Após annette, leos carax emula voz de godard em novo

Após Annette, Leos Carax emula voz de Godard em novo filme – 22/04/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Vasqueiro nesses tempos, o lançamento de um média e um curta-metragem compondo uma sessão dupla de cinema. Mais atípico ainda é Leos Carax ser a liga entre “Não Sou Eu” e “Parábola Urbana”, diretor no primeiro e ator no curta de Alice Rohrwacher e JR.

“Não Sou Eu” é fruto de toda uma trajetória deste virtuoso cineasta e de seu cinema servindo para averiguar o decurso da história do século 20 e, simples, das artes em universal. O Núcleo Pompidou lançou para o diretor responder, em imagens, a pergunta sobre onde ele está. Uma questão muito a ver com leste cineasta que é uma espécie de historiador do século pretérito e das artes daquele período.

Carax tem sido, parece, melhor reconhecido nos últimos anos. O drama músico “Annette”, de 2021, com Adam Driver e Marion Cotillard, rendeu a ele o prêmio de melhor direção no Festival de Cannes. Ainda assim é pouco para quem foi injustamente enquadrado no BBC, {sigla} maldosamente criada para definir Luc Besson, Jean-Jacques Beineix e Leos Carax porquê expoentes de um mesmo cinema, o do maneirismo do início dos anos 1980.

Besson se notabilizou por “Subway” e “Nikita”. Beineix fez “Diva” e “Betty Blue”. Filmes tão cultuados quanto vazios em suas estilizações publicitárias.

Carax era também aderente da forma cinematográfica, mas para fins mais elevados. O citado filme de 1984 relia o tema das relações amorosas que marcou a nouvelle vague para conceituar elementos da linguagem cinematográfica, porquê o som, o espaço teatralizado, o drama, o texto falado e diálogos com filmes, músicas e dança. Uma espécie de desvelamento da gramática cinética.

Considerado por alguns porquê datado, “Sangue Ruim”, de 1986, era um gesto de experimentação audiovisual, contando com Juliette Binoche, Michel Piccoli e Denis Lavant. Um trampolim para “Os Amantes de Ponte Neuf”, de 1991, superprodução que refez Paris em estúdio e com luzes e formas hemorrágicas.

É a crise de desajuste dos seres e do mundo o tema médio da obra de Carax. Mormente em “Pola X”, de 1999, e “Holy Motors”, de 2012 —leste último principalmente interessante por partir da arte porquê resistência para falar sobre o capital, os nefastos donos do poder, a arte antepassado e pura do teatro, música e dança, o cinema e a tecnologia do dedo.

Não à toa Leos Carax reencontra Jean-Luc Godard em “Não Sou Eu”. Reencontra porque Godard sempre esteve no coração de Carax, que aliás atuou em “Rei Lear”, de 1987.

Em estrito geral, ambos são historiadores do século 20. “Não Sou Eu” deve muitíssimo aos “História(s) do Cinema” de Godard. Carax emula o tom e voz do diretor e a típica semiologia de imagem e som, letreiros e fusões godardiana. Não é plágio, mas confluência de sensibilidades e estares no mundo.

Um momento privativo é a imagem de Roman Polanski fantasmada na tela e acompanhada da voz de Carax falando “não conheço esse sujeito, mas ele é porquê eu, cineasta e baixinho, e ele perdeu uma secção da família dele no Sacrifício, perdeu a esposa, massacrada quando estava pejada, e esse cá sodomizou uma mocinha”.

Carax passará por Putin, Donald Trump, o varão na Lua, Hitler, a subjetiva de James Stewart vendo o coque de Kim Novak em “Vertigo”, usa imagem do protagonista de “Alemanha Ano Zero”, de Rossellini, para expor vagamente que aquele menino é ele, Carax. Passa por David Bowie, por Nina Simone cantando em Antibes e leva o “Nature Boy” de Miles Davis aos ouvidos do testemunha.

Há presenças e citações infinitas, da música e filmes de Nicholas Ray, Fritz Lang e Jean Epstein ao retratismo, pintura, arquivos visuais e até mesmo falas de Antonin Artaud e Jonas Mekas. E “o sorriso da velocidade”, tema que habita seu cinema desde sempre e que porta a origem de tudo —o primeiro cinema, o do movimento em Eadweard Muybridge e o do artifício em George Méliès.

Leos Carax desenha um mundo tenebroso, entre solidão, dor, descompasso, martírio e crise ao mesmo passo em que celebra a paixão, a catarse, o encantamento e vida pulsantes.

O outro filme, “Parábola Urbana”, conta com a cineasta do premiado “La Chimera” e do artista JR, que dirigiu com Agnès Varda o último filme dela e é aderente de revestir áreas urbanas e rurais com grandes painéis.

É o que faz cá, numa esquina de Paris que tem escondida uma caverna de Platão. A fábula não é das mais inspiradas, sobretudo comparada com o filme de Carax. Falta a materialidade que até mesmo as mais estilizadas imagens dos filmes de Leos Carax trazem sobre a exigência de mundo, mas é um desfecho no mínimo singelo.

Folha

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *