A estátua erguida em homenagem à Marielle Franco, no meio do Rio de Janeiro, serviu de cenário, nesta sexta-feira (14), para um ato que marcou os 7 anos exatos das mortes da vereadora e do motorista Anderson Gomes.
A família de Marielle aproveitou a presença de amigos e ativistas para provar que a memorial da data do violação, além de ser um clamor estável de justiça, é um pedido para que o horizonte de sociedade seja de reverência, justiça social e honra, notadamente para minorias representativas uma vez que Marielle, negra, bissexual e criada em favela.
“Sim, [a data] tem um significado de olhar para um horizonte”, afirmou à Dependência Brasil a mana de Marielle, a ministra da Paridade Racial, Anielle Franco.
“A gente sempre fala que justiça mesmo seria se ela estivesse conosco. Portanto, esse olhar para um horizonte, para as novas gerações, para que não se esqueçam do que passou, para não cometermos os mesmos erros é forçoso”, disse Anielle, que definiu a data de hoje uma vez que “um dia de luta, dor e saudade”.
O violação
O coche onde estavam Marielle e Anderson foi alvejado por 13 tiros na noite de 14 de março de 2018, no bairro do Estácio, região meão do Rio de Janeiro. Os executores, os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, foram condenados pela Justiça do Rio em outubro do ano pretérito.
O deputado federalista Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), o irmão dele e mentor do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ) Domingos Brazão e o ex-chefe de Polícia Social do Rio Rivaldo Barbosa foram presos em março de 2024.
Os três são réus em uma ação no Supremo Tribunal Federalista (STF). Os irmãos Brazão seriam os mandantes, e o mandatário teria atuado para impedir que a autoria do violação fosse invenção.
Luta de todos
A estátua de Marielle Franco fica no Buraco do Lume, rossio em que a vereadora costumava fazer discursos abertos à população.
Durante a enunciação pública da família, a ministra Anielle afirmou que a morte de Marielle representa também secção da violência contra mulheres no Brasil.
“Essa luta não é exclusivamente da família”, disse, se referindo também a casos de vítimas da violência armada no Rio. “É por isso que a gente está cá”.
Mais respostas
O dia de memorial foi marcado também pela celebração de uma missa na Igreja Nossa Senhora do Parto, a menos de 100 metros da estátua.
A mãe de Marielle, Marinete da Silva, avaliou que 2024 foi um ano de vitória, em referência aos avanços na investigação e condenações.
“Estamos cá para continuar nessa luta. É importante que esses mandantes também sejam penalizados. Não vamos parar enquanto todos não forem punidos pelo que fizeram”, afirmou.
O pai da vereadora morta, Antonio Francisco da Silva Neto, lembrou que no termo do mês, a prisão dos irmãos Brazão e do mandatário Barbosa completará um ano. Ele criticou o traje de o parlamentar ainda manter o procuração.
“Isso é um trote para a sociedade brasileira”, declarou.
A Câmara dos Deputados autorizou a prisão de Chiquinho Brazão, e o Juízo de Moral da Mansão aprovou a cassação do procuração, que precisa ainda ser votada no plenário da Câmara.
A filha de Marielle, Luyara Santos, de 25 anos de idade, agradeceu o suporte recebido nos últimos anos. “Os valores da minha mãe eram essa luta coletiva. Se a gente está cá hoje de pé, é porque vocês agarraram nossas mãos”.
Novas gerações
A professora e escritora Pâmella Passos, comadre de Marielle, também acompanhou o dia de memória. Ela é autora do livro infantil A História de Marielle Franco, que será lançado neste sábado (15).
A publicação se propõe a ter uma linguagem alcançável, com ilustrações, de forma a fazer chegar às novas gerações a biografia da vereadora carioca que cresceu na Maré, se formou em Ciências Sociais e se engajou na militância política.
O livro aponta também curiosidades, uma vez que o traje de Marielle ter mudado o sobrenome Francisco para Franco por justificação do bullying na escola.
Segundo a autora, uma das propostas do livro é fabricar identificação com a trajetória de Marielle.
“A teoria é que cada gaiato que pegue esse livro, e também adultos, que já foram gaiato um dia, possam se identificar nessa trajetória, por exemplo, de que a Marielle não entrou para a universidade de uma primeira vez e ela seguiu tentando, as dificuldades de ser mãe, trabalhar, estudar, cuidar de gaiato”.
O livro da Editora Astral Cultura será lançado às 10h, na Livraria Leonardo da Vinci, na Avenida Rio Branco, 185 – subsolo 1, meio do Rio de Janeiro.
Festival
Assim uma vez que em outros anos, o Festival Justiça Por Marielle e Anderson! acontece neste 14 de março. O evento será na Terreiro da Pira Olímpica, em frente à Igreja da Candelária, no Núcleo da Cidade, a partir das 17h. A participação do público é gratuita.
Serão shows e apresentações artísticas, recreação infantil, oficina de bordados e feira gastronômica. Entre as atrações confirmadas estão Tássia Reis, Rashid, No Lance & Eliza, Dance Maré, Noite das Estrelas, MC Carol, Bnegão, Maru RD, Afrolai, Os Garotin e DJ Duh Povo.
O evento será transmitido ao vivo pelo meato do YouTube do Instituto Marielle Franco.
Veja galeria de fotos