O progresso da extrema-direita no Parlamento Europeu, ainda que restringido em número e focado em alguns países, pode influenciar a agenda ambiental em todo o mundo, avaliam especialistas ouvidos pela Dependência Brasil.
Isso porque as legendas de extrema-direita negam o quase consenso científico de que o aquecimento da Terreno é consequência da ação dos seres humanos sobre a natureza, postura semelhante à do Partido Republicano dos Estados Unidos, hoje liderado por Donald Trump, que vai tentar a Presidência novamente em novembro deste ano.
A professora de relações Internacionais do Ibmec de São Paulo Natalia Fingermann avalia que mudanças na Europa e nos Estados Unidos em relação à taxa ambiental devem ter consequências para o Brasil, uma vez que o atual governo tenta se posicionar no projecto global uma vez que uma liderança nessa agenda.
“A gente pode ter dificuldades de fazer com que esse tema, que é custoso para o Brasil na política externa brasileira, tenha vazão no sistema internacional”, disse a técnico.
Nos últimos meses, mobilizações de fazendeiros paralisaram a França contra, entre outras pautas, mudanças em regras ambientais que poderiam prejudicar a produtividade da lavra sítio.
O professor de relações internacionais e economia da Universidade Federalista do ABC (UFABC) Giorgio Romano Schutte afirmou que mesmo antes das eleições a taxa ambiental começou a retroceder na Europa.
“A mensagem é clara: sem considerar a questão social e a questão de soberania energética, a taxa ambiental vai provocar resistência, na Europa, nos EUA, cá ou na China. A extrema-direita mobiliza essa resistência, não inventou ela”, ponderou Giorgio Schutte.
O professor de relações internacionais da UFABC Gilberto Maringoni tem dúvidas em relação ao impacto do progresso da extrema-direita na Europa em relação à taxa ambiental, apesar de possuir negacionismo climatológico nesses partidos.
“Não me parece que o negacionismo verbal possa ser traduzido em um risco maior, até porque o que está em taxa é o protecionismo, o que está em taxa é o nacionalismo econômico e a xenofobia contra os imigrantes”, disse.
Já o professor Giorgio Romano destaca que, para combater a extrema-direita, os partidos de centro-direita e centro-esquerda da Europa têm adotado pautas mais duras contra a imigração e reduzido as regras de proteção ambiental.
“A centro-direita e até o centro-esquerda começaram a concordar as mesmas pautas, ser mais dura com a transmigração e mais lentamente com as legislações ambientais. Esse é o risco. A centro-esquerda da Dinamarca tem a mesma bandeira com relação à transmigração que a extrema-direita e conseguiu lucrar com essas pautas. Logo, esse é o problema”, avaliou.
Um tanto semelhante ocorre com o recém-constituído partido teutónico de esquerda BSW, que estreou nessa eleição com 6,2% dos votos, computando seis cadeiras. Liderado pela deputada Sahra Wagenknecht, a legenda defende restrições à imigração por entender que ela favorece a redução dos salários na Alemanha ao aumentar a oferta de mão de obra, beneficiando os empresários.
Multilateralismo e Gaza
Para a professora Natália Fingermann, o progresso da extrema-direita, ainda que restringido, pode impactar também o escora aos mecanismos internacionais uma vez que Banco Mundial e Organização das Nações Unidas.
“Talvez vejamos uma derrocada das organizações internacionais com essas frentes articulando cortes de recursos para o financiamento dessas organizações que atuam buscando a segurança coletiva mundial, a sossego mundial, e financiando também vários projetos de cooperação em países em desenvolvimento”, disse.
Outro impacto do progresso da extrema-direita na Europa pode ser o fortalecimento da posição do primeiro-ministro de Israel, Benjamim Netanyahu, com consequências para a guerra na Filete de Gaza.
“A extrema-direita tem uma relação intrínseca e uma organização internacional própria e está muito relacionada ao governo de Netanyahu. Logo, essas lideranças dialogam muito com Netanyahu e provavelmente vão dar perpetuidade a um escora europeu ao conflito”, completou Natália Fingermann.
Parlamento Europeu
O Parlamento Europeu, em conferência aos parlamentos nacionais, tem funções mais limitadas e se posicionam unicamente para as leis em generalidade a todos os 27 Estados. Com 702 cadeiras, o Parlamento da União Europeia não tem poder de influenciar mais diretamente o cotidiano dos países do conjunto.
O professor Gilberto Maringoni destacou que o resultado dessas eleições tem mais um efeito de termômetro “das relações internas da Europa do que um pouco efetivo”.
“São 27 países com leis eleitorais distintas, [em] alguns países o voto é obrigatório, outros não. Simples que eles podem ter legislações comuns na questão privativo da imigração, que é o que mais pega”, disse.
A professora Natália Fingermann lembrou que o Parlamento Europeu também atua nas relações comerciais e diplomáticas do conjunto da Europa com os países de fora do conjunto.
“Ingressão e saída de pessoas, ingressão e saída de negócio, relações com outros países fora da União Europeia e com outras instituições internacionais. Esse Parlamento tem uma conhecimento que é muito dissemelhante daquela do parlamento de um país”, explicou.