Ato Por Marielle Vira Marcha Pelas Vítimas Da Violência Do

Ato por Marielle vira marcha pelas vítimas da violência do Estado

Brasil

Uma sentença que ganhou vida em protestos e manifestações nos últimos seis anos voltou a ressoar nesta quinta-feira (14) na região da Avenida Rio Branco, umas das principais vias do Núcleo do Rio de Janeiro. “Marielle, presente!” foi entoada por tapume de duzentas pessoas que participaram de um ato para lembrar a morte da vereadora e do motorista Anderson Gomes e provar solidariedade a vítimas da violência do Estado.

Parentes e companheiros de luta política se reuniram ao volta da estátua de Marielle Franco, erguida no Buraco do Luma, uma rossio pública em que a vereadora negra, bissexual e criada na favela da Maré, zona setentrião do Rio de Janeiro, sempre fazia discursos abertos à população.

Rio de Janeiro (RJ), 14/03/2024 – A mãe de Marielle Franco, Marinete Silva durante Ato por Justiça, no centro do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ), 14/03/2024 – A mãe de Marielle Franco, Marinete Silva durante Ato por Justiça, no centro do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Pais de Marielle, durante ato na Avenida Rio Branco- Tomaz Silva/Dependência Brasil

“Um dia de luta, de dor, mas também de resistência para continuar com essa luta, com nosso objetivo que é justiça por Marielle e Anderson o quanto antes. Ter o nome dos mandantes é fundamental”, declarou Marinete da Silva, mãe de Marielle, que pediu também que os crimes sejam julgados por júri popular – quando sentenças são decididas por representantes da sociedade.

“Continuamos fazendo a mesma pergunta que fizemos há seis anos, quem mandou matar e por quê?”, acrescentou Antonio Francisco da Silva Neto, pai da vereadora.

Filha de Marielle, Luyara Santos frisou que a família vai seguir lutando por justiça e “ser a prolongamento do sonho dela, ser resistência por ela”.

“Seis anos é tempo demais para dor, para saudade e para a justiça”, lamenta.

Rio de Janeiro (RJ), 14/03/2024 – A filha de Marielle Franco, Luyara Santos durante Ato por Justiça, no centro do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ), 14/03/2024 – A filha de Marielle Franco, Luyara Santos durante Ato por Justiça, no centro do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Filha de Marielle Franco, Luyara Santos, diz que família continuará o trabalho da mãe – Tomaz Silva/Dependência Brasil

Vítimas da violência

A revelação que clamava justiça pelos assassinados da noite de 14 de março de 2018 se transformou em uma marcha de escora a parentes de vítimas da violência do Estado, a maioria preta e de regiões periféricas.

“São seis anos de muita dor. Se leva seis anos ou mais e era Marielle dentro do carruagem, imagina para todos os outros casos que não estavam com Marielle”, indagou Agatha Arnaus, viúva de Anderson Gomes.

“Pergunto-me se todos esses casos vão ter resposta. Quantos vão permanecer invisíveis”, disse, se referindo aos casos de familiares de vítimas da violência que acompanhavam o ato.

“A gente tem que se revoltar muito mais do que só no dia 14 de março. A gente tem que se revoltar muito mais e todos os dias”, enfatizou.

Mana de Marielle, a ministra da Paridade Racial, Anielle Franco, cobrou o término da violência contra populações periféricas e minorias.

“A gente não pode naturalizar nesse país, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, as fotos que estão cá, nenhum violação, não unicamente o da minha mana”. Ela se referia a cartazes levados por familiares de vítimas da violência.

“Não é normal a gente ter um jovem preto sendo assassinado a cada 23 minutos nesse país, não é normal uma mulher negra ser violentada a cada 6 horas nesse país”, enfatizou.

Violência política

Anielle Franco fez um apelo por união contra a violência política no país. “Isso precisa finalizar. Não interessa qual o seu posicionamento político, não interessa em quem você votou, o que a gente não pode permitir mais, em hipótese nenhuma, é que a gente não dialogue em prol da democracia e de uma população que siga viva”.

