Atmosfera Sufocante De 'longlegs' Não Esconde Fragilidades 28/08/2024

Atmosfera sufocante de ‘Longlegs’ não esconde fragilidades – 28/08/2024 – Ilustrada

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A relação de “Longlegs – Vínculo Mortal” com seu próprio material fílmico é bastante similar à da agente do FBI Lee Harker, interpretada pela atriz Maika Monroe, com seu objeto de investigação. De um lado, há os crimes cometidos pelo psicopata do título e aos quais a personagem é direcionada em seguida revelar talento intuitivo supra do normal na solução de um caso anterior; de outro, Harker tem fantasmas pessoais a atormentá-la, a ponto de ela tocar a vida numa “zumbificação” à extremo do colapso.

Os motivos dos traumas levam tempo para serem revelados, mas é evidente que se conectam ao misterioso Longlegs. É no encontro entre um vista e outro que o diretor Osgood Perkins transita. Por qual ele fica mais à vontade é um tanto explícito enquanto tudo avança.

Talentoso em gerar a sensação de que o mundo é submetido por um mal sempre em vias de surdir, porquê nos anteriores “A Enviada do Mal”, de 2015, “O Último Capítulo”, em 2016, e “Maria e João”, de 2020, Perkins ambiciona em “Longlegs” ampliar seu escopo e motivações artísticas.

Também responsável do roteiro, ele o encena com excesso de elementos e referenciais. Vai do suspense policial noventista, em peculiar “O Silêncio dos Inocentes”, de 1992, e “Seven – Os Sete Crimes Capitais”, de 1995, passa pelo chamado “pânico satânico” dos anos 1970, quando supostos perigos do ocultismo dominavam aflições na ficção e no noticiário, e adota pendor narrativo próximo à primeira temporada da série “True Detective”, exibida em 2014.

Ao mesmo tempo, ainda que ação de “Longlegs” se localize em meados dos anos 1990, Perkins insere na sua Lee Harker aproximações contemporâneas usadas porquê garantidoras de empatia em histórias de suspense e horror protagonizadas por mulheres que, traumatizadas, enfrentam seus medos personificados na prenúncio medial dos enredos.

Mas o que interessa a Perkins, de veste, ainda é a construção de atmosfera. Ao superfaturar os desdobramentos narrativos de “Longlegs”, as viradas são telegrafadas muito antes de aparecerem e oportunamente encaixadas para o clima opressivo seguir em primeiro projecto, mesmo que o texto lute para sobressair. O estabilidade disso é um repto, e a desproporção fica evidente até ultrapassar o estilo estético de Perkins, por mais que seu exalo porquê fundador daquele mundo se mantenha sólido.

A principal incongruência de “Longlegs” é o excesso de autoconsciência sobre os efeitos de terror e consumição, enquanto o filme transmite uma história que não se sustenta tão muito, dissemelhante do que a percepção sobre si mesma parece crer. O fortaleza de detalhes montado por Perkins se desmorona com facilidade quanto mais fundo mergulha nas supostas complexidades da vida e da investigação de Harker. A situação se agrava quando, no terço final, uma longa sequência explicativa é repetida minutos depois, porquê a obstinar no quão terrível tudo aquilo é.

O choque perseguido por “Longlegs” na superfície do roteiro pouco se reflete nas imagens do filme, mais atentas a desenvolver ambiências e espaços com serena perturbação. Os efeitos desse contexto, de veste assustadores e sufocantes graças ao estilo de Perkins, são amplificados pela gelidez da retrato, a crueza discreta da trilha sonora e a presença caótica de Nicolas Cage.

Cage constrói a mais perfeita fantasmagoria de toda a curso de Perkins e uma das grandes figuras do cinema em 2024. A escassez de Longlegs em cena, a permear a maior segmento do filme, é tão poderoso quanto a pouca presença, justamente porque todo o insólito se garante pelo efeito das ações do psicopata no envolvente ao volta. Essas ações não incidem exclusivamente nos traumas de Harker, mas na própria concepção visual e sonora, porquê se o Longlegs de Cage definisse inclusive a razão de vista da tela de projeção, sempre em alternância.

O matador é a grande autoconsciência de “Longlegs” porquê filme de horror. Só ele, tal porquê surge visual e imaginariamente, já bastaria aos efeitos sinistros buscados pelo diretor na jornada da personagem principal. Esse remendo é perfeito, por exemplo, na relação entre Hannibal Lecter, Buffalo Bill e Clarice Starling em “O Silêncio dos Inocentes” ou entre John Doe e os detetives de “Seven”.

Nestes, inexistem maiores traumas anteriores ou questões mal resolvidas e alegorizadas, com as ameaças a surgirem tais quais fissuras num mundo tido porquê “normal”. Diante da figura tão monstruosa e desconcertante quanto fascinante e hipnótica vivida por Cage, todo o excesso de trama em torno de Harker em “Longlegs” fica ainda mais fragilizado, sob o risco da banalização.

Folha

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