Amigas: Entenda A Reaproximação Da Globo Com Os Sertanejos

Amigas: Entenda a reaproximação da Globo com os sertanejos – 17/12/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Eles estão entre os maiores artistas do país e nunca deixaram de fazer segmento da trilha sonora das novelas, mas já fazia qualquer tempo que os sertanejos não se apresentavam em músculos e osso nas telas da Mundo. Durante esse distanciamento, alguns expressaram críticas à emissora, muitas delas de cunho político. Mas as barreiras entre a música mais ouvida no Brasil e o maior meato de televisão do país agora estão ruindo.

No rastro da estreia do programa Viver Sertanejo neste domingo —uma roda de conversa e cantoria apresentada por Daniel, ex-dupla de João Paulo, em sua herdade no interno paulista—, a Mundo exibe na noite desta quarta o show “Amigas”, que reúne Ana Castela, Lauana Prado, Maiara & Maraísa e Simone Mendes.

Por trás desse interesse renovado da Mundo pelo sertanejo está seu libido de atingir um público mais conservador, que pode ter se remoto do meato nos últimos anos —por fim, uma grande segmento dos cantores desse gênero apoia Jair Bolsonaro, e o ex-presidente tinha a emissora entre seus principais alvos.

O novo Viver Sertanejo, aliás, foi criado depois de uma pesquisa encomendada pelo meato indicar que os espectadores sentiam falta desse universo na grade de programação, sobretudo na manhã de domingo, uma vez que uma extensão do retrato da vida no campo feita pelo Mundo Rústico.

A iniciativa já rendeu. Em São Paulo, o principal mercado publicitário do país, o Viver Sertanejo elevou a audiência da emissora na manhã de domingo em quase 60% em relação às quatro semanas anteriores. No Rio de Janeiro, a subida foi de 25%, um aumento ainda bastante animador, visto que a capital fluminense sempre teve certa aversão ao sertanejo.

Para se ter teoria, no YouTube, nenhum dos dez artistas mais ouvidos no Rio de Janeiro nos últimos 12 meses é do gênero sertanejo, enquanto, na capital paulista, quatro deles são desse estilo, segundo a Chartmetric, empresa americana que coleta dados dos serviços de streaming para profissionais da indústria da música.

Na estreia, Daniel recebeu Lauana Prado e a dupla As Marcianas, formada nos anos 1980 e hoje composta por Celina Sant’Angelo e Adriana Bastos. O programa seguirá, até abril, trazendo um artista contemporâneo e outro que marcou o pretérito do sertanejo.

O elenco da estreia não foi escolhido ao contingência. Prado teve, no primeiro semestre, a música mais tocada do país nas rádios, uma regravação de “Escrito nas Estrelas”, de Tetê Espíndola, que ilustra sua posição no sertanejo —a de atualizar o cancioneiro vernáculo com uma produção moderna.

Daniel também ouviu das Marcianas sobre uma vez que enfrentam o machismo, e Sant’Angelo caiu em lágrimas ao recontar que o pai —João Mineiro, que formava dupla com Marciano— reprovava sua curso de tal modo que a mandou esconder que era sua filha. Mas ninguém lembrou ali que Prado é bissexual. A preterição sinaliza, segundo pessoas próximas ao desenvolvimento do programa, o libido da Mundo de não desgostar a parcela mais conservadora da audiência.

A escolha de Daniel uma vez que apresentador também é uma estratégia para aprazer a todos. Além de ter afinidade com a emissora, tendo já feito novelas e participado do reality show The Voice Brasil, ele transita entre o sertanejo idoso e o novo, é respeitado pelos artistas de todas as fases e ainda não se envolve em polêmicas.

“Sou assim. Se gostasse de reivindicar certas coisas, de expor ideias, talvez fizesse dissemelhante, mas tem momentos em que dar a opinião não vem ao caso”, diz Daniel, ao ser questionado sobre por que prefere não falar de política.

“Os cantores são instrumentos de felicidade, esperança e tranquilidade”, diz Daniel, o oposto de Gusttavo Lima, o nome que o SBT escolheu para o seu próprio de término de ano, que foi ao ar nesta terça-feira.

Gusttavo é o cantor que mais apoiou Jair Bolsonaro, além de pregar em seus shows Deus, pátria, família e os demais valores cultuados pelo ex-presidente. Isso sem recontar as polêmicas que o cercam —ele quase foi recluso numa operação da Polícia Federalista sobre bets e esteve no meio das investigações do Ministério Público sobre cachês milionários pagos a artistas por prefeituras de cidades pequenas, a chamada “CPI do Sertanejo”.

Mas há artistas polêmicos também na Mundo. Sérgio Reis, que há dois anos jurou não colaborar mais com o meato, é um dos convidados do Viver Sertanejo.

Nos bastidores, essa reaproximação é interpretada uma vez que um libido de dialogar com os conservadores, mas não uma vez que uma vontade de se tornar a vivenda desse público. Prova disso é que, para seu próprio de término de ano, a Mundo convidou mulheres com músicas e posicionamentos progressistas.

O show “Amigas” abre com “Coração Sertanejo”, um sucesso de Chitãozinho & Xororó dos anos 1990, estabelecendo um diálogo com o pretérito —um pouco que volta a se repetir com “Evidências”, “Você Vai Ver” e “Nuvem de Lágrimas”, também da dupla—, mas a maior segmento da apresentação é feita de hits das próprias artistas.

Ana Castela, uma moça de 21 anos que vem da roça, mas é moderninha, ilustra as fricções das “Amigas” no sertanejo. Embora hoje cante romances açucarados —uma vez que “Nosso Quadro”—, ela começou a curso misturando sertanejo e funk em “Pipoco”, tira calcada em metáforas sexuais —”nem oito segundos o peão não aguenta com essa sentada”.

Essa mudança, aliás, é um pouco que Castela frisa em entrevistas. “Eu me dou muito muito com os mais novos, em questão de roupa, das batidas animadas na música, que as crianças e os jovens gostam. Só as letras. Tem umas letrinhas que não são tão legais para crianças escutarem, mas a gente vai melhorando”, diz ela, que não deixa, porém, de incluir as músicas antigas na setlist de seus shows.

Simone Mendes também motivo frisson. Na Mundo, seguindo um roteiro, isso transparece pouco, mas qualquer um que já tenha visto um de seus shows sabe que a cantora, com muito humor, não teme quebrar o decoro. Suas falas vão do que ela tem feito para manter a vida sexual ativa até sobre uma vez que uma mulher deve ser tratada no consórcio, o que dividiu o público da última Sarau do Peão de Barretos, a meca do sertanejo no interno paulista, entre aplausos e xingamentos.

Maiara & Maraísa, por sua vez, são conhecidas por sua sofrência etílica, um pouco que ainda motivo estranhamento em segmento do público. As canções da dupla escolhidas para o próprio são as mais românticas, uma vez que “Susto Truão”, mas são delas hits uma vez que “Aí Eu Bebo” e “Bebaça”, gravada em parceria com Marília Mendonça.

Num gênero músico que até hoje tem a pecha de ser pouco ingénuo às mudanças sociais, é difícil tachar de conservador um show de mulheres cantando não só sobre o quanto amam, mas também sobre o quanto bebem, sentam e cavalgam —numa aposta que ilustra o libido da Mundo de não se prender ao pretérito, uma vez que fazem as concorrentes, mas sem irritar uma parcela importante do público.

Folha

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