Arquibancadas vazias são o retrato do brasileiro feminino 08/05/2025

Arquibancadas vazias são o retrato do Brasileiro feminino – 08/05/2025 – O Mundo É uma Bola

Esporte

Daqui a pouco mais de dois anos, de 24 de junho a 25 de julho de 2027, o Brasil voltará, depois de 1950 e 2014 –ambos de péssimas lembranças–, a realizar uma Despensa do Mundo de futebol. Será, pela primeira vez, a feminina.

Uma vez que é uma Despensa do Mundo, haverá muita mídia em cima do evento, e é provável que os estádios recebam, mais por curiosidade que por atratividade, bom público, não exclusivamente aqueles que abrigarem os jogos do Brasil, que certamente estarão lotados.

Muito dissemelhante do cenário atual do Campeonato Brasiliano feminino, no qual, quando o matéria é público, reina a indiferença.

Admito que acompanho minimamente a competição, por falta de tempo e de interesse. Priorizo campeonatos jogados pelos homens, principalmente Champions League, que teve semifinal espetacular entre Barcelona e Inter de Milão, e Premier League, além da Libertadores.

Porém, ao me deparar eventualmente na TV com os gols do Brasiliano delas, as câmeras mostram segmento dos locais das partidas além do campo de jogo. E a torcida, com raríssimas exceções, inexiste, ou perto disso.

Não tenho porquê declarar que os estádios estão às moscas porque às vezes nem elas parecem estar lá. Há gatos pingados, e um dia será interessante saber quem são, ser elaborado o perfil do torcedor que vai observar “in loco” às partidas. Serão os parentes e amigos das atletas do time mandante?

É decepcionante, até meio triste, constatar que elas jogam frequentemente para quase ninguém. Possivelmente elas, as personagens do espetáculo, também pensam assim.

Há mais atenção hoje do que antes ao futebol feminino? (Parênteses: aprendi que é incorreto usar o termo “futebol feminino”, já que o esporte não é feminino ou masculino, mas até hoje não encontrei outra forma, portanto continuo usando. Todo mundo entende.) Sim, há.

São mais investimentos, seja da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), que ampliou cotas às equipes e mesa a logística do campeonato, seja de patrocinadores, com a salvaguarda de que o pedestal aos clubes vem, majoritariamente, de casas de apostas (impressiona porquê elas se multiplicam, deve ser um negócio altamente rentável).

Existe também mais exposição na TV, com noticiários mostrando gols e emissoras habilitadas a exibir partidas, incluindo a Orbe (conduto lhano), que só deve fazê-lo nas fases finais. SporTV (conduto fechado), que é do Grupo Orbe, e TV Brasil (conduto estatal, lhano) têm espaço nas suas grades para uns poucos jogos.

Duvido que muita gente assista, mas quero confiar que seja mais do que quem vai às partidas. Os relatórios dos jogos não estão todos disponíveis no site da CBF, irregularidade que impede uma estudo completa, mas os que pude consultar mostram um quadro sombrio.

Um exemplo: Palmeiras 1 x 2 São Paulo, no sábado pretérito, em Barueri (Grande São Paulo), teve 458 espectadores, sendo que só 142 pagaram ingressos. Público que, mesmo sendo pequeno para times de enorme torcida e rivalidade, pode ser considerado “ótimo” se forem feitas comparações.

No feriado do Dia do Trabalho, em Bento Gonçalves (RS), Juventude 0 x 4 Palmeiras foi visto no estádio Serra dos Vinhedos por 29 “testemunhas”. No mesmo sítio, em uma quarta-feira de abril, Juventude 1 x 0 Bragantino teve o mesmo número de torcedores que o de jogadores no gramado: 22. Cada um pagou R$ 10 para entrar.

Está custoso? Não está, mas mesmo quando é de perdão o “resultado” não atrai. Caso de São Paulo x Corinthians, disputado no CT de Cotia (Grande São Paulo) diante de 360 torcedores, e de todos os jogos do Instituto 3B, de Manaus, que tem média de 208 torcedores quando atua no Amazonas.

Enquanto isso, em alguns países o futebol delas é muito mais respeitado. Na Inglaterra, a média de público da Superliga, a ramificação de escol, superou 7.300 na temporada 2023/24.

Outras duas constatações minhas sobre o Brasiliano feminino.

1) O campeonato, que conta com 16 equipes, é deficitário, escancaradamente. Os jogos dão prejuízo de milhares de reais, à exceção de quando o Corinthians é mandante (a Leal é mesmo leal no incentivo às Bravas, sempre com mais de 6.000 ingressos adquiridos para os confrontos na Fazendinha).

2) A disparidade técnica é gritante quando se comparam determinados clubes. O Instituto 3B, com 4 pontos em 27 possíveis, foi duas vezes humilhado com goleadas por 8 a 0, para Corinthians e São Paulo. Pior na tábua está o Sport Recife, com 1 mísero ponto, 22 detrás do líder, o Cruzeiro.

É preciso despertar nos fãs de futebol apreço maior pelo jogo das mulheres. Uma vez que? Os envolvidos –CBF, clubes, patrocinadores, TVs (e outras plataformas de exibição)– precisam encontrar uma fórmula.

Ou o vazio persistirá.

Folha

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