As Olimpíadas de Paris espalharam arenas por pontos turísticos e conhecidos da cidade, e os cartões-postais são uma marca desses Jogos. Mas o espírito olímpico também alcançou locais menos famosos. Seine-Saint-Denis, território mais pobre e mais jovem da França, tornou-se uma vitrine do legado social que os Jogos de Paris querem deixar.
Seine-Saint-Denis é um dos 101 departamentos da França, na periferia setentrião da Grande Paris. Abriga 1,7 milhão de habitantes em somente 236 quilômetros quadrados, dimensão menor que o município de Guarulhos. 27,6% vivem sob a risco da pobreza, pela definição francesa (muro de R$ 14 milénio para um parelha com dois filhos menores). Um terço tem menos de 25 anos. Suas ruas costumam abastecer o noticiário policial da prelo parisiense.
Tapume de um terço da população é estrangeira ou naturalizada francesa. Seine-Saint-Denis é notório pela insuficiência dos serviços de ensino e saúde, pela taxa de desemprego supra da média e pela desigualdade de nível de renda.
A atribuição dos Jogos a Paris, em 2015, não acabou com os problemas de Seine-Saint-Denis, mas ajudou a iniciar uma transformação. O departamento vai homiziar oito esportes olímpicos (atletismo, boxe, escalada, nascido sincronizado, pentatlo moderno, saltos ornamentais, rúgbi e polo aquático) e três paralímpicos (para-atletismo, paraciclismo, vôlei sentado).
Quatro sedes olímpicas ficam ali: o Stade de France, a Estádio Paris Setentrião, o recém-construído Meio Aquático e o Muro de Escalada. A sede do comitê organizador dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos fica em uma de suas cidades, Saint-Denis.
Por conta de tudo isso, o departamento recebeu investimentos que melhoraram as condições de moradia, ensino e lazer da população.
“É nosso sítio prioritário para os benefícios dos Jogos”, explicou à Folha Marie Barsacq, diretora executiva de impacto e de legado dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos. “O que construímos, foi para atender necessidades sociais em Seine-Saint-Denis.”
Um exemplo emblemático são as piscinas. Cinco novas piscinas públicas foram instaladas, entre elas a do núcleo aquático olímpico.
Na França, considera-se saber nadar uma habilidade básica, que todos devem possuir. Seine-Saint-Denis tem um dos menores índices de aproximação a piscinas em todo o país, uma piscina para 42 milénio habitantes, quatro vezes menos que a média francesa.
Em 2021, o comitê Paris-2024 lançou em Seine-Saint-Denis um programa batizado “1, 2, 3, nadem!”, que ensinou mais de 36 milénio crianças a nadar, segundo Barsacq.
O legado dos Jogos, porém, vai muito além de piscinas.
Seine Saint-Denis ganhou mais de 4 milénio novas moradias, com a construção das vilas olímpicas para os atletas e para a prelo.
Quatro escolas foram abertas, com 1,8 milénio vagas ao todo. Uma novidade estação do metrô foi inaugurada no mês pretérito, facilitando a vida de quem trabalha em Paris.
Os contratos para obras olímpicas representaram uma receita de 330 milhões de euros (muro de R$ 2 bilhões) para quase 400 empresas com sede no departamento, gerando 1,9 milénio empregos para os jovens da região.
Até o Brasil deu uma pequena taxa para a revitalização da região. O Comitê Olímpico do Brasil (COB) instalou sua base em Saint-Ouen, uma das cidades de Seine-Saint-Denis. Um palacete do século 19 e um pavilhão de eventos, próximos à vila dos atletas, estão servindo de espaço de convívio, treinamento e sustento para a delegação brasileira.
O prefeito de Saint-Ouen, Karim Bouamrane, é um enamorado pelo futebol brasílico, desde a puerícia, quando viu pela televisão a seleção de 1982. Deu o nome do ex-jogador Sócrates (1954-2011) a uma das ruas da vila olímpica. Brinca, chamando Saint-Ouen de “Brésil-sur-Seine” (Brasil sobre o rio Sena).
Em retribuição pela acolhida, o presidente do COB, Paulo Wanderley, deu a Bouamrane uma réplica da camisa 8 que Sócrates usava na seleção.
Bouamrane fechou parcerias com o Museu de Arte do Rio e o estado do Pará, terreno natal de Sócrates. “Em 2025, artistas de Seine-Saint-Denis vão ao Brasil. Uma delegação vai a Belém para a COP-30, tutelar a luta contra as mudanças climáticas”, conta o prefeito, entusiasmado.
Os Jogos nem de longe resolverão todos os problemas de Seine-Saint-Denis. A revitalização provocou a gentrificação de algumas áreas, principalmente no entorno da Vila Olímpica. Uma reportagem do jornal “Le Monde”, em maio, mostrou que muitas escolas do departamento continuam carentes de equipamentos esportivos. Teme-se que o novo núcleo aquático se torne um elefante branco. São problemas que outras cidades olímpicas viveram ao tentar deixar um legado social em regiões carentes.