Atriz Ana Flavia Cavalcanti Já Foi Faxineira E Babá

Atriz Ana Flavia Cavalcanti já foi faxineira e babá – 12/07/2024 – Televisão

Celebridades Cultura

São Paulo

Museu do Louvre, França. Em frente à majestosa pirâmide de vidro, em meio aos transeuntes, está um carrinho de bebê rosa choque. Dentro, uma mulher adulta com os cabelos cacheados balançando com o vento usa um casaco branco e segura um balão também rosa. Nele, está escrito “A Babá Quer Passear”.

Trata-se de uma performance da atriz Ana Flavia Cavalcanti. Vira e mexe ela repete a jornada em locais públicos, uma vez que o Aeroporto de Guarulhos (SP) ou na orla de Copacabana, na zona sul do Rio. A teoria é discutir a requisito das trabalhadoras domésticas no Brasil.

“Fala-se muito pouco sobre esse tema”, avalia a artista em entrevista ao F5. “Minha mãe foi faxineira a vida toda. Eu também fui faxineira e babá, e é um tema em que conseguimos fazer um recorte com o racismo. Acredito mesmo que seja um tópico importante e que precisamos discutir.”

Ana Flavia lembra que começou a trabalhar uma vez que babá aos 8 anos. Nessa era, ela morava em Atibaia, interno de São Paulo, e, um dia, uma vizinha bateu na porta da moradia e fez a proposta. “A gente na favela cresce muito rápido, é uma moçoilo cuidando de outra moçoilo”, afirma.

“Uma moçoilo não é para trabalhar, é para trebelhar. Não acho que se perde a puerícia, mas você descobre a vida adulta antes”, afirma. Posteriormente, uma das famílias para a qual a mãe dela, Val Cavalcanti, trabalhava queria alguém para permanecer o dia todo. E lá foi a jovem.

Depois, Ana Flavia foi trabalhar com outras coisas, mas a experiência foi marcante em sua vida. Ela relembra principalmente uma incoerência: seu patrão repetia que ela precisava estudar.

“Eu trabalhava muito, morava longe, pegava ônibus. Quando parava para manducar, rapidinho, ele queria meio que fazer amizade comigo, e falava que eu precisava estudar, frisava muito”, conta. “E eu pensava: ‘O que ele está falando?’. Eu morava longe, ficava supercansada. É uma fala de uma pessoa sem noção nenhuma da verdade.”

A ingressão nas artes foi aos 18 anos. Enquanto trabalhava em um salão de cabeleireiro, Ana Flavia conheceu um bailarino e ator e se inscreveu para a EAD (Escola de Arte Dramática) da Universidade de São Paulo.

“Era atendente, fazia escova e um pouco de tudo. Conheci ele nesse salão e eu ia trabalhar feliz sabendo que ia encontrá-lo, ele colocava um bolero e ficava dançando. Ele prestou [para a] EAD e eu pensei ‘também quero’. Trabalhei uma vez que recepcionista e fiz muitas coisas para sobreviver em São Paulo”, relembra.

CONFORTO E SEXUALIDADE

Hoje, Ana Flavia fala sobre esse período na peça “Conforto”, em que atua ao lado da mãe, Val Cavalcanti, já aposentada da vida de doméstica. Val canta e conta sobre a profissão que ficou no pretérito. A temporada terminou no início do mês de junho, mas algumas apresentações ainda vão ocorrer ao longo do mês de julho e agosto em algumas cidades paulistas.

“Criei em novembro do ano pretérito, e ela [Val] faz a peça comigo. Hoje ela é atriz —e é louco vê-la anos depois ela em uma segunda profissão. Ela é muito respeitada e é paga dignamente. Ela adora o cachê (risos).”

Ana Flavia, que hoje mora em Santa Teresa, bairro histórico do Rio, em uma moradia cercada de vegetação, diz remunerar em média R$ 350 reais por uma faxina. “Não tenho faxineira, mas, quando preciso contratar alguém, pago isso. Considero uma diária justa por um dia.”

Bissexual, ela afirma que é muito próxima da mãe e que nunca sofreu nenhum tipo de problema com os pais, que define uma vez que “mente oportunidade”. “Desde moçoilo sempre fui bissexual, quando fiz 13 anos me apaixonei pela Isabel, minha primeira namorada. Aos 16, meus pais me emanciparam para eu poder trabalhar e, no cartório, eu estava com uma namorada. Portanto sempre foi tranquilo.”

Neste ano, a atriz esteve no Festival de Cannes com o filme “Baby”, dirigido pelo cineasta mineiro Marcelo Caetano. Para ela, é uma mostra da força do cinema vernáculo. Foi um retorno ao país no qual morou por um ano, entre 2011 e 2012, para estudar no Théâtre du Soleil, em Paris.

A produção se passa no meio de São Paulo e conta a história de Pedro (João Pedro Mariano), um garoto gay que se vê sozinho no mundo em seguida deixar a Instauração Moradia, para onde são encaminhados os infratores menores de 18 anos. Em meio a andanças, ele encontra o michê Ronaldo (Ricardo Teodoro) e se apaixona por ele.

Ana interpreta Priscilla, ex-esposa de Ronaldo, hoje casada com Jana (Bruna Linzmeyer). Os quatro acabam construindo uma família. No festival gaulês, Ricardo ganhou o prêmio de ator revelação na Semana da Sátira, mostra paralela que reúne filmes de diretores iniciantes.

Na TV, Ana Flavia está no ar nas séries “Os Outros” e “Sob Pressão”, ambas do Globoplay. No segundo semestre, ela vai atuar em “Pequena do Momento”, próxima romance das seis da Mundo.

Folha

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