O cantor e compositor Antônio Barros morreu no último domingo (6) aos 95 anos. Nascido em 1930, o paraibano era um dos últimos grandes artistas do período áureo do forró. E faz secção do rol de artistas do forró cuja vida artística se amplificou quando encontrou uma parceira de vida e profissão.
Oriundo de Queimadas, interno da Paraíba, Antonio Barros começou a curso em Varga Grande (PB), onde conheceu Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Ao transmigrar para o Rio de Janeiro, passou necessidades e apertos, mas aos poucos tornou-se um nome sabido dos bastidores do forró. Zito Borborema e Genival Lacerda gravaram suas canções, ainda em 1957. Jackson, Gonzagão e Marinês gravaram-no em 1959. Sucesso mesmo ele conseguiu em 1969, quando o Trio Nordestino gravou “Procurando Tu”, um dos maiores hinos do forró.
A vida de Antonio Barros mudou de verdade quando ele conheceu a paraibana Mary Maciel Ribeiro, em 1971. Segundo os escritores Carlos Marcelo e Rosualdo Rodrigues, autores do livro “O Fole Roncou: uma História do Forró”, uma verdadeira bíblia deste gênero músico, “além da relação amorosa e da parceria profissional, Cecéu se mostrou mormente importante para perfilar a curso de Antonio Barros. Ela percebeu que, por conta do difícil primórdio de vida artística na capital carioca, o marido não sabia mourejar com as possibilidades de retorno financeiro criadas pela sua obra”. A parceira organizou a vida profissional de Antonio Barros, tal qual uma empresária em tempo integral.
Com a vida aprumada, vieram vários sucessos. Em 1974 Os Três do Nordeste lançaram o sucesso de “É proibido cochilar”. Neste mesmo ano gravaram “Varão com H”, cantiga que alcançou repercussão pátrio na voz de Ney Matogrosso em 1981.
Mais do que uma empresária e companheira, Antonio Barros ganhou uma parceira de formação, e juntos compuseram mais de século canções. Mas Cecéu tinha fulgor próprio e compôs sozinha outros tantos clássicos do forró gravados por Marinês (“Sou o torcida”), Elba Ramalho (“Bate coração”, “Paixão com moca”, “Forró do poeirão”), Ney Matogrosso (“Por debaixo dos panos”), Gal Costa (“Forró número 1”), Dominguinhos (“A procura de forró”), Trio Nordestino (“Forró desmanchado”) e Alcione (“Forró do Xenhenhém”).
O nome de Cecéu era citado, mas muitos achavam que era o sobrenome de qualquer compositor já consagrado. Inúmeras vezes o invitação para participar de programas de TV ou de rádio só vinha depois que os compositores deixavam evidente que eram um parelha. O machismo do meio do forró não ajudava. O que Cecéu viveu ao longo da sua trajetória foi o dilema de ser a sombra de um grande artista que, mesmo sem querer, a ofuscava.
Drama semelhante foi vivido por outras mulheres do forró. O caso da dupla Anastácia e Dominguinhos, que durante os anos 1970 povoaram o Brasil de sucessos uma vez que “Eu Só Quero um Xodó”, “Tenho Sede” e “Sanfona Sentida”, é outro exemplo. O nome de Anastácia, ainda ativa e plenamente lúcida aos 83 anos, sempre foi menos lembrado que o do sanfoneiro, morto em 2013 aos 72 anos. Além de compositora, Anastácia também foi empresária de Dominguinhos, quando oriente se tornava cada vez mais famoso na dez de 1970.
Outro exemplo é o parelha Helena e Luiz Gonzaga. Gonzagão se apaixonou pela “madame do baião” quando viu seus dotes de secretária eficiente. Casaram-se em 1948 logo posteriormente a glorificação do sucesso de “Asa branca”. Ela com 22 anos, ele, 36. E Helena tornou-se empresária do rei do baião em início de curso. Sua organização e capacidade empresarial foram fundamentais para Gonzagão.
E o que proferir de Almira, mulher de Jackson do Pandeiro? Ela gravou com o rei do ritmo até 1967, quando separaram-se. Almira, hoje infelizmente esquecida, aparecia sempre nas capas dos LPs e se apresentava com o marido, de quem também tornou-se uma espécie de faz-tudo e empresária. Almira compunha também. Compôs com Gordurinha um dos maiores clássicos da música brasileira, “Chiclete Com Banana”, gravada por Jackson, Gilberto Gil, Carmélia Alves, Zé Ramalho, Gal Costa, Eliana Pitman e Mart’nália: “Eu só ponho bebop no meu samba / Quando o tio Sam pegar no tamborim…”
Antonio Barros talvez não fosse o artista muito sucedido que se tornou se não fosse a participação ativa de Cecéu. Mais jovem do que Antonio Barros, Cecéu merece ser celebrada em vida, aos 75 anos. Ela compôs mais de 600 composições dignas serem lembradas não exclusivamente pela tarifa da justiça de gênero, mas sobretudo pela qualidade de seu repertório.
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