Artista Ros4 Cultua Identidade Travesti Em Mostra 18/06/2024

Artista Ros4 cultua identidade travesti em mostra – 18/06/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Foi durante uma cerimônia do candomblé que a rapper e artista visual Ros4, de 28 anos, encontrou o título para a sua mostra atual. “Esse Casco Pode Ter Tudo que Esse Casco Quiser Ter!” aborda a exaltação da identidade travesti e as religiões de matriz africana em autorretratos, músicas e instalações.

A exposição, organizada por Nutyelly Cena, está em exibição na Meão Galeria, em São Paulo, até o dia 3 de agosto, e leva o visitante à narrativa sensorial de dez anos de produção da artista, que traz mensagens sobre perseverança e autoafirmação.

Brasiliense, Ros4 construiu sua identidade artística de forma simultânea à identidade de gênero. Aos 17 anos ingressa no curso de história da arte na Universidade de Brasília e desenvolve a vontade de se entender mulher por meio das fotografias.

“Quando eu comecei a fazer os autorretratos, utilizava um celular muito ruinzinho na estação, mas eu tive que aprender a subverter a técnica para me expressar”, conta ela.

A mostra é o resgate do trabalho de Ros4 em seu processo de construção porquê mulher e artista, em uma exibição que a fotógrafa define porquê o encontro entre o sagrado e o secular.

Feito em concomitância ao disco “R.O.S.4”, de 2024, a exposição tem músicas do projeto porquê trilha sonora, em um estilo músico que mistura trap e hip hop.

“Traz muito das minhas vivências, mas também tem uma pegada de imaginar novas possibilidades de existência. A fabulação travesti”, afirma.

Na ingressão, chaveiros personalizados com a sentença laroyê, a saudação à Exu, aparecem pregados em volta da imagem da revestimento do disco, formada por uma vela acesa em cima de um salto cumeeira. A arte do álbum está em consonância ao que a exposição transmite.

No núcleo do espaço expositivo há a representação, em pilastras de madeira, do que já foi uma das moradias de Ros4 quando vivia em situação de vulnerabilidade. Uma vez que um pequeno templo, a estrutura é preenchida com uma geladeira e fotos da artista no Reino Unificado, vestida de prometida.

“É uma teoria de barraco. Cresci morando em um. E depois, morando sozinha, vivi em um barraco de telha”, conta.

As imagens que preenchem o barraco são da série “The Silent Path”, de 2015. Os autorretratos foram produzidos durante um intercâmbio da artista na Inglaterra.

Em uma delas, Ros4 aparece em frente a uma igreja. Na outra imagem, a artista está deitada em uma caçamba de lixo. “Eu entrei na caçamba e me fotografei porque eu me sentia um lixo na estação, sentia que as pessoas tratavam as pessoas trans porquê lixo, no Brasil.”

Ros4 carrega em sua identidade a luta pelo recta de ser mulher. “Tem muitas pessoas que acham que travesti é ofensa ou que travesti é bagunça. É sobre ressignificar essas palavras, igual as pessoas fizeram com bicha ou com sapatão. Falar, ‘sou sapatão, sim, sou bicha mesmo, sou travesti’. Portanto, eu me identifico porquê mulher trans e porquê travesti, também.”

Na série “Tratamento de Reposição Hormonal Automedicado”, de 2015, Ros4 traz quatro autorretratos em que aparece nua para mostrar as fases da terapia hormonal para a feminilização corporal por conta própria.

“Historicamente, a sociedade impôs que, para você ser uma mulher trans, tem que usar hormônios, fazer uma cirurgia, ter uma vagina, mas eu não preciso tomar hormônios para ser uma mulher”, diz.

A sentença de gênero de Ros4 também é materializada em um pole dance. A fotógrafa diz que antes do pole tinha muita disforia de gênero, mas que o esporte a fez se sentir “uma grande gostosa”, a amar seu corpo antes mesmo de ter silicone nos seios.

O outro mote da exposição, a religiosidade, inunda o envolvente em ondas sonoras e elementos de religiões de matriz africana. Projetado em uma das paredes da galeria, o clipe das músicas “Maria Navalha/Salve Seu Zé” traz a cultura da umbanda e as entidades da religião na gravação de uma oferenda.

A religiosidade também é vista nas oferendas dispostas em frente à estrutura de madeira que avalancha a um barraco. Em alguidares, que são pratos de barro, com cigarros, moedas e isqueiros, Ros4 monta seu ponto de devoção às entidades que segue.

A fotógrafa faz da arte a representação de si. Próximo ao olho esquerdo, ela tem tatuada a termo luz, que exprime as ideais da artista e a vontade de usar o próprio talento para iluminar o mundo sobre a inconstância humana e a crença sem preconceitos.

Folha

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