Baco Exu Do Blues Examina Desejo De Corpos Negros Em

Baco Exu do Blues examina desejo de corpos negros em EP – 28/06/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Baco Exu do Blues está numa morada de praia em São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Setentrião, com um grupo de amigos. É réveillon quando um parelha de pessoas brancas os encontra. A mulher, em próprio, parece sugada pela figura do rapper baiano. A partir dali, eles vivem uma espécie de orgia que envolve sadomasoquismo e todo tipo de prazer.

Essa trama, presente no curta-metragem que acompanha o novo EP de Baco, “Fetiche”, acontece toda na imaginação daquela mulher. “O filme é sobre o pensamento dessa pequena”, diz o rapper. “Mesmo dando todas as pistas, a Camila [Cornelsen, diretora] conseguiu fazer de um jeito que as pessoas ainda duvidem que de vestuário seja sobre hipersexualização.”

Tanto o filme quanto o EP de sete faixas, lançados nesta quinta-feira (27), exploram o libido a partir de uma pesquisa da origem da vocábulo que dá título aos trabalhos, “fetiche”. Uma vez que afirma Baco, é um termo atrelado a um processo de animalização e depois de hipersexualização de corpos negros.

“Nas estátuas de religiões africanas, os negros são retratados com o falo muito grande —o que era uma representação de fertilidade”, ele diz. “Os colonizadores, vendo essas estátuas, começaram a invocar de mandinga, feitiçaria, alguma coisa para rebaixar aquelas religiões. Em uma troca de colono para colono, a vocábulo foi mudada e se tornou ‘fetiche’.”

É uma pesquisa atravessa séculos de racismo, um processo de desumanização que embute a corpos negros —segundo esse pensamento colonial, mais próximos do macaco que do varão branco— atributos exclusivamente físicos, em detrimento do intelecto. É o que gera, nas palavras de Baco, a “estratégia King Kong”, em que o varão preto é retratado porquê “um macaco gigante que vai destruir a sociedade branca e roubar suas mulheres”.

“É um negócio enraizado na nossa cultura”, diz Baco. “A galera fala sobre sexualização porquê se fosse um libido completo, mas não é. Durante anos, as pessoas brancas, galãs e divas, foram retratados porquê pessoas cheias de personalidade, enquanto negros, homens e mulheres, são resumidos ao corpo. Não é um libido completo.”

Ele próprio um símbolo sexual da geração atual, Baco fez o novo projeto porquê uma resguardo contra essa hipersexualização baseada exclusivamente nos corpos. A capote do EP traz uma mulher branca deitada de costas, submissa, com a vocábulo “fetiche” e o rosto do rapper tatuados.

“Com toda a humildade do mundo, me tornei um face bem-sucedido na minha superfície, sou de boa, não trato ninguém mal, não sou o maior crânio do mundo, mas também não sou imbecil”, diz. “Quero ser visto por todas as minhas qualidades. Quero estar nesse campo do libido, mas ser desejado por completo.”

Essa resguardo não surge de forma explícita. Em “Fetiche”, Baco continua cantando sobre sexo, paixões, relacionamentos e libido, mas expande os horizontes de sua caneta. Em suas palavras, para provar que, “mesmo dentro desse objecto, eu consigo ser muito mais que o objecto”.

“Seria muito mais fácil fazer uma filete chamada King Kong dizendo tudo que eu estava te falando, mas seria exatamente o que as pessoas esperam”, ele diz.

Musicalmente, “Fetiche” está mais próximo do R&B do que do rap de seus primeiros álbuns, guiado por linhas de baixos viajadas e melodias atmosféricas. Ainda assim, é construído com uma abordagem da cultura hip-hop, com samples de música brasileira —caso de “Sodade Meu Muito, Sodade”, na gravação de Nana Caymmi na filete “Sodade”— e um cardápio variado de ritmos.

A trova sobre sexo e romance, ele diz, é secção de sua escrita. Alguma coisa que já se anunciava em “Te Senhor Disgraça”, filete de “Esú”, seu primeiro álbum, de 2017, quando Baco era exclusivamente um rapper de Salvador em subida, em procura de reconhecimento vernáculo, e cuspia rimas contundentes e raivosas de maneira mais frequente do que agora.

É um lugar limitante do qual ele precisou trespassar. “Tem uma galera que ainda tem esse fetiche meio doentio por pessoas negras revoltadas, irritadas e violentas. Se você é preto e só consegue se sentir representado por alguém nesse lugar, você precisa de terapia. Se for uma pessoa branca, pior ainda. Não tem zero pior do que um branco expor ‘tenho saudades daquele Baco violento, que gritava pra caralho’.”

Isso não significa que o rapper não tenha seus momentos de ódio e raiva em sua arte. Ele adianta que seu próximo projeto, um álbum completo, terá um retorno desse “Baco violento” em algumas partes, e o tom será ainda mais mais pessoal. Quanto a “Orgia”, disco que ele gravou há cinco anos e que acabou engavetado, os fãs terão de esperar um pouco mais para ouvir.

Folha

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