Anouk Aimée Mostrou Para O Mundo O Amor à Moda

Anouk Aimée mostrou para o mundo o amor à moda francesa – 18/06/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

No imaginário universal, Anouk Aimée será sempre a Anne de “Um Varão, Uma Mulher”, de 1966. Em outras palavras —fundamentalmente uma mulher belíssima, sofisticada, moderna, intelectualmente espantoso. Mas também capaz de se entregar com calor a uma paixão, mesmo suportar por ela, sem todavia perder sua elegância e o controle sobre si.

De manifesto modo, a atriz morta nesta terça-feira era um arquétipo de mulher dos anos 1960, que toda uma geração feminina aspirava a ser — ao menos as que pertenciam a uma certa escol intelectual, que achavam mais interessante ter por protótipo sua figura discreta do que a da mulher erótico, que não passava despercebida dos olhares desejosos masculinos, porquê Brigitte Bardot. Ou a da amante meio trágico, de poder não vasqueiro destrutivo sobre os homens com quem ia para a leito, encarnada por Jeanne Moreau.

Nesse sentido, Aimée era uma figura com mais proximidade à de Catherine Deneuve, delicada e alguma coisa gélida – um objeto cinematográfico menos material, mais etéreo. Mas sua formosura era dissemelhante mesmo entre as francesas.

Ao mesmo tempo em que os olhos e cabelos negros, o nariz levemente pronunciado, lhe davam um vista mais latino, talvez sarraceno, ela tinha uma palor e uma constituição física delgada que lhe imprimiam uma frieza quase nórdica. Embora houvesse em sua figura um vista por demais melancólico, com uma irremediável propensão à tristeza —e, nesse ponto, talvez ela se aproximasse mais de uma Capucine.

Mas Aimée teve uma trajetória bastante própria no cinema. Nascida em Paris em 1932, deu os primeiros passos na arte que a consagrou nos anos 1940, ainda juvenil. Foi por essa quadra que Jacques Prévert, seduzido com sua figura, teria lhe oferecido a teoria de incluir “aimée”, dulcinéia em francesismo, ao nome artístico, que inicialmente era exclusivamente Anouk, referência a sua personagem em um dos primeiros filmes.

Costumava interpretar mulheres sofridas e frágeis, em filmes de nomes importantes do cinema francesismo, porquê André Cayatte, Alexandre Astruc, Jacques Becker e Georges Franju. Mas foi na Itália que ela daria uma primeira viradela em sua curso, atuando em dois longas de Federico Fellini —”A Gulodice Vida”, de 1960, e “Oito e Meio”, de 1963.

Neste último, fez um de seus papeis mais lembrados —Luísa, a mulher do cineasta vivido por Marcello Mastroianni, que precisava aturar infidelidades que faziam segmento de seu processo artístico. Também ali ela vivia uma mulher sofrida, mas apresentada sob uma ótica autoral e idealizada —mais do que a mulher traída, era a do porto seguro, de onde um varão consegue sua força nas horas de crise, um tipo de personagem que, hoje, provavelmente não seria tão muito aceito.

Foi depois de ver os dois filmes fellinianos que o atorJean-Louis Trintignant deu a teoria ao cineasta Claude Lelouch para chamá-la para “Um Varão, Uma Mulher”, e o resto é história. Um estrondoso sucesso mundial, Palma de Ouro em Cannes, que ajudou a inclusive firmar a imagem do Brasil enquanto nascimento de música boa, nos trechos em que a personagem de Aimée relembra um romance movido a uma versão em francesismo de “Samba da Bênção”, cantada por Pierre Barouh. Aimée foi até indicada para o Oscar de melhor atriz, na primeira vez que uma francesa concorria em um longa falado na sua língua de origem.

Mas na memória de um público mais ferrenhamente cinéfilo, talvez seu papel mais marcante tenha sido o da prostituta Lola, de “Lola, a Flor Proibida”, de 1961, filme cultuado de Jacques Demy. Não ela teve —e teria— tanta viveza em cena. Quando sua personagem canta e se apresenta na música “C’est Moi, C’est Lola” com muito charme e certa displicência, a atriz imortalizava a si e ao filme em um dos trechos mais definidores dos princípios do cinema da nouvelle vague feito na quadra.

Seu sucesso faria Demy levar a personagem a outro longa —uma dez mais tarde, Lola reviveria no hoje cult “Model Shop”, de 1969, filmado em Los Angeles.

Que não foi, aliás, a única experiência da atriz nos Estados Unidos, mas o tipo de mulher que Aimée encarnava talvez fosse excessivamente europeu para ela emplacar uma curso sólida em Hollywood. Reza a mito que George Cukor, que a dirigiu em “Justine”, de 1969, um grande fracasso, não se entendeu com seu método e reclamou de não conseguir extrair emoção alguma da atriz. Irritou-se com sua indiferença. Que fazia segmento de seu charme.

A vida pessoal de Aimée foi provavelmente bastante rica, incluindo romances com Warren Beatty e Omar Shariff, mas ela nunca rendeu grandes materiais para tabloides. Casou-se de papel pretérito pela quarta e última vez com o também ator Albert Finney, na dez de 1970, um período em que praticamente sumiu das telas.

Voltou em grande estilo em 1980, com recta a um prêmio de melhor atriz em Cannes, pela mulher emocionalmente perturbada de “Salto nel Vuoto”, de Marco Bellocchio, contracenando no ano seguinte com Ugo Tognazzi, em “A Tragédia de um Varão Ridículo”, de 1981, de Bernardo Bertolucci. Mas os tempos áureos já estavam no pretérito.

Em 1986, voltou a encontrar Lelouch e Tringtignant na prosseguimento “Um Varão, Uma Mulher: 20 Anos Depois”, e o trio retornaria ainda a um último encontro em “Os Melhores Anos de uma Vida”, de 2019.

Seria o quina dos cisnes tanto de Tringtignant quanto de Aimée, e uma maneira tocante de fechar as trajetórias das duas figuras que, talvez mais do que quaisquer outros, mostraram para o mundo o que é o paixão à voga francesa.

Folha

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