Álvaro Siza Faz A Luz Rasgar O Concreto Em Construção

Álvaro Siza faz a luz rasgar o concreto em construção – 16/09/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Os raios de luz que atravessam as grossas paredes de concreto branco mostram que o jogo entre evidente e escuro ali tem o mesmo peso físico, o mesmo papel estruturante, que as partes de pedra da construção toda oportunidade ao entorno.

É feito também de sol e vento isso que o arquiteto labareda de templo. Não é um excesso. Álvaro Siza, um dos maiores e mais respeitados arquitetos no mundo hoje, acaba de gerar um espaço tão sequioso quanto sagrado, mínimo nos mais mínimos detalhes, um tanto bruto, mas hospitaleiro, para quem procura abrigo nessa espécie de amplexo pétreo levantado ao lado do mosteiro de Leça do Balio, nos periferia do Porto.

O lugar é um dos pontos de paragem na rota portuguesa até Santiago de Compostela, na Espanha, o famoso caminho de peregrinos.

Na ingressão de seu mais novo projeto, Siza instalou uma estátua que simboliza um desses viajantes, uma placa fina de concreto, branco uma vez que todo o volume construído mais adiante, arquitetando um encontro entre o público e sua obra.

Sua vasta galeria de construções no setentrião de Portugal, aliás, não é zero estranha a quem vive ali ou costuma visitar o lugar.

Siza, vencedor do Pritzker, láurea máxima da arquitetura no mundo todo, construiu alguns dos cartões postais de seu país —são dele o Museu de Serralves, as piscinas de Marés de Leça da Palmeira, a Lar de Chá Boa Novidade e mesmo o metrô de superfície que corta todo o Porto.

O marco definidor de sua obra, exacerbado agora no templo ao lado do mosteiro, é uma austeridade serena e límpida, que atravessa uma musculatura robusta de ângulos retos.

São trabalhos sempre marcados pela relação generosa com a luz e o espaço ao volta, uma vez que atestam os janelões de Serralves que enquadram o jardim superabundante do lado de fora e enchem as galerias de uma atmosfera filtrada pelo virente.

Na lar de chá, os mesmos largos panos de vidro emolduram a vista do Atlântico. A construção, aliás, quase desaparece na costa, uma vez que uma estrutura que se curva em reverência à natureza circundante. À profundidade da estrada, para quem chega, o restaurante é quase invisível, brotando da costa já num rampa ao encontro das ondas.

O mesmo acontece nas piscinas que construiu à praia, em que só secção do gravura é traço do arquiteto, o resto são rochas da paisagem que fecham os limites da estrutura, um encontro suave de volumetrias que em tudo contrastam, a fricção tornada elemento de simetria.

Seu novo projeto também cria uma relação uno com o entorno. Suas torres e volumes ecoam os contornos do mosteiro ao lado, uma construção em estilo românico do século 14 que já abrigou ordens religiosas e depois, por centenas de anos, foi uma residência.

Siza restaurou os interiores do mosteiro com atenção às muitas camadas de história que se acumulam em seus muros de pedra, removendo forros falsos e outros elementos acrescentados ao longo dos anos para revelar a estrutura original dos telhados. Nesse sentido, é a resiliência da pedra bruta que resiste aos assaltos do tempo uma vez que atestado de fé.

“Esse pretérito não é simples, não é linear”, diz Álvaro Siza. “A maneira uma vez que eu encarei esse projeto foi realmente a recuperação de um prédio histórico, erudito, com toda a sua definição, mas há um sabor próprio no vestimenta de ter sido usado e querido enquanto uma habitação. Não tive nenhuma veleidade, nem poderia ter, de repor a verdade histórica, mas sim trabalhar entre esse portento que tem e mantém a lar, e o que existe de períodos anteriores e que está intocado.”

Essa estratégia, aliás, não é uma novidade na obra do arquiteto. Siza é um responsável de assinatura própria que se manifesta com desenvoltura, mas sabe trabalhar em coro, reconhecendo vozes ancestrais que se articulam juntas na cartilagem das construções.

Esse também não é o primeiro mosteiro que ele restaura em Portugal, buscando na fissura de pedras milenares uma narrativa plástica que faça a ponte com tempos atuais. Se na superfície, lisa e inabalável, sua obra parece uma releitura sóbria, soprada pelos ventos do Atlântico, da rijeza angular da Bauhaus, o arquiteto também se rende aos labirintos medievais uma vez que tórax estético.

Nem todos são ângulos retos, nem tudo é escrito em pedra, ou ao menos enquanto silabário carrancuda. Siza molda delírios com a delicadeza rude e cortante do material mais bruto, o paradoxo do concreto levantado uma vez que uma folha de papel atravessada por toda a luz.

O arquiteto dá a receita desse embate. “Procurei uma presença transformadora no perfil do terreno, capaz de relacionar elementos de diferentes graduação e frase”, afirma Siza, em entrevista. “Igreja românica, novo equipamento, diferentes materiais —o granito e o concreto branco.”

Sua mais novidade construção, nesse sentido, é uma vez que uma versão depurada da rudeza gótica do mosteiro, uma espécie de repercussão estilizado da estrutura original, o gravura deixado só gravura, já que o soalho de pedras do exterior é o mesmo do lado de dentro, um cômodo vazio rasgado no tá, desimpedido ao firmamento, em que a luz ao longo das horas do dia vai desenhando riscos e traços na tela branca do concreto.

Esse brutalismo feito de luz também se entende uma vez que extensão da presença do novo mobiliário que ocupa as galerias do mosteiro, destinadas a receber vestígios de arte, e sua ingressão.

Se no Museu de Serralves o arquiteto construiu austeras galerias, o tradicional cubo branco, encadeadas uma vez que que num labirinto, em Leça do Balio os espaços foram mantidos cavernosos, em pedra crua, com acentos de bancos, balcões e mesas minimalistas, secos.

É a novidade sede da Instalação Livraria Lello, o famoso marco literário do meio do Porto, que agora desdobra na antiga e na novidade estrutura de Siza um programa de exposições. Ou mais. O arquiteto procura, com a novidade obra, um gravura que parece um meneio aos mestres modernos que tanto admira, de Le Corbusier a Carlo Scarpa, edificar o espaço de um encontro com a espiritualidade, em todos os sentidos. “Será oriente o sítio de encontro de visitantes e peregrinos, de utilização eventual uma vez que capela.

Folha

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