Sob a liderança do guitarrista Luiz Carlini, a filarmónica Tuttti Frutti celebra as cinco décadas do disco em 25 de janeiro, sábado, dia do natalício de São Paulo. Revestimento do álbum ‘Fruto proibido’, lançado por Rita Lee &Tutti Frutti em junho de 1975
Meca com arte de Kelio
♫ MEMÓRIA
♪ Rita Lee alcançou picos de vendas, popularidade e originalidade entre 1979 e 1982, período áureo da parceria da artista paulistana com o músico, arranjador e produtor Roberto de Roble. Foi quando o cancioneiro da cantora adquiriu perímetro pop, com ar por vezes folião, e se tornou aliciante, conquistando todo o Brasil.
Porém, seguidores mais radicais da artista nunca perdoaram Rita Lee Jones (31 de dezembro de 1947 – 8 de maio de 2023) por essa guinada pop. Para roqueiros mais ortodoxos, a melhor período da obra fonográfica da Ovelha negra pós-Mutantes reside nos anos em que Rita esteve associada ao grupo Tutti Frutti.
Foram quatro álbuns gravados e lançados entre 1974 e 1978. Desse lote, o título mais emblemático é Fruto proibido, álbum lançado em 1975 em edição da gravadora Som Livre. O disco completa 50 anos em 2025 sem perda de relevância e de status na discografia de Rita Lee.
Ao contrário, analisado em perspectiva, Fruto proibido se retém em lugar de honra por ter sido o disco que alicerçou a trajetória artística de Rita Lee posteriormente a conturbada saída – ou expulsão, uma vez que sempre sustentou a cantora ao se referir à disputa de outubro de 1972 – de Rita do grupo Os Mutantes, com o qual a cantora arrombara a sarau tropicalista a partir de 1967 com doses fartas de confusão e irreverência.
Uma vez fora da filarmónica que formara em 1966 com os irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, Rita tentou se reafirmar em dupla com a guitarrista Lúcia Turnbull, mas logo o duo se juntou no segundo semestre de 1973 a um grupo iniciante, esse tal de Tutti Frutti, cujas origens remontam a 1971, ano em o guitarrista Luiz Sérgio Carlini se encontrou com o baixista Lee Marcucci.
Em dezembro de 1973, Rita Lee gravou álbum com Lucia e a filarmónica de Carlini, mas o disco foi arquivado pela gravadora Philips e somente foi lançado uma vez que bootleg em 2008, com o título de Cilibrinas do Éden. Logo sob a direção de André Midani (1932 – 2019), a companhia fonográfica preferiu apostar em 1974 em outro repertório e em outro álbum, assinado por Rita com Tutti Frutti.
Intitulado Detrás do porto tem uma cidade, esse álbum foi gravado com produção músico do logo iniciante Marco Mazzola e foi lançado em junho de 1974.
Inteiramente constituído por Rita Lee, sozinha ou em parceria com Lee Marcucci e Luiz Carlini, o repertório foi escravizado pelo rock, mas incluiu balada, Menino bonito, que seria amplificada em 1984, dez anos depois, na voz de Wanderléa.
Formatado com muita interferência da gravadora na sonoridade, o disco Detrás do porto tem uma cidade soou aquém do potencial dos artistas, embora haja acertos no repertório, uma vez que Ando jururu, De pés no pavimento e Mamãe natureza, música herdada do cancelado disco de 1973. Tanto que as vendas foram pífias.
Dispensados pela Philips, Rita Lee & Tutti Frutti encontraram abrigo na Som Livre, gravadora pela qual fizeram Fruto proibido, álbum de som (muito) mais azeitado do que o predecessor.
Fruto proibido fez história e é por isso que Luiz Carlini – guitar hero do rock brasílico da dez de 1970 – estará mais uma vez avante da filarmónica Tutti Frutti em show que celebrará os 50 anos do álbum Fruto proibido em show que será apresentado no Blue Note SP em 25 de janeiro, dia do natalício de São Paulo (SP), cidade da qual o som cosmopolita de Rita Lee foi uma das mais completas traduções, uma vez que atestaria Caetano Veloso em verso da cantiga Sampa (1978).
