, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Transacção e Serviços, Rodrigo Rollemberg, que participou da cerimônia.

De negócio com o secretário, no final de 2023, o ministério assinou um convênio com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para a elaboração de um catálogo com todas as máquinas e equipamentos utilizados para aumentar a eficiência e a produção nas cadeias produtivas do babaçu, cupuaçu, açaí e castanha-do-brasil. Em seguida, foi feito um projeto com o Serviço Brasílio de Suporte às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que vai enviar agentes locais de inovação cooperativa sobre 50 cooperativas nos estados do Pará, Amapá, Acre, de Rondônia e do Maranhão, para mapear as necessidades das comunidades que atuam nessas quatro cadeias produtivas.

“E já apresentamos ao Fundo Amazônia um projeto de R$ 104 milhões para que o Sebrae possa receber esses recursos e comprar esses equipamentos para repartir para as cooperativas e fazer também um trabalho de capacitação”, complementa Rollemberg. O objetivo é que as informações levantadas sobre essas quatro cadeias produtivas possam ser reproduzidas em projetos semelhantes, envolvendo outros bioativos. 

*A repórter viajou a invitação da Natureza

Fonte EBC

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