Alien: Romulus Retoma O Horror, Mas Pesa Mão Na Nostalgia

Alien: Romulus retoma o horror, mas pesa mão na nostalgia – 14/08/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Ao longo de seis filmes em quase 40 anos, “Alien” se manteve relativamente leal nos mesmos procedimentos narrativos, em filmes relativamente distintos de autores muito particulares, todos em primícias de curso.

Da sobriedade de um iniciático Ridley Scott, em 1979, à megalomania do quase novato James Cameron, em 1986, passando pelo estreante David Fincher, em 1992, e concluindo essa primeira tempo com a novidade de Jean-Pierre Jeunet, em 1997, a série se tornou referência na mistura de ficção científica, horror e ação.

Scott retornou em dois títulos controversos que expandiram a mitologia da icônica pessoa xenomorfa, “Prometheus” em 2012 e “Covenant” em 2017, para desagrado de uma sólida base de fãs que não se empolgou com os rumos do diretor inglês à franquia que ele mesmo começou. Vamos excluir cá os dois “Alien vs. Predador”, que são outra conversa.

O procedimento narrativo de praxe é reunir um conjunto de personagens no espaço sideral afora e colocá-los à mercê de uma ou mais variantes dos xenomorfos, bichos grotescos e gosmentos criados por Dan O’Bannon e Ronald Shusett e dos quais visual desenvolvido pelo artista plástico suíço H. R. Giger se eternizou porquê um dos mais aterrorizantes da ficção. A franquia quase sempre conseguiu tratar a premissa e suas pequenas remodelações com empolgante originalidade.

“Alien: Romulus” é uma soma positiva à tradição, graças ao talento do uruguaio Fede Alvarez, segundo realizador de língua não inglesa a assumir a série. É a terceira invasão de Alvarez numa propriedade intelectual alheia, tendo feito antes o remake “A Morte do Demônio”, em 2013, e a adaptação literária “Millenium: A Pequena na Teia de Aranha”, de 2018, o que firma o diretor porquê artesão eficiente na engrenagem de Hollywood.

Ele e o parceiro Rodo Sayagues, que escreveram o bem-sucedido “O Varão nas Trevas”, dirigido por Alvarez em 2016, também roteirizam “Romulus” e adotam porquê premissa o hiato entre o primeiro e o segundo filme.

Ambientado 20 anos depois de “Alien”, o enredo acompanha a jovem Rain, vivida por Cailee Spaeny, e o androide Andy, na pele de David Jonsson. Trabalhadores braçais explorados numa colônia espacial, os dois se envolvem numa tentativa de fuga junto a um grupo de renegados com intuito de roubar uma nave misteriosa que orbita o planeta.

Porquê no original de 1979, a atenção em “Romulus” é dada ao proletariado abusado pela grande corporação Weyland-Yutani, com interesses escusos que moldam todos os filmes e têm relação direta na geração e proliferação dos xenomorfos.

Experiente em trabalhar com poucos personagens trancados em espaços de movimentação limitada, Alvarez é astuto o suficiente para não ousar demais no cânone da mitologia de “Alien” enquanto se permite sequências constantes de acontecimentos frenéticos e uso de efeitos práticos que redimensionam as batidas reconhecíveis da franquia.

Há o minimalismo do filme de Scott tanto quanto a ação desenfreada de Cameron e o siso de aprisionamento de Fincher, numa mistura de todos os filmes anteriores.

Empacotado na pegada pop de Alvarez, exímio em dominar o tempo das cenas de terror e estabelecer relações dramáticas que potencializam seus efeitos em meio à gritaria e violência, “Alien: Romulus” revigora o impacto desesperador do caos proporcionado pelas criaturas a caçar os protagonistas.

Alegorias sobre gravidez e parto porquê horrores a quem não os deseja, obrigatórias em “Alien”, continuam fortes e zero sutis.

É necessário trazer cá questões extrafílmicas, pois zero em Hollywood se move só. “Alien” é marca pertencente aos estúdios da Fox, comprados pela Disney em 2019 no lance milionário que, por exemplo, levou os X-Men para a mesma moradia do Universo Cinematográfico Marvel.

“Romulus” é o primeiro resultado dessa novidade tempo. Tal qual um “Deadpool & Wolverine”, guardadas as proporções, o filme de Alvarez é um ajuste de rota.

A consequência disso é o famigerado “fan service” nostálgico, com referências ora discretas, ora gritantes aos longas anteriores, e a renascimento de uma figura importante do filme original, num questionável lance de ator “ressuscitado” por efeitos digitais que a indústria volta e meia faz.

Ao retomar a cronologia iniciada em 1979, “Romulus” indica que as coisas seguirão outros rumos daqui adiante, mas claramente não quer ignorar o que foi realizado pela Fox porque sabe que disso depende a própria manutenção da marca.

Folha

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