Alemanha E Cuba Se Tornam Coadjuvantes Olímpicos 09/08/2024

Alemanha e Cuba se tornam coadjuvantes olímpicos – 09/08/2024 – Esporte

Esporte

Nas Olimpíadas de Barcelona-1992, Alemanha e Cuba eram potências esportivas e ocupavam a terceira e a quinta posições no quadro de medalhas, respectivamente. A dois dias do termo de Paris-2024, nesta sexta-feira (9), as duas nações estão em colocações intermediárias —9ª e 25ª—, longe da bulha pela liderança da lista, entre Estados Unidos e China.

O que se viu nesses 32 anos foi uma queda de desempenho dos dois países, que não conseguem mais as mesmas vitórias de antes. De convenção com Ary José Rocco Jr, professor da Escola de Instrução Física e Esporte da USP (Universidade de São Paulo), tanto o sucesso em Barcelona quanto o declínio subsequente foram em decorrência da queda do Muro de Berlim, em 1989, uma das marcas do termo da Guerra Fria, período do embate entre Estados Unidos e a logo União Soviética, uma disputa política que acabou envolvendo outras áreas, inclusive o esporte.

Com o base da União Soviética, o governo da Alemanha Oriental investia fortemente na infraestrutura esportiva, e também em doping, para ocupar muitas medalhas, que eram usadas porquê instrumento de marketing político. Para não permanecer detrás, o governo do lado ocidental também investia, o que deixava as duas nações entre as principais potências.

O mesmo acontecia com Cuba. A proximidade do país comunista com os Estados Unidos fazia com que o governo cubano recebesse grande investimento da União Soviética, o que possibilitou a construção de instalações esportivas de ponta.

“A partir do momento em que há a rescisão da antiga União Soviética, esses recursos financeiros em Cuba vão diminuir, o que faz com que o país tenha uma estrutura de valorização do esporte, mas as instalações, os investimentos necessários para a medicina esportiva e todo aquele suporte do esporte vão se perder. Atualmente, aquela estrutura ainda existe, mas está obsoleta”, diz Rocco Jr.

Com o termo da guerra, a rescisão da União Soviética e a reunificação da Alemanha, as edições olímpicas seguintes ainda tiveram a influência do poderio vivenciado até logo.

“A Alemanha já unificada vai pegar um pouco esse rescaldo dessa estrutura esportiva muito financiada pelo Estado. Só que depois da unificação a secção oriental perdeu força. A secção rica da Alemanha hoje é a que era da Alemanha Ocidental”, destaca o professor.

Um outro fator desencadeado pelo termo da Guerra Fria, segundo Rocco Jr., foi a mudança do cenário esportivo. O financiamento estatal praticamente acabou, dando espaço para um outro tipo de investimento: o privado, no qual empresas multinacionais começaram a investir por interesses comerciais.

“Isso vai ter um impacto direto na geração e no desenvolvimento da indústria do esporte porquê a gente conhece hoje e, consequentemente, vai trazer uma procura por uma melhoria na gestão. E aí a gestão vai trazer para esse universo dos Jogos Olímpicos uma série de outros atores, porquê a Austrália, a China, a própria Grã-Bretanha, que no auge da Guerra Fria perde muita preço.”

Com outras nações crescendo de rendimento, Cuba e Alemanha, já sem o mesmo investimento de antes, começaram a perder espaço. Mais os cubanos, devido aos embargos econômicos impostos ao país pelos Estados Unidos.

A partir dos anos 1990, o esporte do país passou a perder muitos de seus atletas, que desertavam para fugir da pobreza e lucrar a vida em outra país, recebendo verba para isso. O jogador de vôlei Leal, que defendeu a seleção brasileira em Paris, é um exemplo.

A final do salto triplo, nesta sexta, no Stade de France, é outro.

Quatro saltadores nascidos em Cuba disputaram a prova, e três deles ocuparam todos os lugares do pódio. No entanto, a ilhéu ficou sem medalha. O único que representava o país, Lazaro Martínez, terminou em oitavo. O ouro ficou com Jordan Alejandro Díaz Fortun, naturalizado espanhol, seguido por Pedro Pichardo, que defende Portugal, e Andy Díaz Hernández, com a camisa da Itália.

“A questão do verba passou a racontar muito na performance e no investimento esportivo. A forma de financiamento do esporte passou a ser fundamental. Portanto, por conta de problemas econômicos e financeiros, Cuba não conseguiu seguir a evolução de outros países no mundo”, diz o professor.

E porquê atualmente existem muitos países que se especializam em modalidades específicas, a distribuição de medalhas aumentou, tirando pódios das potências atuais, mas também de Cuba e da Alemanha. Em relação aos caribenhos, não há expectativa de melhora. A Alemanha, por outro lado, tem recursos suficientes para investir no esporte e tentar voltar a ser a força de antigamente. O tempo dirá.

Folha

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