Ana cañas lança vida real e canta com ney matogrosso

Ana Cañas lança Vida Real e canta com Ney Matogrosso – 06/04/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

A música que abre o sétimo disco autoral de Ana Cañas dá nome ao álbum, “Vida Real”. A melodia com versos curtos e assertivos pode lembrar uma melodia de Belchior. A influência é compreensível, uma vez que oriente é seu primeiro trabalho depois de uma longa submersão na obra do cantor cearense.

Ana Cañas começou na pandemia seu projeto de trovar Belchior. Foram mais de 180 shows levados a respeito de 100 cidades. Seria impossível que os 14 meses que dedicou à gravação do novo álbum não fossem impregnados por um dos cancioneiros mais fortes da MPB. “Eu considero essa verificação um encómio. Porque eu não cantei Belchior, eu vivi Belchior.”

Ela recorda que tudo começou de forma despretensiosa. Para uma live durante a pandemia, ficou na incerteza entre os repertórios de Belchior, Cazuza e Rita Lee. A grande surpresa veio já no dia transmissão pela internet. No final da live, meio milhão de pessoas estavam assistindo.

“Meu celular tinha muitas mensagens. A primeira delas era do Ney Matogrosso. Ele escreveu, ‘Que coisa magnífica você está fazendo hoje. Siga cantando Belchior.’ Depois que eu li aquilo, não teve volta!” A turnê cresceu sem parar. “Muitos desses shows a gente construiu, a gente cavou. Eu aluguei teatro, comprei passagens da margem e rezei para vender ingresso. Foi na raça, sem patrocínio, tenho muito orgulho disso.”

No novo álbum, o espectro de Belchior se revela de forma ampla nas letras. Desde sempre compositora de versos muito pessoais, desta vez é provável ouvir uma Ana Cañas mais historiador, observadora. Personagens passeiam pelas letras, muitas autobiográficas, em registros que abraçam várias fases de sua vida.

No primeiro show da turnê, ela abriu um espaço antes de “Retrato 3×4”, a melodia de Belchior que mais a emociona, e falou de sua relação com a mãe, que estava na plateia. “Briguei com a minha mãe, saí de morada, fui morar num pensionato com várias profissionais do sexo. Elas dividiam prato de comida comigo, isso acontece quando eu tinha 18, 19 anos. E para sobreviver eu distribuía panfleto no semáforo.”

Verbalizando isso pela primeira vez, ela viu a plateia explodir, “gente chorando e tudo”. A iluminadora do show, Carolina Autran, disse portanto a Ana que nunca deixasse de narrar essa história nos shows. “E assim foi por mais de 180 vezes. A dor nos une. E pensei, se vou fazer um disco chamado ‘Vida Real’, eu tenho que fazer a minha ‘Retrato 3×4’.” E nasceu a melodia que abre o disco, que remete a essa passagem no final da juvenilidade.

“Do Lado de Lá”, que fecha o álbum, é uma melodia emocionante escrita para o irmão, morto em 2013. Entre essas faixas de grande fardo pessoal, ela mostra um repertório que fala muito de paixão, paixão e tesão. São bons exemplos as faixas em que convida amigos para trovar.

“Derreti” é uma melodia safada, insinuante, ao lado de seu assumido mentor, Ney Matogrosso. O dueto é o grande momento vocal do disco, e nunca é fácil encontrar quem se aventure a trovar com Ney e não fique intimidado por seu vozeirão.

As outras duas colaborações trazem cantoras famosas de estilos diferentes. Em “Amiga, Se Liga”, com Roberta Miranda, o resultado é uma gravação muito simpática. Ana Cañas visitante o forró sertanejo numa letra na qual as amigas exercem uma solidariedade feminina, o que é relevante num gênero no qual convivem letras machistas e canções de empoderamento feminino.

Mas o grande potencial para um hit está em “Brigadeiro e Moca”, não exclusivamente por ser um dueto vigoroso com Ivete Sangalo. É uma melodia que lista de modo recreativo coisas cotidianas que compõem uma relação, uma vez que consumir um “dogão” à luz de vela, ir ao futebol ou até o ato de receber, ou fazer, uma massagem no pé.

Falar de paixão é a base do disco. Desde uma melodia poderoso, direta e derramada uma vez que “Quero um Love” ou a confessional “Toda Mulher É Além”, até uma de forma lírica mais rebuscada, que é “O Que Eu Só Vejo em Você”, de Nando Reis, única das 11 faixas que não foi escrita pela cantora.

Ana Cañas já prepara o show do álbum, com sua margem. Sim, algumas canções de Belchior serão contempladas. E já tem planos de, a seguir, fazer um show intimista, sozinha no palco, contando histórias. Certamente tem grande quantidade delas depois da longa excursão pelo Brasil.

Folha

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