Até Que A Música Pare Se Sai Bem Por Ver

Até que a Música Pare se sai bem por ver o luto com leveza – 02/10/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

A primeira coisa que labareda a atenção em “Até que a Música Pare” é direção de arte. Tanto no exterior porquê no interno da lar de Chiara (Cibele Tedesco), as cores se combinam, suaves, harmônicas. É verosímil sempre obstar que no Sul do Brasil, onde a ação se passa, as cores tendem a ser discretas e a combinar com certa desenvoltura, sem que seja preciso grande esforço. Ok, mas logo dá para discernir que a paisagem —originário ou não— surge muito da capacidade de Cristiane Oliveira, a diretora, de enquadrá-la.

Dentro de lar ou na soleira, a vida de Chiara parece enxurrada de desassossego. Ela fica sozinha quase todo o tempo, enquanto Alfredo (Hugo Lorensatti), o marido, vendedor, sai com o sege para fazer as entregas. A lar fica numa espécie de sítio, e a possibilidade de se entreter com vizinhos ou alguém assim é pequena.

Só conversa com alguém quando a filha vem visitá-la, já que Alfredo, quando chega do trabalho não está para muita prosa. Com as senhoras da região, as trocas parecem ser estritamente religiosas —um pequeno altar com a Virgem Maria circula entre elas. Chiara increpação muito discretamente o marido por não rezar diante do altarzinho.

Ela sofre praticamente sozinha com a morte do rebento. Alfredo fala pouco e sua conversa é vaga. Raramente se refere ao rebento, com quem parece ter tido pouca relação. O indumentária de o rapaz ter se pronunciado porquê alguém sem religião é um pouco que não entra na cabeça dos pais.

Por vezes há uma reunião de família. Numa delas, Chiara encontra um rapaz que se diz budista. Para uma católica isso parece demais. Ela não tem grandes curiosidades na vida, mas é visível que não entende essa história de reencarnação, de espíritos que passam a subsistir em porcos, por exemplo, depois da morte etc.

Quando pergunta ao rapaz sobre esse letrado estranho, e não tem privativo espanto pelos porcos, está sinceramente empenhada em entender um pouco mais sobre crenças além da informação que tem, do catolicismo capital.

Por uma série de razões —entre elas essa estranha curiosidade— não vemos os protagonistas porquê pessoas que desistiram da vida, apesar das limitações de seus horizontes e das desilusões. Até cá, o filme de Cristiane Oliveira nos introduziu a certas características de uma região que poucos conhecem, onde o catolicismo vigora muito potente e é o que mais serve à união dos habitantes.

Também nos introduziu ao talian, dialeto que mistura o italiano trazido pelos imigrantes com o português da região, e que às vezes soa porquê o romeno, às vezes lembra os dois idiomas que mistura.

Inconformada com o vazio de sua vida, em privativo desde a morte do rebento, Chiara decide seguir o marido em suas viagens diárias. Na verdade, ela vai transferir seu vazio para a estrada. É quando o filme cai um pouco. Deveria subir —ali está a estrada, os diversos clientes, além de Filomena, a tartaruga que Alfredo introduziu na vida conjugal.

No primícias é interessante, porque o filme nos leva para a estrada, para uma vizinhança até logo ausente da história. Mas Chiara, na estrada, desenvolve um criticismo excessivo em relação ao marido, e de uma maneira um tanto monocórdica —reclama que ele bebe um vinho com os clientes, que ele acompanha o jogo de cartas, que nem sempre passa as notas fiscais porquê exigiria a estrita honestidade etc.

Por sorte, ela começa a desenvolver uma atração primeiro curiosa, depois afetiva por Filomena, a tartaruga. E a partir de visível ponto começa a vê-la à maneira do budismo (tal qual assimilou, em todo caso), porquê dotada de um espírito.

É essa peculiaridade, aliás, que leva ao final bastante surpreendente da trama, sobre o qual convém não falar para não estragar o prazer de quem acha que o único prazer que o filme pode dar é desconhecer o final.

Não é muito assim: importa muito mais saber porquê o filme caminha para esse final, e Cristiane Oliveira controla muito muito essa evolução. Pode-se expor, em todo caso, que é muito vasqueiro alguém fazer filmes sobre o luto, em privativo a reverência de lutos em franco, da solidão, da vida na estrada, da chegada da vetustez.

Em princípio, parece tudo muito pesado. No entanto, “Até que a Música Pare” imprime a esses temas uma leveza que iguala a desenvoltura e o rigor direção. Sem falar da ousadia que consiste em passar ao largo dos temas da voga.

Folha

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