Lígia Batista, diretora executiva do Instituto Marielle Franco, criado para manter o legado da vereadora, aponta que a lentidão na solução do caso já é, por si só, uma injustiça. “Justiça atrasada é justiça negada”.

Ela ressaltou que a luta pelo caso de Marielle representa também luta por “todos os familiares, mães de vítimas de violência desse Estado” e fez críticas à violência política de gênero e raça.

“É lamentoso que a gente conviva com a violência política de gênero e raça, que coloca em risco a vida de pessoas porquê Marielle, ao ocuparem a política institucional. É fundamental que nessa data a gente marque que é inadmissível que a violência política de gênero e raça continue sendo uma veras no nosso país. Com violência política de gênero e raça não existe qualquer sombra de democracia em um país porquê esse”.

A diretora do Instituto Marielle promete seguir um caminho combativo por um país sem violência política.

“Se essa luta incomoda, a gente vai continuar caminhando, porque o incômodo significa que a gente está promovendo transformações de verdade para esse país. A gente quer ver um país dissemelhante, em que a política não é um espaço violento para ninguém e que a gente possa lutar para mudar as estruturas do poder e fazer com que essa veras seja outra”.

Dia de homenagens

A marcha seguiu pela Avenida Rio Branco e terminou na Terreiro da Cinelândia, na escadaria do Palácio Pedro Ernesto, onde funciona a Câmara Municipal, lugar de trabalho de Marielle Franco. Pela manhã, a vereadora Monica Benicio, viúva de Marielle, fez um ato no lugar em homenagem à vereadora assassina e um pedido por justiça.

Rio de Janeiro (RJ), 14/03/2024 – Ato simbólico marca os seis anos do assassinato de Marielle Franco, nas escadarias da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
Rio de Janeiro (RJ), 14/03/2024 – Ato simbólico marca os seis anos do assassinato de Marielle Franco, nas escadarias da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Ato simbólico marca os seis anos do homicídio de Marielle Franco, nas escadarias da Câmara Municipal do Rio de Janeiro. FotoTomaz Silva/Dependência Brasil

No término da tarde, o Festival Justiça Por Marielle & Anderson, na Terreiro Mauá, também no meio do Rio, também homenageia a vereadora e o motorista assassinados. A atração gratuita conta com apresentações de diversos artistas, porquê as cantoras Urias e Ebony, e exposições com obras em homenagem a Marielle.

O violação

Marielle Franco e Anderson Gomes foram mortos em uma noite de terça-feira. Ela tinha saído de um encontro no Instituto Mansão das Pretas, no meio do Rio. O carruagem dela foi perseguido pelos criminosos até o bairro do Estácio, que faz relação com a zona setentrião carioca. Investigações e uma delação premiada apontam o ex-policial militar (PM) Ronnie Lessa porquê responsável dos disparos. Treze tiros atingiram o veículo.

Lessa está recluso, inclusive tendo já sido sentenciado por contrabando de peças e acessórios de armas de queimada. O responsável da delação premiada é o também ex-PM Élcio Queiroz, que dirigia o Cobalt usado no violação.

Outro suspeito de envolvimento recluso é o ex-bombeiro Maxwell Simões Correia, sabido porquê Suel. Seria dele a responsabilidade de entregar o Cobalt usado por Lessa para desmanche. Segundo investigações, todos têm envolvimento com milícias.

No término de fevereiro, a polícia prendeu Edilson Barbosa dos Santos, sabido porquê Ouvido. Ele é o proprietário do tarega denunciado de fazer o desmanche e o descarte do veículo usado no homicídio. O varão já havia sido denunciado pelo Ministério Público em agosto de 2023. Ele é denunciado de impedir e atrapalhar investigações.

Apesar das prisões, seis anos em seguida o violação ninguém foi sentenciado. Outros suspeitos foram mortos.

Desde 2023, a investigação iniciada pela polícia do Rio de Janeiro está sendo conduzida pela Polícia Federalista (PF). A PF informou que não comenta ou divulga informações sobre investigações em curso.

O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), que criou uma força-tarefa para escoltar as investigações em 2021, afirmou à Dependência Brasil que tem o compromisso na elucidação dos assassinatos e que “avanços foram obtidos no último ano nas investigações”.

Fonte EBC

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