'anora' Expõe Misoginia Em Trama Sobre Garotas De Programa

‘Anora’ expõe misoginia em trama sobre garotas de programa – 28/01/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

“Não é Anora, é Ani.” Essa é uma das frases que sintetizam o filme queridinho do momento, “Anora”, dirigido por Sean Baker. Em 2025, continua a discussão: ainda precisamos de histórias que exploram o corpo feminino sob a ótica masculina? Segundo o júri de Cannes, que deu ao trabalho a Palma de Ouro, e a calorosa recepção do filme, a resposta parece ser sim.

O filme nos apresenta Anora, vivida por Mikey Madison, porquê uma stripper e pequena de programa supostamente protagonista. Ela rapidamente se torna uma figura secundária na própria história, unicamente um dos problemas evidentes do roteiro.

A cinematografia, dominada pelo olhar masculino, foca as interações sexuais de Anora com os homens de forma desproporcional. Se Sean Baker pretendia desestigmatizar as trabalhadoras do sexo, essa tentativa é anulada logo no início do filme.

Pode toar clichê, ou até excessivamente crítico, mas porquê audiência feminina fiquei profundamente incomodada durante as duas horas e 18 minutos de “Anora”. Sentada no cinema, senti um desconforto crescente enquanto escutava uma sala predominantemente masculina rir tá, transformando a experiência em um pouco ainda mais perturbador.

Antes de sua estreia solene, “Anora” teve sessões disputadíssimas na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no ano pretérito. Apresentado inicialmente porquê um narrativa de fadas moderno, o filme mostra Anora porquê uma mulher assertiva que não tolera desrespeito. Conforme a trama avança, no entanto, ela é reduzida a um mero estereótipo.

Ani, que consegue peitar o possessor do clube de strippers sobre direitos trabalhistas, se ilude ao ser contratada porquê namorada de aluguel de Ivan (Mark Eydelshteyn), um jovem que parece um jovem, rebento de um oligarca russo.

A princípio, Anora parece motivada unicamente pelo verba, mas rapidamente a narrativa a transforma em uma figura iludida e apaixonada por um jovem que a pede em enlace por mero divertimento. A desconstrução da esperteza de Anora motivo estranhamento.

Em outras obras em que vemos strippers ou profissionais do sexo, porquê “As Golpistas”, filme de 2019 dirigido por Lorene Scafaria, há uma esperteza nessas mulheres, já que, geralmente, vêm de um contexto marginalizado. Simples que zero impede um ser humano de ser facilmente enganável, mas a forma porquê isso é disposto na história parece servir para que Ani se torne uma vítima que precisa ser salva.

Nesse ponto, o foco se desloca para Igor —Yura Borisov, indicado ao Oscar por sua atuação—, um capanga do oligarca russo apresentado porquê o “salvador” de Anora e retratado porquê um rapaz aparentemente gentil. Mas a narrativa recorre a uma retórica previsível, reforçando a teoria de que ela não seria capaz de resolver sua vida sem mediação masculina —um artifício que Sean Baker insiste em tratar porquê indispensável.

A trama prioriza o desenvolvimento do “príncipe” russo e negligencia uma sátira mais profunda às estruturas de poder que sustentam a violência.

O filme omissão em desenvolver a história pessoal de Anora; conhecemos pouco sobre sua família e ouvimos unicamente breves menções de uma amiga. A trama se concentra em rivalidades superficiais entre dançarinas, reforçando o estereótipo da mulher competitiva com outras mulheres. A escassez de uma solução satisfatória para a trajetória de Anora intensifica a frustração.

Ani é frequentemente rodeada por homens, já que poucas mulheres têm espaço significativo na tela. Ela também é colocada em situações que exigem dela um comportamento submisso.

Embora Sean Baker tente inserir algumas falas supostamente engraçadas para pintar sua protagonista porquê empoderada, o que unicamente reforça um comportamento imposto pelo patriarcado na vida das mulheres, não há qualquer tentativa de prolongamento verdadeiro da personagem.

O roteiro insiste em humilhar Anora, desde a negação de sua identidade —insistindo em chamá-la de Anora quando ela prefere Ani. A personagem é explorada sexual, psicológica e fisicamente, mas tudo é mascarado porquê se fosse uma grande comédia, já que o filme tenta transformar a violência em um pouco jocoso, com cenas de agressão apresentadas de forma cômica.

Próximo aos minutos finais, fica a expectativa de uma reviravolta, na qual Anora poderia finalmente tomar as rédeas da situação. Porém, o roteiro desmorona ainda mais. A protagonista, uma mulher jovem que passou por diversos tipos de agressões ao longo do filme, decide questionar o personagem apresentado porquê seu “salvador”, Igor, sobre por que ele não quis estuprá-la. Ela repete a pergunta mais de uma vez.

Observar a esse diálogo é profundamente perturbador. Não é necessário ser mulher para compreender que esse é um dos maiores medos que muitas enfrentam. Somente uma perspectiva masculina poderia inserir uma fala desse tipo em um filme e considerá-la apropriada, o que evidencia a falta de sensibilidade da produção ao mourejar com temas tão graves porquê violência doméstica e afronta sexual.

Folha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *