Posteriormente protagonizar por muito tempo demonstrações técnicas do PlayStation, o robô Planeta foi finalmente promovido e ganhou neste mês um jogo de plataforma completo —e um dos melhores do tipo dos últimos anos.
Desenvolvido internamente na repartição de games da Sony, “Planeta Bot” agrega o que há de único nas produções da Nintendo, maior referência no gênero, e dá ao PlayStation 5 um título que, embora tenha um escopo menor, é mais memorável do que qualquer outro blockbuster recente da empresa.
Isso porque o estúdio nipónico Team Asobi encontra um estabilidade preciso entre originalidade, bom humor e esmero pela mídia para erigir o que talvez seja um dos principais jogos exclusivos de uma geração de videogames que ainda luta para se justificar.
A missão do protagonista é resgatar companheiros de viagem e pedaços de sua nave espacial, atacada por um estranho e que caiu em um planeta deserto. Tendo a nave o formato de um PS5, as partes são componentes do console, e os colegas são robôs muitas vezes fantasiados de personagens de jogos conhecidos.
Porquê em “Super Mario Galaxy” do Nintendo Wii, as fases estão dispostas na forma de planetas que, juntos, formam galáxias. Em cada uma dessas etapas o objetivo é mourejar com inimigos simples, realizar pulos precisos e desvendar segredos até a traço de chegada. No final de cada galáxia, um encarregado precisa ser superado.
Essa premissa mecânica simples exige que o diferencial esteja na trajetória, ou seja, na forma uma vez que o jogo vai incentivar o jogador a ir do ponto A ao ponto B. “Planeta Bot” faz isso instigando a curiosidade e dando atenção ao cenário e às possibilidades de interação.
Se por um lado o design muito feito das plataformas faz com que o jogador sinta-se transportado por uma mão invisível, por outro a vontade de querer resgatar todos os robôs —há 300 no jogo inteiro— interrompe essa fluidez para dar lugar a uma sucursal maior.
A minuciosidade da construção dos cenários reforça o libido de explorar, já que praticamente qualquer objeto dá alguma resposta à interação. Vegetação, animais, pisos de diferentes materiais e muitos outros pequenos elementos respondem ao movimento de Planeta, de forma com que cada planeta funcione uma vez que um mundo de neve sendo chacoalhado.
É nesse ponto também que se destaca o poder do console. Gráficos verossímeis dão lugar à física de objetos precisa, cenários vibrantes e personagens expressivos. Já o controle DualSense oferece uma responsividade que não era vista, muito, desde “Planeta’s Playroom”, o jogo pré-instalado no PS5 que foi precursor deste.
Um bom exemplo disso é que em algumas fases um conjunto de blocos interrompe o caminho. Para desenredar qual deles está solto e liberar a passagem, o jogador deve se aproximar do conjunto e, vagarosamente, sentir através da vibração do controle qual está mais instável e empurrá-lo.
O jogo é repleto dessas pequenas interações que incentivam a experiência do folgar, evidenciando a todo momento o poder específico aos videogames.
Os “power-ups”, poderes especiais, também oferecem novas perspectivas ao transformar a forma de mourejar com inimigos, plataformas e o mundo ao volta. Um deles reduz Planeta ao tamanho de um rato, permitindo-lhe se infiltrar em pequenas passagens, enquanto outro garante pulos mais longos, entre muitos outros.
Se no “Planeta’s Playroom”, de 2020, segmento da perdão era resgatar a história do hardware do PlayStation desde os anos 1990, desta vez o foco são os jogos que fizeram segmento disso.
Em cada período, além dos Bots comuns, há os especiais que referenciam qualquer personagem relevante para a marca, de Crash Bandicoot a Joel Miller de “The Last of Us”. E o melhor é que as referências vão além dessas aparições, já que no final de cada galáxia o jogador assume a pele de um deles para entrar em uma período que imita as mecânicas desses jogos.
A mesma inspiração nos melhores jogos de plataforma 3D que dá a “Planeta Bot” a força que tem também mostra algumas limitações no trajectória de se tornar uma marca autossuficiente.
O protagonista ainda precisa de uma identidade própria desenvolvida além das referências nas quais se sustenta, e seus movimentos não têm a mesma expressividade vista em “Super Mario 64” e “Super Mario Odyssey”, por exemplo.
Muito mais econômico que os jogos de prestígio da PlayStation, um grande feito do jogo é mostrar que há uma saída mais sustentável para um setor em crise. Além da tentativa persistente de tentar emplacar um “Fortnite” próprio, a exemplo de “Concord”, a situação complicada da empresa também se reflete nos principais lançamentos de jogos blockbuster para o PS5, dominados por sequências ou remasterizações.
Isso faz de “Planeta Bot”, para o muito e para o mal, um dos jogos mais originais de uma geração que já existe há quatro anos e ainda não mostrou a que veio.