Gravado em abril de 1975 no Estúdio Eldorado, em São Paulo (SP), o álbum Fruto proibido é em núcleo um álbum de rock que versa sobre as liberdades individuais, matéria de Agora só falta você (Rita Lee e Luiz Carlini), Dançar para não dançar (Rita Lee) – do verso “Dê-se ao luxo de ser fútil agora” – e Pirataria (Lee Marcucci e Rita Lee, 1975).
A escrita de Rita Lee falava diretamente com o público jovem, sobretudo com as mulheres. Sim, Fruto proibido se retém atual posteriormente 50 anos por ser disco que hasteia a bandeira da liberdade sob prisma feminista sem desabar em tom panfletário. Rita ia contra a moral machista da quadra – vigente inclusive no clube do rock – ao reacender a labareda da dançarina naturista Dora Vivacqua (1917 – 1967) em Luz Del Fuego (Rita Lee) e ao se permitir encarnar uma Eva maliciosa e finamente irônica na música-título Fruto proibido (Rita Lee).
Sem falar que a roqueira cita a bailarina e coreógrafa norte-americana Isadora Duncan (1887 – 1927) em versos (“Faça uma vez que Isadora / Que ficou na história / Por dançar uma vez que muito quisesse”) do já mencionado rock Dançar para não dançar.
Tudo isso pode parecer até corriqueiro em 2025, mas era revolucionário em 1975. Se os machos roqueiros ainda eram vistos uma vez que bandidos no Brasil ditatorial da dez de 1960, imagine uma mulher que fazia rock e levantava bandeiras feministas antes da franqueza de 1979.
Sim, Rita Lee marcou quadra com Fruto proibido, álbum lançado em 30 de junho de 1975 com capote que expunha a cantora em foto de Meca, enquadrada na arte cor-de-rosa choque criada por Kelio em sintonia com os tons do repertório do disco produzido por Andy Mills.
O público mordeu Fruto proibido de rostro por conta do sucesso de Esse tal de roque enrow (Rita Lee e Paulo Coelho, 1975), rock amplificado nas rádios e na trilha sonora da romance Indómito! (TV Orbe), trama das 19h daquele ano.
Nos versos desse rock assinado por Rita com o porvir plumitivo Paulo Coelho, a cantora destilava mordacidade e sarcasmo contra a classe média ao versar sobre o gênero, mas a letra é a única do disco que envelheceu mal. Em 2025, o rock não é mais o gênero músico que representa a rebeldia juvenil uma vez que em 1975.
Com Paulo Coelho, Rita também compôs O toque (única das nove músicas do disco que não passou para a posteridade) e o blues-rock Cartão postal, com o qual rejeitou a sofrência ao mandar recado para mulheres que terminavam relacionamentos afetivos.
Além de Esse tal de roque enrow, o grande sucesso radiofônico do álbum foi a balada folk Ovelha negra (Rita Lee), emblema de uma geração que resistia a permanecer uma vez que nossos pais. A cantiga nunca perdeu a atualidade.
A gravação de Ovelha negra também ficou imortalizada pelo solo antológico e referencial da guitarra de Luiz Carlini (guitarras, violão, gaita e vocal), virtuose de filarmónica que incluía o também grande Lee Marcucci (reles e cowbell), Franklin Paolillo (bateria e percussão) e Guilherme Bueno (piano e clavinete), além Rubens Nardo e Gilberto Nardo nos vocais. Além de trovar e de assinar os arranjos com a filarmónica, Rita Lee tocou violão e um sintetizador pré-histórico.
Disco que abriu portas para o rock brasílico, logo representado no mainstream somente por Rita e Raul Seixas (1945 – 1989), Fruto proibido foi aclamado pela sátira – em louvação que somente aumentou ao longo desses 50 anos – e vendeu tapume de 200 milénio cópias até o término de 1976.
Atualmente, o já cinquentenário Fruto proibido está entronizado na galeria do rock uma vez que um dos discos mais importantes na história do gênero no Brasil.
Fonte G1
