Baby Captura Paixão De Garotos De Programa No Centro De

Baby captura paixão de garotos de programa no centro de SP – 08/01/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

“Eles que fugiram de mim”, diz Baby no início do filme que leva seu nome, ao ser questionado se havia saído de mansão e largado a família. Não é por escolha que o rapaz gay perambula pelas ruas do meio de São Paulo, numa situação de orfandade compartilhada com muitos outros jovens porquê ele.

Wellington –seu nome verdadeiro– começa o filme deixando a Instauração Morada, onde foi parar por um delito qualquer. Ninguém o espera na porta da instituição para menores, tampouco no endereço onde morava com o pai e a mãe. Desamparado, recorre aos periferia da terreiro da República, ponto de subida voltagem sexual da capital paulista.

Seja pelos bares e boates gays, pelos cinemas pornôs ou pelas esquinas tomadas pela prostituição, aquele espaço de marginalidade acolhe Wellington num momento de agonia. Ali, ele se torna garoto de programa, vendedor de drogas e, também, varão de família, ao saber Ronaldo, um michê mais velho com quem cria uma relação passional e, de certa forma, paternal.

Baby não escolhe o nome de guerra à toa. Aos 18 anos, ele percebe que a idade é sua aliada na conquista de clientes e de alguma independência financeira. Em paralelo, cria um tampão para o vazio deixado pela exiguidade dos pais, tomando Ronaldo, seu rebento, sua ex-mulher e a namorada dela porquê sua novidade família.

Também encontra conforto em outras pessoas LGBTQIA+ que, porquê ele, ficaram sem lar e criaram sua própria feição familiar. Com eles, faz “voguing” em praças e ônibus e dribla os perigos do meio, incluindo a truculência policial sempre à espreita.

É porquê se a história de contrastes de Wellington servisse de parábola para a própria história daquele pedaço caótico de São Paulo. “O que a gente vê dessa região é o que chamam de vazio, degradação, decadência, transgressão. Mas o filme tenta voltar a sua lente para aquilo que existe de vivo, de dinamismo”, diz o diretor Marcelo Caetano, que mora perto das locações.

“Muita gente que chega a São Paulo é acolhida pelo meio, pelas pensões, as quitinetes, os hoteizinhos. E por isso muita gente desenvolve uma relação de afeto por esse espaço, que é de contato de classes, de origens. Tem apartamento pleno de gays solteiros e, do lado, uma pensão. O que eu fiz com o filme foi olhar para a turba que circula por ali e dar um zoom, recontar as histórias dessas pessoas.”

Homossexuais, Wellington e Ronaldo saem à caça de clientes em cinemas, saunas e ruas, ora transando juntos, ora separados. Quando voltam para mansão, fazem paixão, um tipo de sexo dissemelhante daquele performático que têm com outros homens.

Era imprescindível que “Baby” fosse gráfico ao mostrar essas cenas de intimidade. Zero novo para Caetano, diretor do premiado “Corpo Elétrico”, que em 2017 também mostrou corpos e amores queer de forma naturalizada, sem moralismo.

“Não são cenas para excitar, elas também trazem problemas. Além de prazeroso, o sexo cá pode ser desconfortável”, diz o diretor. Na primeira vez em que vão para a leito, Ronaldo descobre lentamente as marcas que os maus tratos deixaram no corpo de Wellington, revivendo traumas enquanto seus corpos, nus, se agarram um ao outro.

Percebemos, já ali, que o sexo dos dois vai muito além do orgasmo. Sendo assim, capturá-lo não poderia ser um tanto mecânico, óbvio. “Filmar o libido é muito mais difícil do que filmar o sexo, que talvez nem cause mais tanto choque ou excitação [no cinema]. A câmera tem que dançar com os personagens, não pode mostrar tudo.”

Com a câmera próxima dos atores, Caetano conquista poros, cicatrizes e suor. Mais do que corpos explícitos, ele enfoca os olhares que Wellington e Ronaldo trocam, em momentos nos quais se estabelece uma relação de intimidade e vulnerabilidade muito maior do que a obviedade da nudez.

“Baby” chega aos cinemas depois de muita expectativa e de elogios às atuações de João Pedro Mariano, que vive Wellington, e Ricardo Teodoro, que faz Ronaldo. O filme fez sua première no Festival de Cannes, em maio pretérito, de onde saiu com o prêmio de estrela em subida da Semana da Sátira para o segundo ator. Ganhou troféus em várias outras vestígios e, por cá, levou dois prêmios no Mix Brasil e quatro no Festival do Rio, incluindo melhor filme.

A expectativa é que a trajetória impulsione a curso nas salas de cinema, principalmente em meio ao momento de orgulho pátrio provocado por “Ainda Estou Cá”. Selton Mello e Walter Salles chegaram a referir “Baby” em entrevistas, seguindo a tendência de levantar a moral de outras produções brasileiras ao agradecer pelos mais de três milhões de espectadores que já compraram ingressos para o seu longa.

Lá fora, o interesse por “Baby” também é grande. Pelo menos 20 países já compraram o filme para distribuição lugar, incluindo Alemanha e França, que promovem o lançamento já em março. Para Caetano, o nicho LGBTQIA+ é grande e, portanto, sempre há interesse por filmes que seguem a temática, não importa onde.

Em seu próximo projeto, ele vai juntar mais um volume ao cinema queer brasílico, no que será, nas suas palavras, um estudo da “formação da bicha brasileira”. Caetano deve ceder as ruas de São Paulo e retornar a Minas Gerais, onde nasceu, para filmar o longa no próximo ano. “Agora é entregar o ‘Baby’ e cuidar do novo bebê.”

Folha

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