Aos 50 anos, cantora canadense volta ao Brasil depois show em São Paulo em 2023. A cantora canadense Alanis Morissette
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Aos 50 anos, Alanis Morissette vai fazer sua estreia no Lollapalooza Brasil, depois um show nostálgico no Allianz Parque em 2023. Ela é uma das headliners do sábado (29) de Lolla. No dia seguinte, canta em Curitiba.
Alanis tinha 21 anos quando apareceu fazendo pop rock pleno de raiva e peso. Lançado em 1995, “Jagged Little Pill” vendeu mais de 33 milhões de cópias. Era o terceiro álbum dela. A cantora canadense tinha lançado dois álbuns mais dançantes, em uma curso de popstar infantojuvenil que durou entre 1987 e 1992.
Outra informação que surpreende muita gente é a relação dela com nomes logo emergentes do rock. “You oughta know”, primeiro single, tinha o baixista Flea, do Red Hot Chili Peppers, e o guitarrista Dave Navarro, do Jane’s Addiction. A filarmónica dela nas turnês contava com o baterista Taylor Hawkins, que depois integrou o Foo Fighters e morreu em 2022.
Alanis Morissette no clipe de ‘Head over Feet’, lançado em 1996 e um dos hits de ‘Jagged Little Pill’
Reprodução
Foi a partir dessa tempo mais livre e roqueira que Alanis deixou de se “objurgar” quando ia grafar letras. “Quando eu era mais novidade, com 20 e poucos anos, eu cruzava meus dedos quando ia lançar uma música”, contou ela ao g1, pouco depois de lançar “Such Pretty Forks in the Road”, seu álbum de pop rock mais recente.
“Quando escrevo uma música é uma vez que se eu estivesse escrevendo em um quotidiano. Quando eu lanço, as pessoas fazem com que a música seja delas, podem interpretar do jeito que elas quiserem. Logo, tecnicamente, elas nem são minhas mais.”
O embate Alanis x notabilidade
Na idade de “Jagged Little Pill”, ela disse que tinha notório susto de lançar álbuns, porque associava a piora de sua saúde mental à música e à notabilidade. Com o tempo, ela foi desfazendo essa associação. “Meu marido foi muito inspirador”, explicou, citando o rapper Mario “Souleye” Treadway, com quem está casada desde 2010 e teve três filhos.
“Eu o vejo fazendo música de um jeito que… ele só parece estar empolgado, enamorado por aquilo. Ele não associa com zero que o intimida. Ele associa grafar canções com se expressar, com felicidade. Eu me inspiro pela forma com a qual ele vê a música… e também fiz muita terapia”, complementou, rindo. “Fiz para que a música fosse só esse veículo de frase barulhento; e as partes da notabilidade e da turnê fossem uma coisa separada.”
Alanis Morissette, o marido músico Mario Treadway e seus três filhos
Reprodução/YouTube da cantora
Porquê é continuar cantando músicas tão intensas por 30 anos nos palcos? “Elas me trazem os mesmos sentimentos de quando eu escrevi. Podem ser sobre susto, devastação, inquietação, compunção, o que for. Eu me sinto muito revivendo esses sentimentos no palco.”
Os arranjos dos shows tentam simbolizar a mesma crueza das versões de estúdio. A maioria das músicas foi gravada em no sumo dois takes e pelo menos duas letras do disco foram escritas em pouco mais de uma hora: “Hand In My Pocket” e “Perfect”.
Alanis inventou a ‘amizade colorida’?
Em outra letra, a de “Head over feet”, Alanis ajudou a popularizar a frase “friends with benefits” (“amizade colorida”, em tradução livre). Por ser uma gíria, fica difícil declarar que ela tenha inventado o termo, mas o primeiro uso documentado é o da letra dessa música.
O show com esse repertório rodou por festivais e ela dizia que os line-ups costumavam ser “bandas de homens e Alanis Morissette”. Para ela, os bastidores dos shows eram “muito patriarcais”.
“O que eu fui percebendo é que eles não sabiam o que fazer comigo. Eles pensavam: ‘Podemos dormir com você? Ou você é a nossa mana… ou nossa mãe?’ Eles não sabiam uma vez que curtir comigo, o que era constrangedor e um pouco solitário, mas também meio engraçado.”
Por que ‘Ironic’ não tem ironias?
Alanis Morissette no clipe de ‘Ironic’, do álbum de estreia, de 1995
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Alanis ainda comentou as ironias de “Ironic”. A música é uma das que ela menos gosta, mas se tornou uma das mais ouvidas dela no streaming e a que os brasileiros mais gostam? “Hm… sim”, respondeu ela, rindo. “É irônico que não tenha ironias. É irônico que seja a música pela qual sou mais falada.”
