Aos 82, paulinho lima mostra material com antonio cicero

Aos 82, Paulinho Lima mostra material com Antonio Cicero – 29/04/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Paulinho Lima está desde cedo talhado a conviver com grandes nomes da cultura brasileira. Na puerícia em Itabuna, no sul da Bahia, conheceu as cantoras Dalva de Oliveira e Dolores Duran. No termo dos anos 1950, seu colega de sala no curso ginasial do escola São Bento, em Salvador, era o jovem Raul Seixas.

“Ele não chamava muita atenção no escola. Nos anos 1970, teve uma vez que Raul foi com Paulo Coelho lá em vivenda e perguntou: ‘Paulinho, você não se lembra de mim no São Bento?’”, diz o compositor, produtor e empresário, aos 82 anos.

Na produção mais recente, está um material inédito gravado de setembro a outubro do ano pretérito com o poeta Antonio Cicero.

Foram três encontros, o último deles somente 20 dias antes de Cicero morrer na Suíça em procedimento de suicídio visto. “Pra mim foi um choque terrível. Pra todo mundo foi uma coisa surpreendente”, lembra. O material, uma espécie de documentário, tem a previsão inicial de ser lançado ainda neste ano.

Em 1963, Paulinho foi morar no Rio de Janeiro para alavancar sua curso no teatro. Trabalhou uma vez que produtor, mas chegou a vencer um prêmio de ator revelação em 1965.

Sua volta à Bahia, em 1968, foi em grande estilo. Primeiro, trabalhou na produção do filme “O Dragão da Malícia Contra o Santo Guerreiro”, de Glauber Rocha. Em seguida, foi coprodutor do show “Barra 69”, que marcou a despedida de Gilberto Gil e Caetano Veloso antes do exílio.

“Glauber era muito sério no set de filmagem, ele não sorria durante o trabalho”, comenta Paulinho. No Rio de Janeiro e em Novidade York, conheceu de perto as excentricidades de João Gilberto, mas também seu charme. “Eu nunca fui a um show de João Gilberto. Mas toda noite eu ia ao flat dele, e ele tocava só para mim”, conta.

“João seduziu Gal, seduziu a mãe de Gal, seduziu a empregada de Gal, seduziu a mim”, diverte-se. “Ficávamos esperando o telefone tocar para falar com João”. No início dos anos 1970, Paulinho morou com Gal Costa e Dona Mariah, mãe de Gal. Ele empresariou a cantora e produziu o show “Fa-Tal — Gal a todo vapor”.

Paulinho se lembra de Gal uma vez que “a pessoa mais gula, mais deferente e mais fácil de se trabalhar”. Ele chegou a conversar com Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir quando eles visitaram Itabuna, em 1960, levados por Jorge Estremecido.

O trabalho no mundo músico levou Paulinho Lima a virar letrista de mais de 60 canções, incluindo o grande sucesso “Risco”, que virou hit na voz de Zizi Possi. Essas e muitas outras histórias estão no seu livro “Criancinha do Muito, Gênio do Mal” —verso de “Risco”—, lançado em 2016 com texto de Antonio Cicero na contracapa.

“Ele sempre me viu muito maior do que eu sou”, diz Paulinho Lima sobre o colega. Foi a crédito no companheiro que fez o poeta, já sofrendo os efeitos do Alzheimer, se deixar filmar pela última vez declamando poemas e contando histórias.

“Ele achava que eu devia produzir um show dele com Marina Lima, mas nós começamos a ver que seria um ato de loucura ir para o palco, pois sentíamos que ele não estava muito muito”, conta Paulinho. “Portanto eu combinei com ele que iria documentá-lo dizendo os poemas dele”.

Produtor de dois discos de poemas de Antonio Cicero, ele imaginava que a vontade do companheiro em fazer a gravação era para se ocupar e para registrar o próprio trabalho, mas não sabia que era também uma despedida. “Cicero era muito organizado com essas coisas”, explica Paulinho sobre o profissionalismo do companheiro.

O segundo e mais importante dia de filmagens teve a presença do artista visual Pedro Drummond —neto e curador do montão do poeta Carlos Drummond de Andrade—, quando foi gravado a maior secção do material.

“Cicero era super profissional, e com o tempo ele foi ficando muito seguro para falar os poemas dele e de outras pessoas. Ele adorava os poemas de Drummond, por exemplo”, conta Paulinho, que às vezes recebia ligações de Antonio Cicero para ouvi-lo declamando poemas por telefone.

Durante as filmagens, Paulinho Lima fez um papel parecido com o de Fernando Faro no programa Experiência, com sua voz surgindo por trás da câmera e conversando com Antonio Cicero. Ao todo, são 52 poemas lidos pelo poeta, tudo filmado de forma intimista.

Com Antonio Cicero muito disposto e entusiasmado, as imagens têm momentos engraçados e o gato do poeta roubando a cena. “Quando eu vi o material todo, eu senti que eu tinha alguma coisa muito valedoiro nas mãos”, diz Paulinho, que entregou os arquivos a Julio Souto, editor da TV Mundo.

O projeto tem o escora da cantora Marina Lima, mana de Antonio Cicero. “Que maravilha, Paulinho!! Você era um companheiro que Cicero adorava! Vai ser incrível”, escreveu a cantora nas redes sociais.

O próprio Antonio Cicero chegou a observar secção das filmagens. “Ele viu pouca coisa. O que ele viu, ele gostou muito”, revela Paulinho. “Ele era muito rigoroso com essa coisa da trova. Ele se considerava um poeta, ele não se considerava um letrista”.

Paulinho Lima e Antonio Cicero são parceiros em duas canções. Paulinho ainda fez “Desencontros na Lapa” em homenagem ao companheiro. Mas é o poema “Vigilar” que indica muito a missão que Antonio Cicero deixou para ele: “Vigilar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la”.

Folha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *