Nunca pensei que esse dia ia chegar, mas eis que, voilà, “And Just Like That” ficou ruim. Sem perdão. Obsoleto. E o pior de tudo: visagem. Vi os seis primeiros episódios da terceira temporada —o que foi liberado para a prelo—, e são 12 no totalidade.
Ou seja, ainda há a esperança de que tudo mude, e que esta estudo se autodestrua quando o sétimo incidente for ao ar, na primeira quinzena de julho. A série estreia nesta quinta-feira (29) na Max —ou HBO Max, uma vez que o serviço voltou a se invocar, um ano depois a mudança.
Dentre os termos impostos pela plataforma para levante texto, estavam não revelar a profissão da personagem da Rosie O’Donnell, que faz uma participação privativo, nem quem morre —ninguém relevante—, nem a doença de um personagem secundário, nem uma pulada de murado que não culpa o menor tremor.
Isso limita bastante o que dá para redigir, e, infelizmente, o que sobra são quase só críticas negativas. Melhor que quem as faça seja alguém que convive com estas personagens intensamente desde que “Sex and the City” estreou, no século pretérito, e mudou tudo.
Não foi “The Sopranos” que inaugurou a tal da era de ouro da TV, mas “Sex and the City”, que estreou um ano antes, mas tinha mulheres uma vez que protagonistas e um tom mais cômico que dramático —ou seja, não foi levado tão a sério. Era preciso um varão poderoso, potente e malvado, e Tony Soprano cumpria todos os requisitos. E a série era ótima mesmo.
Mas o mundo mudou, e hoje em dia há personagens mulheres de todas as idades em tramas incríveis, sejam elas dramáticas, cômicas ou esdrúxulas, tipo zumbis ou vampiras.
Quer uma velhota engraçada, malvada e incrível? Veja “Hacks”, com a divina Jean Smart no papel da incrível Deborah Vance. Quer uma turma de mães ricas em um suspense de tirar o fôlego? “Big Little Lies”, com Nicole Kidman, Reese Witherspoon, Zöe Kravitz e Laura Dern. Até “Desperate Housewives”, da ABC, um ducto sincero, hoje em dia no catálogo da Netflix, um clássico que teve oito temporadas entre 2004 e 2012, é mais emocionante.
Os novos episódios de “And Just Like That” dão a sentimento de que não foram feitos pela mesma equipe de “Sex and the City”, que tinha um grupo de mulheres altamente neuróticas, disfuncionais e dispostas a se botar à prova numa cidade que era, por si só, um duelo.
Agora, as três que sobraram do elenco original, Carrie, Miranda e Charlotte, são três dondocas mainstream, totalmente realizadas na vida profissional, sem a menor preocupação com numerário. Uma casada e 100% feliz com sua vida, apesar de ter duas adolescentes em mansão, uma viúva que já reencontrou um idoso namorado enamorado e disponível, pronto para reviver o romance e outra que se descobriu lésbica tarde na vida, mas faz o maior sucesso entre mulheres e navega o novo universo sem nenhum conflito.
Na falta da “vagaba” da turma, Samantha —que até agora só participou por WhatsApp nos primeiros seis episódios—, foram inseridas no elenco, na primeira temporada, quase a fórceps, uma corretora de imóveis de luxo de prosápia indiana e grande gosto sexual, e uma documentarista negra, casada, rica e realizada profissionalmente.
Podia ser um bom “mix”, mas não é. Dessas coisas da vida, tem gente que a gente aceita trocar um pedaço dos nossos dias para testemunhar aos dias delas, tem gente que faz esse negócio parecer um desperdício de tempo.
Até onde eu pude ver, tudo pareceu assim. Ninguém neste elenco desperta a mínima curiosidade, a vontade de saber mais, de passar mais tempo junto. Até o figurino perdeu a perdão. Aliás, pior do que isso, ficou ridículo. Charlotte se veste uma vez que uma “stepford wife” —uma dona de mansão arrumadinha e submissa—, Miranda adotou um estilo macacão, e Carrie, que quase não sai da mansão chique e vazia em que mora, continua usando alta-costura e salto eminente no dia a dia, para ir do quarto para a sala.
Tem até uma subtrama que faz uso desse desatino, e essa, na verdade, é a única ponta de esperança que eu tenho para os próximos episódios. Se ninguém se comportar um pouco pior ou tiver alguma atitude de má-fé nos episódios sete e oito, lucro que faço com uma das séries que mais marcaram a minha vida adulta, o mesmo que fiz com a novidade versão de “Vale Tudo” —olvidar que está no ar.
Não vale tudo. Para zero e para ninguém. Que paciência e tempo livre têm limite.