'bandida' Conta Vida De Primeira Chefe Do Tráfico No Rio

‘Bandida’ conta vida de primeira chefe do tráfico no Rio – 16/06/2024 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Em “Bandida: A Número Um”, filme de João Wainer que chega aos cinemas nesta semana, a violência nas favelas do Rio de Janeiro é retratada sob um ponto de vista incomum. Os holofotes estão na mulher —e uma mulher bandida, que não só dá pedestal aos homens, mas protagoniza as cenas de ação.

Ela é Rebecca, que chefiou o tráfico na Rocinha na dez de 1980. A personagem, interpretada pela atriz Maria Bomani —que faz sua estreia porquê protagonista depois de atuar na romance “Paixão de Mãe”, da TV Mundo, em 2019 e 2021—, vive uma puerícia de desgraças e é apadrinhada por bicheiros que controlavam o morro.

Ela chega ao posto de líder depois de um namoro arrebatador com Pará, encarregado do tráfico que acaba morto e é interpretado por Jean Amorim, que viveu Pedro Projéctil no filme “Capitães da Areia”, de 2011. O paixão bandido é o meio da história.

Com sua narradora feminina, o filme se distancia de obras porquê “Cidade de Deus”, com Buscapé, um jovem observador, ou “Tropa de Escol”, com Capitão Promanação, um policial sob estresse.

“Um filme que começa com uma mulher que liga no volume supremo ‘Deslizes’, do Fagner, e depois joga uma petardo, não é um filme duro e sedento”, diz Wainer, que também acaba de lançar “Doleira”, sobre outra personagem feminina —Nelma Kodama, a primeira mulher presa na Operação Lava Jato, na Netflix..

O filme é fundamentado na história real de Raquel de Oliveira, autora do romance “A Número Um”, publicado pela editora Vivenda da Termo em 2015. Oliveira namorou Ednaldo de Souza, o Naldo, um dos mais conhecidos líderes do tráfico da Rocinha.

Naldo chegou a ser o varão mais procurado pela polícia fluminense. Em 1988, ele deu entrevistas para os diários Jornal do Brasil e O Dia, que o fotografaram. Foi filmado disparando rajadas de metralhadora para o cimeira e lançou voga ao posar vestido com um casaco de capuz.

O traficante foi morto numa troca de tiros com a polícia em julho daquele mesmo ano, num sítio numa favela de São Gonçalo, nos periferia da capital fluminense. Mais de 30 policiais e um helicóptero foram tomar o bandido.

O filme retrata o incidente em que morreram Cassiano e Brasileirinho, que ficou famoso ao posar para uma retrato de jornal ainda petiz, armado e com cordões no pescoço. O retrato, publicado na mesma quadra do lançamento de “Pixote, A Lei do Mais Fraco”, filme lançado em 1981, comoveu a cidade —na obra, um menino de 11 anos foge de um reformatório e acaba se tornando traficante, facínora e cafetão no Rio de Janeiro.

“Eu levei dois anos para redigir o livro. No primórdio, sofri muito, chorei, mas quando o trabalho foi concluído eu estava liberta de todas as culpas, remorsos, arrependimentos”, afirma Oliveira, a autora do livro que inspira “Bandida”. “Tem momentos do filme em que minha memória volta lá, quase de forma sobrenatural. Vejo direitinho as coisas que aconteceram de verdade. E Maria está ótima. Ela cresce em cena.”

Da mesma forma que fez ao guiar o documentário “Junho”, produzido por leste jornal e lançado há dez anos, retratando as manifestações que pararam o país em 2013, Wainer lança mão de imagens de registro de telejornais das favelas cariocas dos anos 1980, que eram diferentes.

A Rocinha tinha mais de 200 milénio habitantes em 1988, segundo as estimativas do governo. Era um bairro da cidade e políticos em campanha não demoravam a visitar a associação de moradores, disputada a dentadas pelos líderes comunitários. Havia eleição direta mesmo quando o país não elegia seu presidente.

A favela também era tomada pelo lixo, não havia saneamento substancial nem fornecimento de chuva. Foi também nessa quadra que a venda de cocaína disparou nas comunidades, e os traficantes trocaram revólveres por fuzis e submetralhadoras. Na Rocinha, começaram os conflitos, com o morro dividido entre segmento subida e baixa e marcado por golpes e operações policiais.

Outras cenas de “Bandida” foram gravadas com uma câmera Betacam, comprada mormente para o filme. “Queria trazer um pouco que fosse esteticamente dissemelhante e suave. A câmera que todas as principais emissoras de TV usavam era essa”, diz o diretor.

O longa foi gravado no morro Pavão-Pavãozinho, em Copacabana. “A sensação que tenho é que, quando estamos em externa, as gravações lembram o Jornal Pátrio da quadra. Quando vamos para uma interna, lembram as novelas.”

Outra inspiração para a montagem, segundo o diretor, foi o TikTok. “Tenho filhas e vejo porquê essa geração lida com o TikTok e a sobreposição de informação. Ele tem uma linguagem suja. Partes do filme têm um ritmo um pouco mais frenético e desvairado que lembra esse ritmo.”

A Rocinha cresceu ocupada por famílias que saíram de estados do Nordeste em procura de renda no Rio de Janeiro. Elas ergueram barracos morro supra e garantiram moradia perto dos postos de trabalho da zona sul. Eram pedreiros, porteiros, garçons e empregadas domésticas em São Conrado, Leblon, Ipanema e Copacabana.

Por isso, Wainer decidiu não mexer no sotaque de ninguém. O cantor pernambucano Otto, que interpreta o traficante Del Rey, fala porquê um varão pernambucano, assim porquê o baiano Jean Amorim e a carioca Maria Bomani mantêm suas origens.

Mas a ambientação dos anos 1980 foi um ponto de atenção para o rapper carioca Sant, estreante nas telas no papel de Boca Tenro, camarada de puerícia de Rebecca, que também entra para o tráfico.

“O recorte do tempo em alguns momentos ressoou na cabeça porque uso gírias o tempo inteiro. Mas muitas dessas gírias eu recebi dessa malandrice das décadas de 1980 e 1990”, diz. “A equipe técnica me ajudou demais. Foi tudo novo e tudo mágico.”

Raquel de Oliveira, que escreveu o livro no qual o filme se baseou, ainda vive na Rocinha e deixou a relação com o tráfico de drogas ainda na dez de 1990.

Além de escritora —ela também se dedica à verso— , Oliveira ainda trabalha porquê pedagoga e palestrante atualmente. “O que carreguei daquela vida foi a cocaína, da qual estou limpa há dez anos, e o paixão. Naldo foi um varão maravilhoso na minha vida e nunca mais tive um paixão porquê o dele”, diz.

“Mas a gente há de convir que, quando uma pessoa morre durante a relação, o paixão fica estacionado naquele ponto, e as crises naturais de relacionamentos não são vividas. Fica uma coisa encantada, em suspenso.”

Folha

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