“Você trabalha com a Alana Gandra?”. Essa é uma pergunta que repórteres da Filial Brasil no Rio de Janeiro ouvem com frequência de assessores e entrevistados. A frase geralmente vem acompanhada de elogios à jornalista. A “notabilidade” é um reconhecimento pelos 53 anos de trabalho em diferentes fases da notícia pública e estatal do país, o que inclui Filial Pátrio, Empresa Brasileira de Notícias (EBN), Radiobrás e a Empresa Brasil de Notícia (EBC).
Não é excesso expressar que o nome dela se tornou muito espargido. A jornalista conta a história curiosa de ter revelado que muitas meninas foram registradas porquê Alana Gandra, com recta a imitar o sobrenome. Isso, muito por conta da estação em que era ouvida por milhões de pessoas na Voz do Brasil. No dia em que a Filial Brasil completa 34 anos, zero mais justo do que reconhecer o trabalho de quem participou ativamente dessa história desde o início.
Tradutora autônoma, radialista, noticiarista, locutora entrevistadora. Essas são algumas outras atribuições da Alana, que lembra com saudade dos primeiros passos no jornalismo e dos principais nomes com que aprendeu a profissão.
“Quando comecei na Filial Pátrio, em 1971, meu primeiro encarregado foi o Vivoni Ítalo Hugo, que era um rosto sensacional. Ele trabalhou na dependência McCann Erickson, criadora do Repórter Esso. Tive uma lição de jornalismo fantástica com ele. Trabalhamos em um programa de rádio que ia ao ar à meia-noite, em um pool de rádios. Depois, já passando para a EBN, tive outro encarregado maravilhoso que foi o Moacir Neide. Humano, muito bom, e foi nessa estação que ganhei meu segundo prêmio na curso”, recorda Alana.
O primeiro reconhecimento veio com um prêmio no Seminário Internacional Portugal Tradição e Porvir – Via Real (Portugal) 1983. O segundo, que ela menciona supra, foi a vitória no I Concurso de Jornalismo Hispanid-Rio, com a reportagem Espanha/Brasil: Calor e Paixão, publicada no Jornal do Commercio de 05/08/1984. Também conquistou o Prêmio de Jornalismo do Seprorj, categoria web, 2008, com a reportagem Projeto Patrocinado pela Petrobras Promove Inclusão Do dedo de Catadores de Lixo no Rio; e recebeu o I Prêmio de Jornalismo do TRE-RJ, categoria internet, em 2013, com a reportagem Desmotivação dos Jovens em Relação à Política é Tendência Mundial, Analisa Observador Político.
Atualmente, a notícia governamental e a pública da EBC disponibilizam na internet todo o teor de forma gratuita, tanto para o público generalidade, porquê para outros veículos de jornalismo. A reprodução é livre, desde que com o devido crédito. Mas lá detrás, no término dos anos 1970 e início dos 1980, não havia essa facilidade para quem trabalhava na EBN.
“Naquela estação, as estatais não tinham assessoria de prelo. Todas as notas sobre elas eram feitas por nós. E tinha um setor responsável por entregar, de tantas em tantas horas, esses boletins nas redações de rádios e jornais”, recorda Alana. “Eu cobria BNDES, BNH e Petrobras, que o pessoal chamava de Triângulo das Bermudas. Ser setorista desses órgãos era barra pesada. A gente não tinha internet, era tudo escrito na máquina. Chegava na redação e tinha que maltratar material de todos eles correndo”.
Produtividade
E por falar em velocidade, e dedicação, o tempo de batente só beneficiou Alana. Tem reunião de tarifa? Espere receber uma dezena de sugestões. Matérias? Perde-se a conta de quantas estão sendo escritas por ela ao mesmo tempo. Alguém precisa de telefones de fontes ou assessores? Ela é generosa para compartilhar a agenda de contatos acumulados há décadas.
