Ben whishaw brilha em retrato do escritor eduard limonov

Ben Whishaw brilha em retrato do escritor Eduard Limonov – 16/04/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

A trova é mero pormenor em “Limonov: O Camaleão Russo”, cinebiografia para lá de cabeluda do poeta e ativista político Eduard Limonov. A literatura movimentou a vida do artista russo, mas seus escritos surgem pelas beiradas no filme, uma vez que se contrabandeadas para dentro de sua própria história.

É um poema entoado cá, uma discussão com um editor ali, um sarau burguês além… todas essas intervenções e encontros parecem uma distração a Limonov. Sua atenção está mesmo na revolução, na revolta dos oprimidos e marginalizados e na chance de derrubar o sistema.

Mas que domínio ele combate? E de que lado ele está? Essas perguntas também são o de menos para o poeta, e a sua trajetória mais confunde que esclarece a sua posição.

Limonov foi muitas coisas, de renegado beatnik a expatriado perdido, passando depois por líder bolchevista e radical político na Rússia de Putin. A sua figura existe supra de tudo pela reação, seja lá a que ou a quem, e o resto vira nota de rodapé.

Esse espírito indomável domina as atenções no longa de Kirill Serebrennikov, que adapta o livro homônimo de Emmanuel Carrère sobre o artista. A trama resume a vida de Limonov uma vez que pode, dos anos 1960 ao início dos 2000, sempre de olho em sua figura irascível. Ela tem um magnetismo próprio e inexplicável, por fim, que o artista modula de congraçamento com a ocasião, e o filme só ganha diante dessa complicação.

Se o poeta foge da União Soviética na juventude para buscar a reputação e o sucesso longe do regime stalinista, por exemplo, ele depois usa a mesma posição de exilado para confrontar o ruína social da Novidade York dos anos 1970. O seu rosto nem treme diante da hipocrisia.

Depois, quando se vê encurralado pela grana, Limonov aceita trabalhar uma vez que mordomo de um ricaço, que usa a sua identidade de poeta uma vez que atração em festas. O patronato rende ao protagonista algumas reuniões com editoras americanas e artistas russos celebrados, mesmo que isso no fundo aumente a sua insatisfação —sabe-se lá por qual motivo.

Mesmo a vida pessoal de Limonov é uma eterna lesma de turbulências. Só a definição mais rudimentar de loucura explica o momento em que o poeta, sentenciado a namorar a protótipo russa Elena, corta os pulsos e usa o próprio sangue para pintar o hall do apartamento da pequena. Tudo porque ele tem certeza de que a moça é o paixão de sua vida, enquanto ela já tem um namorado para lá de cimeira e potente.

Limonov consegue a pequena, mas a sua impulsividade o mergulha em novidade crise alguns anos depois, já em Novidade York, quando a paixão por Elena se esgota e ela o trai com um fotógrafo. Além de ameaçar o amante com uma faca, o poeta apela ao crossdressing e, vestido com as roupas da ex, implora por sexo a um morador de rua.

O prazer da submissão justificação uma epifania e o ajuda a superar o mau momento emocional, mas termina uma vez que uma façanha pontual. “Todo varão deveria dar a bunda”, ele diz anos depois em uma coletiva que marca o seu retorno à Rússia.

Limonov é um camaleão, uma vez que o título brasílio muito entrega, e a sua atração inexplicável pelo lugar do oprimido o define. O ator inglês Ben Whishaw carrega com afinco esse perfil multíplice no papel do russo. A sua atuação desdobra as diferentes faces vestidas pelo artista, revelando detalhes da hostilidade do responsável a cada novidade identidade que ele inventa.

A boa sacada do filme é que nesse caminho ele também desdobra a história da Rússia, repercutida na vida do poeta mesmo que ele passe muitos anos fora do país. Artista e região se transformam diversas vezes no transcursão dos anos, assim, e a transmutação ambulante de Limonov iguala a de uma sociedade fragmentada.

O material serve muito a Kirill Serebrennikov, que andava patinando na curso. Desde a sua promoção à mostra principal do Festival de Cannes com o bom “Verão”, sobre a cena do rock soviético, o cineasta russo estava perdido entre a afetação e o formalismo tradicional.

Os seus últimos trabalhos, o exagerado “A Febre de Petrov” e o enfastiado “A Esposa de Tchaikovski”, refletiam o interesse do diretor pela intersecção entre a identidade e a arte russa a passos tortos. “Limonov” nesse ponto mansão melhor o excesso com o desvelo estético, ainda que hora ou outra caia no enfado.

Aliás, forma boa dupla com “Verão”, e os dois filmes são faces diferentes de uma mesma moeda estranha, muito russa por assim manifestar. O longa de 2018 tinha artistas que sofriam por reproduzir hits de fora da União Soviética, mas eram impossibilitados de viver fora do mundo do regime.

Já Limonov, pelo menos no filme, passou a vida buscando o sucesso uma vez que artista global, mas depois agonizou para se reconectar com o próprio país. Até porque a Rússia mudou muito, inclusive até no nome —outra semelhança entre poeta e região que, de tanto martelada, pode passar batida ao testemunha.

Folha

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