Nos últimos anos, ela tem falado muito sobre a letra, levado com bom humor. Mas uma vez que foi ter que responder tanto sobre ela não ter ironias? “Ah, é repugnante ver meu erro analisado todos os dias, todos os anos, por 25 anos… em um caso de malapropismo [uso incorreto de uma palavra].”
“Mas quando Glen [Ballard, produtor do álbum] e eu escrevemos… foi a única música que eu e Glen escrevemos a letra juntos. A gente não estava, não estava ligando pra isso. A gente só estava se divertindo. Era tipo uma forma de se testar uma vez que compositores juntos. A gente amou a música, mas a letra não significava tanto assim. Depois de ‘Ironic’, eu passei a grafar todas as músicas eu mesma, todas super pessoais.”
A última vinda de Alanis ao Brasil
Alanis Morissette durante apresentação em São Paulo nesta terça-feira (14)
Divulgação/Live Nation/Iris Alves
A última vez que a cantora esteve no Brasil foi no maior show solo por cá desde que surgiu uma vez que a maior cantora da história do pop rock dos anos 90. Acostumada a trovar em ginásios no Brasil, ela se apresentou para 49 milénio pessoas no Allianz Parque, em São Paulo, em novembro de 2023.
Só uma coisa explicava o público recorde da cantora: a nostalgia. O show foi o penúltimo da turnê que celebrava os 25 anos de “Jagged Little Pill” e teve várias apresentações adiadas devido à pandemia. Em sua única paragem na América do Sul, ela mostrou que segue em forma. A voz continua supimpa e o jeito de se apresentar não mudou muito. Ela anda de um lado para o outro do palco mais de 10 vezes só na primeira música, “All I Really Want”. Essa jornada incessante balançando o cabelo e o resto do corpo sempre foi secção da performance, assim uma vez que o olhar perdido e o jeito contido.
Sem falação no palco
O show não tem muita falação ou produção elaborada: a cantora vai direto ao ponto. Ela toca gaita e violão, acompanhada por um simples quinteto formado por dois guitarristas, baixista, baterista e tecladista. Nenhum deles a ajuda nos vocais de esteio. Cabe ao público essa missão.
Derretendo de calor, mesmo com a temperatura até que amena de 24 graus, Alanis entrou com um sobretudo de paetê preto. Ela tirou a peça já na segunda música, “Hand in my pocket”. A partir daí, passou o show todo com uma calça de epiderme e uma camisa preta com pinta de gasta e a vocábulo “família” estampada em uma natividade quase indecifrável.
Alanis Morissette levou quase 50 milénio fãs ao Allianz Parque, em São Paulo, em 2023
Divulgação/Live Nation/Iris Alves
Alanis botou o microfone no pedestal em “You learn” e parou de caminhar um pouco, expediente repetido em outras músicas do setlist. Todas as 13 faixas do álbum homenageado foram lembradas. É impressionante a força ao vivo e a boa recepção inclusive de lados b, uma vez que “Perfect”. A mais cantada foi “Ironic”, ironicamente a música que da qual ela menos gosta. Alanis virou o microfone para a plateia e deixou os fãs cantarem pelo menos metade da música.
O show teve ainda quatro faixas do disco mais recente de pop rock, “Such Pretty Forks in the Road”, de 2020. “Uninvited”, “Numb” e “Thank U”, a última, completam o set. “Hands clean”, a mais conhecida do álbum “Under Rug Swept” (2002), foi a escassez mais sentida.
De resto, o show não escondeu quem Alanis é: uma popstar tímida e que não parece se sentir muito confortável no comando de um show para quase 50 milénio fãs. Os dois maiores recados da noite não foram ditos por ela, exclusivamente apareceram no telão: uma homenagem para Taylor Hawkins, baterista do Foo Fighters que fez secção da filarmónica dela e morreu em 2022, aos 50 anos; e um “Thank you, São Paulo”. Quem foi ao show também agradeceu Alanis, uma popstar dissemelhante das outras.
VÍDEO: Relembre Alanis Morissette no Festival de Verão
Alanis Morissette se apresentou em 2009 no Festival de Verão
Provável setlist do show de Alanis Morissette
Hand in My Pocket
Right Through You
Reasons I Drink
A Man
Hands Clean
Can’t Not
Lens
Sorry to Myself
Head Over Feet
Forgiven
You Learn
Would Not Come
Smiling
Rest
Mary Jane
That I Would Be Good
Perfect
Ironic
Not the Doctor
Are You Still Mad
All I Really Want
Sympathetic Character
You Oughta Know
Uninvited
Thank U
Fonte G1
