Taylor Swift é peixe pequeno para M. Night Shyamalan. A rapariga dos olhos do diretor é Saleka, a mais velha das suas três filhas, que, além de cantora nos palcos reais, é a atração ficcional de “Insídia”, o novo filme do pai, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (8).
Sob o pseudônimo de Lady Raven, a artista de 27 anos é a cantora favorita de Riley, filha do protagonista, o amoroso bombeiro Cooper, na pele de Josh Hartnett, que leva a filha a um megashow da notoriedade.
Ele se desdobra para deleitar a pequena, mas descobre que, porquê Lady Raven, ele mesmo é a atração do dia. O primeiro “plot twist” de Shyamalan, célebre por filmes porquê “O Sexto Sentido” e “Sinais”, está no próprio argumento —e já no trailer.
Cooper é um serial killer, o Magarefe, publicado por fazer picadinho das vítimas, pessoas comuns que rapta e trancafia em porões de bairros tranquilos da Filadélfia, e o show é uma arapuca para capturá-lo.
A câmera escrutina cada ponto daquele espaço, recheado de figurantes pelas arquibancadas e corredores, colando-o à neurose de Cooper em encontrar uma saída daquela situação, entre setores restritos e alçapões, sem invocar a atenção da filha ou das dezenas de policiais que revistam o sítio. A obra estreia no contexto de uma infeliz coincidência, em seguida a prisão, na quarta, de suspeitos em Viena, que planejavam um ataque terrorista durante um show de Taylor Swift.
“Tudo veio em seguida escoltar os shows da Saleka, as movimentações nos bastidores, porquê cada segmento do evento se desenrola, porquê cumprimentar os fãs… Era um ótimo espaço para se fazer um thriller”, diz Shyamalan.
Nesse embalo, o próprio público se vê enredado numa trama sobre pai e filha —e numa zero sutil autopromoção de Saleka, que já havia escrito canções para os filmes do pai e agora preparou um álbum inteiro.
“A teoria partiu de ‘Purple Rain’, quando pensamos que o fundo músico poderia ser um disco, e partir dele teríamos um suspense onde esses elementos coexistem”, diz Shyamalan, em referência ao disco-filme de Prince, ganhador do Oscar em 1985. “Mas o tom está mais próximo de um filme veemente dos anos 1990, com uma figura guloseima e misteriosa porquê a de ‘A Sombra de uma Incerteza’ [de Hitchcock].”
Entre versos porquê “seu paixão é uma arma carregada/ só um estranho/ aos meus olhos, somos sempre um”, o suspense tem várias cenas dedicadas ao palco, em takes fixos, imitando a visão de um pai, um pouco entediado, obrigado a ver um espetáculo com celulares tapando sua visão.
“São as coisas que você faz porquê um pai de rapariga, desde trançar seus cabelos até ir a shows de cantores que você não conhece, tentando entender um tanto enquanto todas gritam, animadas”, diz ele, que aproveita para espalhar pelo cenário cartazes de “Os Observadores”, terror que marca a estreia da sua outra filha, Ishana, porquê diretora.
Mas na era dos “nepo babies”, “Insídia” está longe de uma propaganda disfarçada. Em sua resguardo, Shyamalan sempre foi ligado à família e teve sua primeira filha aos 25 anos, antes do sucesso de “O Sexto Sentido”.
Depois de “Tempo” e “Batem à Porta”, onde pensou a crise da fé e o término do mundo a partir de tramas fantasiosas, agora ele questiona a dualidade da natureza humana em uma chave mais realista, “mas com todo o sabor de uma história sobrenatural”.
“Há duas coisas reais que interessam o público: dinossauros e serial killers. Ambos são monstros que existem e nos espantam”, diz Shyamalan. “As estatísticas são impressionantes —4% das pessoas no mundo são sociopatas. Elas não têm empatia. Isso não quer proferir que vão fazer picadinho das pessoas, mas elas fingem ter sentimentos. O terrível, para o resto dos 96% de nós, é saber que alguém próximo a você pode não sentir zero.”
Uma questão que parece café-pequeno para quem, em “Fragmentado”, explorou um rapaz, na pele de James McAvoy, com um transtorno que o fazia intervalar entre 23 personalidades. Mas esse caráter bifronte dos personagens e das imagens —um tema típico no cinema de Brian De Palma, outro discípulo de Hitchcock— estimula outras ideias.
Não por casualidade, é Hartnett, que trabalhou com De Palma em “Dália Negra”, quem traduz isso em seu corpanzil de 1,90 metro. “Cooper é um personagem onde luz e trevas são extremidades”, diz o ator. “A grande sacada foi levar ao público a perspectiva do contraditor, e nos fazer gostar e torcer por ele”, afirma Hartnett, que se entrega ao papel com uma atuação enxurrada de caras e bocas, para trasladar esse chiaroscuro moral.
“Quando seus filhos te verem pelo que você é, mesmo com seus segredos obscuros, eles ainda vão te amar? Agora que minhas filhas são adultas e unicamente me veem porquê um varão, ainda me amam com a mesma intensidade de quando eu era um ser perfeito?”, pergunta o cineasta.
A produção vem na esteira de um novo reconhecimento de Hartnett, marcado por anos porquê o galã de “As Virgens Suicidas”, de 1999. No ano pretérito, ele viveu o físico Ernest Lawrence no oscarizado “Oppenheimer”, protagonizou um incidente da sexta temporada de “Black Mirror” e, no mês pretérito, fez uma ponta em “O Urso”.
É uma novidade aposta para quem há quase 20 anos tateava produções de prestígio, em paralelo ao cinema de ação mercantil. Com um papel no limite do caricatural, e trabalhando com um diretor que não vasqueiro vira troça para a indústria, Hartnett, naturalmente, não procura um Oscar, e concorda que Shyamalan seja subestimado porquê fundador.
A julgar pelas primeiras reações da prensa internacional, “Insídia” não deve ter um tratamento dissemelhante dos seus últimos filmes, cheios de reviravoltas e pistas falsas.
“Brian [De Palma] tem uma sensibilidade única, muito ligada aos anos 1970, que conduz o público por meio de sequências incríveis. Já o Night é um cinéfilo que sabe o que a audiência de hoje quer, tem mais simpatia pelo público e se preocupa em ser original”, diz Hartnett, sobre o thriller que não ignora as onipresentes dancinhas de TikTok.
Além do trabalho dramático, a encenação tem seu próprio talento. Uma das regras que o cineasta impôs ao seu diretor de retrato —o tailandês Sayombhu Mukdeeprom, cobiçado por diretores porquê Apichatpong Weerasethakul e Luca Guadagnino— era de que, no estádio, a câmera deveria escoltar o posicionamento das personagens naquele espaço, um tanto que se justifica conforme Cooper põe seus improvisos em prática.
“Eu desenhei todos os enquadramentos, expliquei porquê cada um traduzia o pensamento do Cooper, até a viradela para outro personagem. Discutimos muito sobre cada movimento e efeito de iluminação”, diz Shyamalan. “E rodamos tudo em película.”
Detalhes porquê esses elucidam um diretor que já reverenciou o horror, a ficção científica e as histórias em quadrinhos no cinema no primícias do século, antes de serem temas da tendência. Agora, sob o signo contemporâneo das popstars, Shyamalan sorri ao exibir esse novo fruto. “A ironia é que não fui a nenhum show da Taylor Swift.”