Arnaldo Antunes Expõe A Intimidade Em Mostra Em São Paulo

Arnaldo Antunes expõe a intimidade em mostra em São Paulo – 24/09/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Um dos maiores hits da curso do cantor Arnaldo Antunes é “A Moradia É Sua”, lançada no álbum “Iê Iê Iê”, cuja letra convida a uma visitante. Depois, ele gravou um DVD num palco montado em sua residência, que ganhou o nome “Ao Vivo Lá em Moradia”. Agora, uma exposição de trova visual, notadamente caligrafias, no Instituto de Arte Contemporânea (IAC), em São Paulo, leva mais uma vez os interessados à intimidade do artista.

Ladeado por dezenas e dezenas de rascunhos de sua autoria, Arnaldo olha para as paredes cobertas por pedaços de papel e concorda. “É um pouco uma vez que eu fiz ao terebrar a minha morada para o DVD. Cá estou abrindo minha intimidade, essas coisas estavam quietas em morada antes de virem para cá.”

Esses trabalhos em tinta sobre papel expostos na sala correspondem à metade da mostra. Ao buscar pontes e relações entre a obra de Antunes e o pilha do IAC, o curador Daniel Rangel decidiu montar um “espelho arquitetônico”. “Não quis colocar as obras lado a lado. Fiz essa opção de fabricar duas salas, uma que abrigasse o trabalho do Arnaldo e, outra, o pilha do IAC. A teoria é que as salas vibrem de forma parecida”, diz.

Curador e artista trabalharam juntos em quatro eventos, desde 2001. Antes da pandemia, ele disse a Rangel que gostaria de expor seus rascunhos. A teoria foi arquivada e, há dois anos, o IAC cruzou o caminho da dupla, conta o curador.

“No ano pretérito, uma das diretoras do IAC, Têra Queiroz, me convidou para pensar uma exposição no instituto. Na hora eu falei de Arnaldo. Foi uma junção do libido dele e do meu entendimento que era o contexto perfeito para expor os rascunhos, devido à coleção do IAC. Não existe uma outra instituição em São Paulo que tenha um pilha constituído não por obras, mas pelos processos de geração dessas obras.”

A série do IAC ajuda a rodar seu pilha para o público. Em 2022, a primeira mostra dessa série, “Diálogos Contemporâneos: Marilá, Willys, Lothar”, reuniu trabalhos de Marilá Dardot, alguns produzidos durante a pandemia, e rascunhos e documentos de Willys de Castro e Lothar Charoux, dois dos 19 artistas com acervos no IAC.

Depois que Arnaldo selecionou os lotes, entre pastas, caixas e gavetas, tudo foi trazido ao instituto. Rangel foi portanto ao material do IAC e diz ter conseguido uma espécie de risca do tempo.

“São artistas que de certa forma forjaram Arnaldo. Você começa com os que fizeram a primeira Exposição Pátrio de Arte Concreta, a primeira vez que poemas foram expostos em paredes. A geração seguinte é a de Regina Silveira, Carmela Gross, Antonio Dias, uma geração multidisciplinar por natureza. Arnaldo é o que vem logo depois. Quando as obras foram para esses espaços que a gente fez, isso ficou muito evidente.”

“É uma exposição que se costuma fazer depois que a pessoa morre”, afirma o artista. “Logo, é um privilégio participar da seleção e fazer isso em vida.”

Arnaldo destaca que é um registo vivo, ao qual ele recorre quando procura novas criações. “A minha produção se dá muito materialmente. Não sou aquele instituidor que concebe tudo e quando materializa já está pronto. Trabalho com muitas versões, mudando, transformando, usando um pedaço daquilo em outra coisa.”

Ele explica que o material no IAC tem esboços de coisas que viraram canções, objetos, vídeos e poemas publicados. Mas tudo sempre secção do papel e da tinta. Nanquim, tinta de chancela, canetas de vários tipos, pena, tinta de escrita. Há escrita com tubo de tinta e com pincel, colagem cortada com tesoura ou rasgada com a mão. Os suportes são vários tipos de papel, até papel higiênico, guardanapos e lenços de papel, estes que Arnaldo define uma vez que “papel de arroz de pobre”. “Ele tem uma aspiração maior da tinta, uma maior porosidade. Fiz experiências com isso.”

Para Arnaldo, a escrita é um universo fértil de experimentação, que tem correspondência com os recursos da fala e do esquina. “É uma vez que se a disposição das letras, a inflexão do traço, o tremor da mão e a velocidade fossem indicações de entonações gráficas, sugerindo sentidos para ler além da termo que está grafada ali. A voz é emitida pelo corpo, e o traço manual também, uma vez que se a escrita fosse o rastro do gesto, a incorporação do movimento no papel.”

É óbvio que a nomeada uma vez que cantor atrai visitantes. “Com Arnaldo, a gente consegue inferir um público dissemelhante”, afirma Rangel, ao se lembrar de pessoas chegando a alguma mostra de Arnaldo e se surpreendendo com a trova visual, já que esperavam um pouco sobre sua curso músico, com fotos de shows ou roupas usadas no palco.

Para o artista, isso é um pouco positivo. “Eu não tenho uma prioridade. Uma coisa não veio antes da outra. Desde muito novo eu me interessava por trova visual e por melodia, e essas coisas estavam num diálogo muito frutuário no Brasil dos anos 1970. Comecei a ter aulas de violão ao mesmo tempo que comprava revistas de trova. Essas fontes todas se juntavam numa espécie de visão de contracultura que me atraía, um pouco da coisa de vanguarda, mais marginal.”

Folha

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