A nadadora brasileira Ana Marcela Cunha que vai em procura do bicampeonato olímpico em Paris na prova da maratona aquática não é a mesma que saiu com o ouro das águas no Parque Pelágico de Odaiba, em Tóquio, há três anos.
Nesse meio tempo, Ana Marcela passou por uma cirurgia no ombro, casou-se, mudou de técnico e até de país.
Atual campeã olímpica, eleita seis vezes a melhor nadadora de águas abertas do mundo e heptacampeã mundial, a soteropolitana é um dos principais nomes de sua geração na modalidade.
Ainda assim, entendeu que precisava mudar para manter-se no topo. No ano pretérito, encerrou a parceria com Fernando Possenti, seu treinador na conquista da medalha de ouro no Japão, e se mudou para a Itália para integrar a equipe comandada por Fabrizio Antonelli.
No país europeu, ela treina ao lado de nomes porquê o da alemã Leoni Beck, campeã mundial nos 10 km em 2023, e do italiano Gregorio Paltrinieri, ouro nos 1.500 m em Tóquio-2020.
“Falta um ano para a Olimpíada. Pensei: ‘Se meu objetivo é esse, tenho de transpor da zona de conforto, preciso buscar alguma coisa dissemelhante’. Depende, lógico, do trabalho do técnico, mas depende muito do meu trabalho, de quanto eu acredito e de quanto vou me empenhar para isso”, afirmou Ana Marcela em entrevista à Folha em 2023.
Segundo ela, sob o comando do novo treinador, passou a mourejar melhor com a rotina puxada de treinos diários. “Aprendi muito com o estilo de treino do Fabrizio. Tem vez que o corpo está cansado e ele fala: ‘esquece tudo e vai na técnica, é mais importante manter uma técnica boa, que depois as coisas encaixam. No prelúdios foi difícil porque brigo muito em todo treino, não só porque não quero perder para as outras, mas porque não quero perder para mim mesma.”
Ana Marcela acrescentou que algumas vezes saía cabisbaixa dos treinos por não conseguir entregar tudo aquilo que esperava, mas que sempre recebe o suporte e a crédito do treinador. “Temos melhorado a cada semana e isso faz com que tanto a mente quanto o corpo continuem, e não vejo a hora de chegar a Paris e competir.”
Além de se adequar ao novo método de treinos, também foi preciso mourejar com a sustento italiana baseada essencialmente em massas. “Se você pegar todos os dias da semana, de manhã, de tarde, de noite, almoço e janta, e tentar permanecer comendo só tamanho, vai ter uma hora que você vai falar, meu Deus, não aguento mais”, afirmou.
Por desculpa da dieta com que se deparou na região, a desportista passou a se nutrir mais em vivenda, onde consegue fazer um prato “mais brasiliano”, com arroz e feijoeiro preto escoltado de banana e uma proteína. “É uma forma de a gente se sentir um pouco mais próximo de vivenda”.
Na mudança para a Itália, Ana Marcela foi acompanhada da esposa, a preparadora física Juliana Melhem, com quem se casou em 2023. “Sinto falta do Brasil, da família, mas estou cá com a minha esposa, que também é minha preparadora física, a gente está com a nossa cadela também, não estou sozinha.”
As mudanças já deram os primeiros resultados. Em maio, foi campeã na prova de 10 km na lanço de Golfo Aranci (Itália) da Despensa do Mundo, mostrando estar totalmente recuperada da cirurgia no ombro esquerdo no término de 2022.
Antes, já havia ficado com o bronze na prova de 5 km no Mundial disputado em Doha, em fevereiro. Na mesma competição, terminou na quinta posição na prova de 10 km, quando carimbou a vaga para Paris.
“Não sinto dores, não tenho nenhum tipo de limitação. A gente vai ficando mais velha, a recuperação é mais lenta, portanto tem que se cuidar mais, mas estou fazendo tudo da melhor forma provável”, disse ela.
Uma das principais vozes do esporte na atualidade, Ana Marcela chegou a questionar no início do ano os planos dos organizadores dos Jogos de realizar a prova da maratona aquática no Rio Sena, devido aos níveis elevados de contaminação.
O governo galicismo fez um investimento bilionário para despoluir o rio, para que as provas da maratona aquática e da natação do triatlo aconteçam nas suas águas. No início de maio, foi inaugurado um grande reservatório que impede que resíduos oriundos da rede de esgotos sejam despejados no rio.
Nesta quarta-feira (17), a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, mergulhou no Sena para ‘provar’ que ele está capaz a receber as disputas olímpicas.
O trabalho convenceu a nadadora. “Não estamos preocupados com relação a mais zero”, afirmou ela em conversa com jornalistas em maio. “Vai ter [a prova da maratona aquática] dia 8 de agosto, nós estamos preparados e seja o que Deus quiser. Onde quer que seja.”
A nadadora afirmou ainda que, embora prefira provas no mar, também tem experiência em disputas realizadas em rios e lagos. Ela disse que a poderoso correnteza do Sena vai ser um dos principais diferenciais em termos de posicionamento e estratégia de prova para os atletas.
A maratona aquática feminina está prevista para o dia 8 de agosto, às 2h30 (horário de Brasília).