Anna Maria Maiolino Abre Nova Exposição Em São Paulo

Anna Maria Maiolino abre nova exposição em São Paulo – 02/02/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Há sete anos, Anna Maria Maiolino colocou tinta nanquim num conta-gotas e começou a pingar sobre o papel. Os líquidos preto e vermelho caíam na forma de pontos na superfície, mas a artista achou um jeito de produzir linhas a partir das gotas, em traços tão retos quanto a mão livre permitia ou circulares uma vez que labirintos.

“São questões geométricas —a traço feita de pontos. Importa a pulsão vital da minha mão realizando isso, uma vez que está sendo colocada essa pinga, a que profundeza. Há uma performance do fazer, uma gestualidade. E é importante a qualidade do papel, se ele é mais poroso ou não. É quase uma risota de menino”, diz a artista.

Intitulada “Conta-gotas”, a série de desenhos inéditos é um dos momentos-chave da terceira exposição de Maiolino em sua galeria paulistana, Luisa Strina, que abre para o público neste sábado, ocupando os dois espaços expositivos do lugar e também o escritório da galerista.

A mostra vem num momento de reconhecimento e celebração da obra de Maiolino, uma imigrante italiana que saiu de seu país depois da Segunda Guerra e aportou no Rio de Janeiro em 1960 para escalar, dezena depois dezena, o panteão da arte brasileira.

Aos 81 anos, ela ganhará em abril o prêmio pelo conjunto de sua obra na Bienal de Veneza, exposição na qual participa com um trabalho na mostra principal.

Na galeria estão reunidos 45 trabalhos escolhidos pela artista e realizados da dezena de 1990 em diante, o equivalente a mais ou menos metade de seus 64 anos de curso. O recorte engloba obras que Maiolino considera maduras —esculturas de soalho, de mesa e de parede, pinturas em grandes dimensões, desenhos, vídeos e fotografias.

“Não me acho fotógrafa nem ‘videomaker’. Sou uma experimentadora de suportes que permite divagar com minha fantasia e meu libido de experimentação”, ela diz, numa conversa por telefone na qual volta e meia sobressai no falar sua entonação italiana. “Não sou uma artista de uma nota só.”

Porquê os trabalhos expostos são abstratos, não contam histórias —assim uma vez que boa secção da obra da artista—, uma maneira de entender a mostra é pensar no ponto e na traço uma vez que a gênese da produção de Maiolino, diz a organizadora da exposição, Kiki Mazzucchelli.

Estas formas se repetem em diferentes suportes, uma vez que nas grandes pinturas vermelhas nas quais uma figura arredondada se derrete pela tela ou num trabalho de bastões de gesso recluso à parede.

Maiolino interpreta o ponto e a traço de maneira ampla, não unicamente com rigor. Na série de fotos em preto e branco “Corpo – Paisagem”, de 2018, a artista aponta a câmera para seus olhos fechados e para fragmentos de seu rosto de modo que, para quem presta atenção, os vincos e os pontinhos deixados pela idade na pele se tornam as formas geométricas.

Outro destaque da mostra é uma série de quatro fotos, também em preto e branco, onde vemos uma mulher de burca, em pé, na frente de corpos de animais pendurados em ganchos num frigorífico. Uma das imagens parece um raio-x, uma vez que se o negativo fotográfico tivesse sido ampliado, e em outra a artista escurece a tela, exceto os pés e uma das mãos da personagem, que ficam brancos e saltam aos olhos uma vez que fantasmagorias.

Chamada “A Vida Porquê É”, a série resultou de uma bolsa da Rockfeller Foundation que levou a artista para uma temporada de trabalho em Bellagio, na Itália. Maiolino primeiro fotografa e depois trata as imagens no computador, em obras que tratam de mutilação de forma metafórica, segundo ela. Esta é a primeira vez que as fotografias são exibidas.

Durante a conversa, Maiolino soa contente e, quando não se lembra de qualquer pormenor ou data específica, pede ajuda à sua assistente, que trabalha com ela há 18 anos e a quem labareda de “meu HD extrínseco”.

Sua alegria tem razão de ser —na semana que vem, a artista secção rumo a Veneza para preparar a obra que apresentará na bienal, uma instalação monumental feita de greda, material com o qual trabalha desde o termo da dezena de 1980.

“Estou feliz de estar em Veneza uma vez que artista brasileira, porque devo muito ao Brasil. Aprendi muito com os artistas cariocas —o uso da liberdade e da experimentação que eles tinham com a arte”, ela diz, em referência aos seus anos no Rio de Janeiro, período em que estudou pintura, estátua e xilogravura na Escola Pátrio de Belas Artes. Ela também participou da clássica exposição “Novidade Objetividade Brasileira”, no Museu de Arte Moderna do Rio, quando estava no início de sua curso.

Ao refletir sobre seu tempo de vida e as seis décadas de produção artística, Maiolino afirma ter muita bagagem e muita memória. Mas faz uma ponderação sobre seu estado de espírito bem-humorado. “A arte sempre te dá aconchego e apoio. É muita alegria e essa alegria pesa nas tuas costas. Não é só a tragédia que pesa, a alegria da arte pesa e te preocupa.”

A exposição de Maiolino abre as comemorações das cinco décadas de instalação da galeria Luisa Strina, que se completam nascente ano. Criada e comandada pela galerista de mesmo nome, o espaço é hoje uma das principais casas de arte do país —fazer secção do elenco de artistas representados pela marchand é visto no mercado uma vez que um selo qualidade. Estão previstas sinais de nomes fortes da vivenda, uma vez que Renata Lucas, Fernanda Gomes, Leonor Antunes e Mira Schendel, além da publicação de um livro.

Folha

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