“Já tive chefes que me chamavam e falavam: ‘Vê se você entrevistar o fulano, porque o pessoal não está conseguindo’. É a maneira que você tem de falar com a pessoa, sabe? A gente tem que ter saudação e um pouco de humildade, o que eu não vejo em muita gente na profissão. Saudação com as pessoas é primordial, do presidente até o contínuo. E ter sempre imparcialidade, não modificar o que um entrevistado diz. Essas são garantias de que você vai ser atendida outra vez”, ensina Alana.
Mas mesmo com reconhecimento e currículo extenso, ela levanta uma reflexão importante sobre o preconceito que alguns chefes e colegas do jornalismo em universal lidam com profissionais mais antigos. O famoso etarismo, que costuma se manifestar em outras carreiras também. Alana conta que, em mais de uma ocasião, foi níveo de suspeição e de menosprezo por desculpa da idade, principalmente dos mais jovens.
Nesse caso, o má sorte é de quem perdeu a chance de aprender um pouco com a experiências e os conhecimentos acumulados pela jornalista.
“Quando eu entrei na Filial Pátrio, eu trabalhava com uns caras que eram medalhões. E eu não tinha essa aversão que o pessoal tem agora. Eu sentia um prazer e um orgulho muito grande de estar ali convivendo e aprendendo com eles”, diz Alana. “Eu acho que você precisa conviver com todas as idades, porque uma vai enriquecendo a outra”.
Vida pessoal e coberturas de destaque
Alana Gandra nasceu em Copacabana, no Rio de Janeiro, em 13 de julho de 1949. Cogitou ser bailarina, professora, mas sempre gostou muito de redigir. E foi produzindo poemas e outros textos no escola que passou a se interessar pelo jornalismo. Cursou a graduação na Universidade Federalista do Rio de Janeiro (UFRJ), em plena ditadura militar, em condições zero favoráveis. Era generalidade, segundo ela conta, ter policiais à caça de “subversivos” na universidade e uma espécie de espião do regime em cada sala de lição.
Já formada, testemunhou e registrou fatos históricos importantes. Trabalhou no jornalismo durante o governo de três ditadores militares e de todos os presidentes do novo período democrático. Viu a geração do Sistema Único de Saúde (SUS), do Projecto Real, dois processos de impeachment, para reportar alguns exemplos.
Entre as coberturas marcantes, Alana destaca a Repercussão-92, Conferência das Nações Unidas sobre Meio Envolvente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro; o desabamento do prédio Palace II, em 1998, que deixou oito mortos; a Reunião de Cúpula América Latina-Caribe-União Europeia, de 1999; a Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, em 2012; e a visitante do Papa Francisco ao Brasil durante a Jornada Mundial da Juventude, em 2013.
Dos trabalhos mais recentes, se orgulha de ter relatado a história do brigadeiro Rui Moreira Lima, herói da II Guerra Mundial, recluso três vezes e torturado pela ditadura militar. A material foi publicada em abril desse ano, porquê secção da cobertura peculiar pelos 60 anos do golpe militar no Brasil.
Legado na notícia
A história da Alana Gandra na Filial Brasil vai ter um último capítulo em julho desse ano. É bom ressaltar, contra a própria vontade dela. A Emenda Constitucional 103, de 12 de novembro de 2019, alterou regras do sistema de Previdência. Entre as mudanças, a imposição de aposentadoria compulsória de empregados públicos ao completarem 75 anos de idade.
Além das saudades dos colegas, Alana vai deixar um legado de contribuições importantes para a notícia pública. Mas de forma congruente com a trajetória que construiu até cá, que ninguém espere um fechamento da curso. Incansável e apaixonada pelo jornalismo, ela planeja seguir outros caminhos, que incluem o desenvolvimento de projetos independentes.
“Eu palato do que eu faço, sabe? Eu vou sentir falta da redação, porque eu palato de entrevistar as pessoas, de desvendar as coisas”, diz Alana. “Eu só tenho que agradecer às pessoas que me acompanhavam na Voz do Brasil e às que gostavam das minhas matérias cá na Filial”.