Avatar: Como A Nova Série Reflete As Guerras Do Mundo

Avatar: Como a nova série reflete as guerras do mundo – 22/02/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

No caminho entre o imagem e o live-action, “Avatar: A Mito de Aang” se perdeu. Enquanto sua série animada colecionou prêmios, entrou para as dez mais muito avaliadas da enciclopédia do audiovisual IMDB e foi considerada por críticos uma das propulsoras da era de ouro da TV americana nos anos 2000, sua adaptação para os cinemas foi amplamente rejeitada.

Depois de vencer cinco Framboesas de Ouro, que “premia” os piores do ano no cinema, e de se tornar o filme mais mal estimado da curso errática de M. Night Shyamalan, “O Último Rabino do Ar” fez parecer que a história sobre humanos que controlam os quatro elementos –chuva, queima, terreno e ar– não combinava com atores de mesocarpo e osso.

Agora, porém, a trama originalmente exibida pela Nickelodeon entre 2005 e 2008 ganha uma novidade chance na Netflix, depois de ter sido redescoberta durante a pandemia de Covid-19, com a soma do imagem entusiasmado ao catálogo da plataforma em vários países, inclusive no Brasil.

“Avatar: O Último Rabino do Ar”, que misturou a encarnação serializada e a cinematográfica em seu título, chega ao streaming determinada a aprazer aos nostálgicos e também a invadir um público mais maduro, e não unicamente aquele que cresceu assistindo à animação.

Em vez de reduzir as três temporadas originais em algumas poucas horas, o remake deve seguir os personagens por alguns anos, numa maneira de se prevenir das críticas que acharam o filme de 2010 corrido e superficial.

Isto, é evidente, se o público fundamentar a popularidade da trajetória de Aang, já que uma segunda temporada ainda não foi anunciada. Até porque, se as estimativas de dispêndio de produção de US$ 15 milhões por incidente estiverem corretas, a produção está entre as 15 mais caras da história da TV e do streaming.

Num mundo em que a relação de cada núcleo familiar com um dos quatro elementos da natureza funciona porquê uma etnia, criando comunidades ao volta do mundo, Aang nasce para se tornar o Avatar, uma espécie de super-humano capaz de controlar os quatro elementos ao mesmo tempo e ser o responsável pelo estabilidade mundial.

Sempre que um desses líderes morre, outro nasce, e é tentando limitar a influência dos Nômades do Ar, comunidade que abriga o Avatar da vez, que a País do Lume decide promover um massacre. Durante a passagem de um cometa que aumenta seus poderes, soldados são enviados para caçar Aang, mas ele acaba engolido pelo mar e passa um século em criogenia numa geleira.

Quando finalmente acorda, revelado pelos irmãos Katara e Sokka, da Tribo da Chuva, Aang não sabe que seu sumiço deu margem para uma guerra entre nações, na qual os dobradores de queima –aqueles que controlam nascente elemento– mataram, em teoria, todos aqueles capazes de moldar a chuva e o ar. O Reino da Terreno é o único que ainda não foi subjugado, e resta à dupla ajudar o protagonista a dominar os quatro elementos para pôr um termo ao predomínio de terror flamejante.

Não é só a ingressão do imagem na Netflix que fez “Avatar” voltar à tona nos últimos anos. Para os criadores Bryan Konietzko e Michael Dante DiMartino, o ilustrado que se criou em torno da história se deve também à sua habilidade de refletir os problemas da sociedade. Nos anos 2000, aliás, muitos dos elogios à série da Nickelodeon seguiam esse caminho, louvando-a por apresentar ao público infantojuvenil temas densos, porquê genocídio e tirania.

Leste ano, sua saga sobre uma país querendo se sobrepor às outras, numa falsa crença de superioridade, encontra ecos nas guerras travadas entre Rússia e Ucrânia e Israel e Hamas, por exemplo, e a crise do clima cada vez mais grave também remete à devastação causada pelos dobradores de queima.

