Auto Da Compadecida 2 Fabula O Sertão Com Selton Mello

Auto da Compadecida 2 fabula o sertão com Selton Mello – 16/12/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Quase 25 anos depois de fomentar um alvoroço em Taperoá com a ligeireza que ludibriou padres e coronéis, João Grilo volta a ser protagonista do sertão paraibano em “O Auto da Compadecida 2”, prolongação do filme que se consolidou porquê um marco para o cinema pátrio.

Na novidade trama, Grilo volta a Taperoá depois de muito tempo e reencontra o camarada Chicó, que espalhou entre os habitantes a história épica de Grilo, salvo por um milagre anos detrás, quando ressuscitou posteriormente levar um tiro de um cangaceiro.

Para o povo, Grilo é uma notoriedade eleita por Nossa Senhora Aparecida –que, na pele da majestosa Fernanda Montenegro, o defendeu diante do diabo no primeiro filme e permitiu que ele retornasse à terreno para se provar uma boa pessoa.

A história original é uma peça de Ariano Suassuna, escrita com elementos da literatura de cordel. O drama cômico revolucionou o teatro ao levar aos palcos a cultura popular do país, com todas suas tradições religiosas. A adaptação para o cinema, em 2000, foi um sucesso de bilheteria que levou mais de 2 milhões de pessoas às salas de cinema e sagrou Guel Arraes porquê cineasta.

Fazer uma prolongação, portanto, envolvia altas expectativas. Dessa vez, Arraes não podia narrar com o texto de Suassuna e precisou se policiar para evitar uma reprodução do primeiro roteiro.

Segundo Arraes, a coragem veio quando se lembrou do que poderia somar à trama, com elementos do próprio Suassuna e de farsas medievais estudadas para o primeiro filme. “Os golpes de João Grilo tinham que ser maiores, mais ousados. Desta vez, tem mais emoção, porque com Ariano a emoção é só no firmamento”, diz o diretor.

Chicó, por exemplo, espera pelo retorno de sua querida Rosinha, mas precisa resistir à sedução da voluptuosa Clarabela, vivida por Fabíula Promanação. Dissemelhante do original, em que as falcatruas de Grilo eram quase porquê pequenas narrativas separadas que se encavalam, surpreendendo o testemunha de forma hilária, “O Auto da Compadecida 2” tem um conflito medial que serve de fio condutor para o enredo.

O empresário Arlindo, interpretado por Eduardo Sterblitch, e o coronel Ernani, vivido por Humberto Martins, disputam as eleições para a Prefeitura de Taperoá logo na volta de Grilo, que acaba se envolvendo no conflito e arrasta Chicó com ele.

O tempo, simples, passou também para Matheus Nachtergaele e Selton Mello, que estavam ainda no primórdio da curso quando eternizaram Grilo e Chicó, respectivamente, nas telonas. Mello fazia telenovelas dramáticas, e Nachtergaele vivia tragédias no teatro.

“Fomos destinados para a alegria através de ‘O Auto da Compadecida’”, diz Nachtergaele, antes de ser interrompido pelo camarada. “Ajudou muito a gente. Somos mais solitários e melancólicos também na vida”, brinca Mello, que acabou de voltar dos Estados Unidos, onde divulgava “Ainda Estou Cá”, aposta do Brasil para o Oscar, em que ele interpreta Rubens Paiva.

Em claro momento, o Chicó de “O Auto da Compadecida 2” junta quantia para comprar um rádio —o filme se passa no tempo em que o aparelho era novidade. A anseio simples do personagem lembra o libido do protagonista de Mello em “O Palhaço”, filme que ele dirigiu e no qual um artista circense obcecado por ventiladores vaga pelo interno do Brasil.

No longa de 2011, aliás, Mello contracena com Paulo José, morto em 2021 e medalhão de comédias porquê “Macunaíma”, de 1969, “O Padre e a Moça” e “Todas as Mulheres do Mundo”, ambos de 1966. “Ele pregava uma simplicidade na atuação que eu levei para vida”, diz o ator.

No pausa entre “O Auto da Compadecida” e a sua prolongação, Nachtergale também foi diretor, em “A Sarau da Moça Morta”, de 2008, além de ter feito dezenas de filmes e novelas e atuado em “Cidade de Deus”, outro marco para o cinema pátrio. Agora, ele grava a segunda temporada da série inspirada no filme de Fernando Meirelles, em que voltará a viver o traficante Cenoura.

“Eles são os mesmos e novos artistas ao mesmo tempo. Mas esses personagens [João Grilo e Chicó] se apoderaram deles”, diz Arraes, segundo o qual os protagonistas são heróis e responsáveis pela catarse do primeiro filme.

“João Grilo usa a sabedoria para sobreviver, um herói que luta por sua vida no dia a dia. O brasílio se identifica com isso”, diz Arraes. Em 2000, seu filme inovou na maneira porquê o Nordeste era retratado no audiovisual, produzido principalmente no Sudeste. Em “O Auto da Compadecida”, o sertão não era só lugar de seca e sofrimento, mas também de alegria, esperteza e comédia.

“O nordestino é muito engraçado, tanto que comediantes porquê Chico Anysio e Renato Aragão são de lá, mas isso não aparecia tanto no cinema. Eu queria fazer um Nordeste que falava das dificuldades do dia a dia com humor, um pouco porquê faziam as chanchadas.”

Enquanto o primeiro filme foi gravado na cidade de Cabeceiras, na Paraíba, o cenário da prolongação foi totalmente construído em estúdio, com o uso de painéis de led. As cores pastéis vivas, somadas às casas tortas e às atuações mais exageradas, dão um tom de fábula à trama, em mais uma tentativa de Arraes de fugir do realismo.

Se o longa de 2000 esteve na leva de produções que marcaram a retomada do cinema brasílio posteriormente o período obscuro do termo da Embrafilme e da crise econômica do governo de Fernando Collor, “O Auto da Compadecida 2” estreia em outro momento importante para a produção pátrio.

As comédias “Minha Mana e Eu” e “Farofeiros 2” levaram milhões de pessoas às salas de cinema, quebrando um jejum de cinco anos. Agora, o drama “Ainda Estou Cá” já superou os 2,5 milhões de expectadores e tem atraído o interesse internacional sobre a atriz Fernanda Torres.

Segundo Mello, tanto o filme de Walter Salles quanto o de Guel Arraes evocam um sentimento de pertencimento no público, que se vê na tela. “É um prazer se ver, porque o cinema é o espelho de uma região. ‘Ainda Estou Cá’ é lindo e doloroso, mas importante para saber de onde viemos e saber a nossa história.”

Ao mesmo tempo, estão cada vez mais comuns os remakes de histórias brasileiras consagradas pelo público. É o caso da série de “Cidade de Deus” e de “Auto da Compadecida 2”, mas também de “Estômago 2” e “Nosso Lar”. O fenômeno atinge também na televisão, porquê provam as novas versões de “Renascer”, exibida neste ano, e “Vale Tudo”, a principal aposta da Orbe para o ano que vem.

“O Brasil está querendo se gostar de novo. Se lamber para se limpar”, diz Nachtergaele, sobre uma provável retomada do cinema pátrio posteriormente a pandemia. Arraes, porém, prefere não comemorar ainda. “Precisamos de regularidade. Uma andorinha só não faz verão.”

Folha

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