Rabino Lourival Igarapé tem 73 anos. Há mais de 30, o artesão, compositor e percussionista participa de apresentações de carimbó, uma sintoma cultural popular do Pará. Agora, além de trovar, tocar e espalhar a tradição artística nortista, ele tem outra função: receber de comunidades paraenses ideias e colaborações para fazer com que o carimbó e outras práticas culturais do estado se fortaleçam.
O artista paraense é um dos guardiões do projeto Rodando com Carimbó, uma iniciativa que começou a percorrer cidades do nordeste do Pará para fazer apresentações e buscar informações que ajudem a fabricar uma política de fortalecimento da cultura regional. Com a realização da COP30 na capital paraense, promotores culturais uma vez que ele esperam que o evento possa desenvolver políticas públicas e também o turismo cultural do estado.
Até o próximo dia 31, a frota passará pelas cidades de Catadupa do Piriá, Bragança, Santarém Novo, Igarapé-Açu e Marapanim.
“Eu acredito que possamos ser recebidos da melhor forma provável em comunidades que venham a admitir essa troca de sabedoria”, disse o artista à Dependência Brasil, quando pegava a estrada na capital paraense, Belém, rumo à primeira apresentação, no Quilombo de Camiranga, em Catadupa do Piriá, município de pouco menos de 20 milénio habitantes.
“O carimbó representa tudo na vida para mim, é uma forma de viver”, define ele, que diz estar “feliz da vida” no papel de guardião do programa.
“O que me sustenta é essa robustez que eu recebo de trabalhar com cultura popular, o carimbó”, diz ele. No mundo carimbozeiro, além de tocar, o rabi compõe e faz os instrumentos.
Origem da tradição
O carimbó surgiu no Século 17, na região amazônica, e, mais especificamente, no nordeste do Pará. É uma sentença cultural que une música e dança, difundida por escravizados africanos e enriquecida com influências indígenas e europeias.
A termo carimbó remete a tambor. Uma particularidade marcante das apresentações são as roupas coloridas de cantores e dançarinos, que costumam incluir estampas floridas.
Desde 2014, a dança é reconhecida uma vez que patrimônio cultural incorpóreo do Brasil. Leste ano, o carimbó virou destaque no carnaval carioca, levado ao sambódromo da Marquês de Sapucaí pela Acadêmicos do Grande Rio, escola de samba que conquistou o vice-campeonato.
Rodando com Carimbó
A teoria de fabricar o Rodando com Carimbó é da produtora cultural belenense Joanna Denholm. O projeto é patrocinado pelo Banco da Amazônia e tem parcerias do Banco do Brasil, Caixa Econômica Federalista e Correios.
A iniciativa foi selecionada pelo programa Rouanet Setentrião, do Ministério da Cultura, que está no contextura da Lei Rouanet de incentivo à cultura e foi criado para levar mais recursos para os estados nortistas.
Joanna conta que a teoria de viajar com o carimbó e buscar elementos para subsidiar uma política pública surgiu ao perceber um apagamento de tradições culturais.
“A gente se mudou para Mosqueiro, uma ilhéu região de Belém, e a gente viu apagamento de várias culturas populares por lá”, conta à Dependência Brasil.
“A gente tinha mais manifestações, por exemplo, o cordão de bichos, uma sintoma cá do Pará, que tem o cordão de pássaros, é uma coisa que existia na ilhéu e não tem mais. A gente vê dificuldade de manutenção de culturas populares”.
A produtora informou que, em um primeiro mapeamento das áreas a serem visitadas, já constatou outros sinais de apagamento cultural, uma vez que a tradição do tamborim, no Quilombo de Camiranda. “Estamos tentando resgatar isso junto com a comunidade”.
Troca de saberes
A produtora diz que o carimbó é a principal linguagem de notícia do projeto por justificação da prestígio dessa sentença cultural para o estado.
“O carimbó é a nossa linguagem principal. A gente nasce com o carimbó, a gente tem a prática do carimbó dentro das escolas, a minha geração teve isso muito fortemente. É uma prática muito potente nossa”, descreve.
Em cada quina que o Rodando com Carimbó parar, haverá, além das apresentações em escolas e espaços comunitários, conversas com atores culturais das comunidades.
“A gente labareda todo mundo para dialogar conosco, fazedores de cultura, gestores, professores… e, a partir disso, a gente vai elaborar um relatório final que vai servir para impulsionar políticas públicas”, descreve.
Ela destaca que a troca de vivências permitirá que as políticas a serem criadas sejam adequadas a cada localidade.
“A gente precisa entender cada localidade para inaugurar a entender a complicação de fabricar políticas que possam atender realmente cada lugar com mais eficiência”, aponta.
O relatório ficará disponível para a sociedade social e governos. Qualquer pessoa poderá acessá-lo no perfil do projeto no Instagram.
Visibilidade com a COP30
O ano de 2025 é privativo para o Pará. A capital, Belém, sediará, em novembro, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). Chegarão ao estado visitantes de diversas partes do planeta.
Para Joanna Denholm, essa é uma oportunidade de o carimbó e as demais expressões culturais paraenses ganharem visibilidade e relevância.
“São várias manifestações culturais, vários modos de fazer, várias práticas”, diz ela, que cita outras manifestações uma vez que o boi, as quadrilhas e erveiras.
“A gente espera que as pessoas entendam a flutuação e a grandeza do Pará, porque a gente é muito multíplice e muito dissemelhante. Cada sítio tem, inclusive, o seu carimbó, com um jeito de ser tocado”, acrescenta. “A gente espera que, com a COP30, possa desenvolver políticas públicas e também o turismo cultural do estado”, finaliza.
Programação
O projeto itinerante se apresentou e conversou com representantes locais de Catadupa do Piriá, na quinta-feira (20). Outras quatro cidades aguardam a passagem do grupo:
23/03, 9h: Bragança, Auditório da UBS Taira.
26/03, 14h: Santarém Novo, Barracão da Irmandade de São Benedito.
28/03, 17h: Igarapé-Açu, Vetusto Mercado Municipal.
31/03, 16h: Marapanim, Vila Silva, Associação Cultural Sereia do Mar, Espaço Cultural Mestra Francisca.
A segunda período do projeto será em maio e incluirá outros cinco municípios a serem definidos.