“Há muitos paralelos com o que vivemos. O tema da série é estabilidade e simetria, e quando eles não existem é criado um vácuo de poder que permite a subida de pessoas perigosas. A País do Lume literalmente queima os lugares por onde passa. É uma série muito mais profunda do que eu imaginava”, diz Daniel Dae Kim, ator que ganhou reputação em “Lost” e agora interpreta o tirânico imperador Ozai.

Mas nem todos os dobradores de queima são maus. O irmão do personagem, Iroh, funciona porquê uma bússola moral, tentando influenciar o sobrinho, Zuko, que encampa uma procura desenfreada e violenta por Aang para tentar deixar seu pai orgulhoso. “É muito fácil rotular grupos inteiros de pessoas com base nas ações de alguns poucos no poder”, diz o sul-coreano Paul Sun-Hyung Lee, sobre seu personagem.

“Avatar: O Último Rabino do Ar” não poupa o testemunha da violência inerente à guerra, e em seus primeiros minutos já mostra um dobrador de terreno sendo queimado vivo. Foi uma escolha deliberada, dizem os atores, já que ver batalhas, efusão de sangue e morte, além de atrair um público mais maduro, pode forçar o testemunha a refletir sobre temas urgentes.

Esta opção, no entanto, pode ter sido a desculpa da saída de Konietzko e DiMartino, os criadores, da adaptação, segundo fofocas de bastidores. Ambos deixaram a série depois de dois anos de trabalho por “diferenças criativas” não especificadas.

Agora, vão ter controle inteiro sobre o novo Avatar Studios, anunciado para abastecer o Paramount+, concorrente da Netflix. Um longa-metragem de animação já está sendo produzido, de olho num lançamento em 2025, mas a teoria é que muitas novas aventuras saiam da iniciativa, a exemplo do que já aconteceu com “A Mito de Korra”, derivado de 2012 também elogiado e que foi pioneiro na representatividade LGBTQIA+ nos desenhos.

Sem o esteio dos criadores e tendo a longo prazo que disputar atenção com suas novas crias, a Netflix vai ter que se apegar ao vista mais realista da sua versão para a mito de Aang, baseada em contos e tradições asiáticas, em peculiar as chinesas.

Para isso, houve um largo investimento em efeitos especiais. Não à toa, a série finalizou suas filmagens em 2022, mas só ficou pronta nos últimos dias, depois de um período de quase dois anos de pós-produção. Os efeitos práticos se limitaram a pequenos detalhes, porquê luzes de LED nas mãos dos atores da País do Lume, iluminando seus oponentes com o que mais tarde, no computador, se tornariam chamas.

“Buscamos referências no imagem sempre que podíamos”, diz Jabbar Raisani, um dos responsáveis pelos efeitos especiais e diretor de dois dos oito episódios. “O maior duelo foi tomar o tom do imagem no formato live-action e provocar os mesmos sentimentos.”

Aos efeitos computadorizados se soma o trabalho minusioso de coreografia, que juntou diferentes artes marciais para as batalhas e os processos de refolho de chuva, queima, terreno e ar. O elenco conta que teve aulas de vários tipos de lutas orientais, para dar autenticidade à fantasia.

Dessa forma, também, “O Último Rabino do Ar” procura driblar algumas das críticas mais ferrenhas feitas ao filme de Shyamalan, criticado por ter um elenco que embranqueceu uma história que era essencialmente oriental, apesar das origens americanas e indígenas do imagem.

Agora, Gordon Cormier, de progénie filipina, vive Aang, e Kiawentiio, do povo mohawk, é Katara. Ian Ousley, de origem cherokee, interpreta Sokka, enquanto Dallas Liu, sino-indonésio, ficou com Zuko –os dois últimos chegaram a lutar taekwondo e karatê, nesta ordem, profissionalmente.

“Avatar: O Último Rabino do Ar”, assim, parece moldado para superar os erros do pretérito, mas também para ter vida própria, numa aposta épica e ambiciosa.

Folha

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