Berlim: Gabriel Mascaro Faz Um Cinema Inquieto 22/02/2025

Berlim: Gabriel Mascaro faz um cinema inquieto – 22/02/2025 – Ilustrada

Celebridades Cultura

Nos piores momentos dos últimos 30 anos, o Festival de Berlim foi generoso com o Brasil. Estávamos naquela seca horroroso dos anos 1990, quando “Médio do Brasil”, em 1998, quebrou o gelo e levou o Urso de Ouro ao falar de um país que, porquê a personagem de Fernanda Montenegro, buscava se regenerar e extinguir seus erros passados.

Já no século 20, foi a vez de “Tropa de Escol” levar o prêmio. O filme de José Padilha celebrava a luta contra a depravação na polícia carioca, representada pela tropa de choque integro que o capitão Promanação dirige com mão de ferro. É verdade que, oferecido o que se viu depois em material de depravação policial no Rio de Janeiro, o melhor é olvidar o que aconteceu e partir para outra.

A outra chegou agora há pouco, com Gabriel Mascaro levando o Grande Prêmio do Júri por “O Último Azul”. A premiação tem um significado privativo, por se tratar de um cineasta jovem que, assim, consagra uma novidade geração da rica escola pernambucana que anima o cinema brasiliano desde que impôs seu primeiro longa nacionalmente.

“Dança Perfumado”, de Lírio Ferreira e Paulo Caldas surpreendeu júri e público do Festival de Brasília de 1996 ao apresentar o sertão do cangaço pela ótica de um cinegrafista libanês. Era tudo que havia de tradicional, mas também de moderno. Por isso, prêmio de melhor filme do festival não foi zero surpreendente.

Depois vieram do Recife outros cineastas relevantes, porquê Marcelo Gomes, Claudio Assis, Hilton Lacerda, Marcelo Lordello e, naturalmente, Kleber Mendonça Fruto, que ganhou o Prêmio Privativo do Júri no Festival de Cannes por “Bacurau”, em 2019.

Em Recife começou a formidável descentralização do cinema brasiliano, que se livrou do famoso eixo Rio-São Paulo e se sedimentou em lugares tão diversos quanto Minas Gerais, Brasília, Rio Grande do Sul, Ceará, entre outros centros —sem falar de Rio e São Paulo, que continuam ativos.

Gabriel Mascaro começou a chegar mostrando uma veia sarcástica peculiar no documentário “Um Lugar ao Sol”, de 2009, em que entrevista habitantes ricos de apartamentos privilegiados. É verdade que, à secção a veia sarcástica, havia ali ainda um quê um tanto infantil —era o cineasta impondo sua mando a seus objetos, de perceptível modo tornando-os ridículos.

Ali talvez tenha começado sua viagem pela questão da mando, justamente. E a angústia que pode acompanhá-la. Tanto que, em 2012, seu “Doméstica” secção do princípio de uma cessão de poder. Ou seja, o responsável do filme dá seu lugar a sete adolescentes para que falem de suas relações com as empregadas domésticas de suas casas.

E portanto a questão da mando é presente de outra forma, porquê sublinhou Fábio Andrade, na revista Cinética. O jovem já não é o bebê desvelo por uma babá prestimosa, mas também não é o patrão, com a força de quem paga o salário da moça. O que ele é, portanto? E elas, as domésticas? Ali se observa um pensamento original.

Não me pareceram tão promissores os “Ventos de Agosto”, de 2014, seu primeiro longa ficcional, no entanto muito elogiado. Talvez houvesse ali um desvelo visual que parecia descambar facilmente para o esteticismo.

Assim porquê amadureceu de “Um Lugar ao Sol” para “Doméstica”, o mesmo parece ter ocorrido entre “Vento de Agosto” e seu filme seguinte, o surpreendente “Boi Neon”, de 2015, em conciliava uma estética contemporânea (puxada a neon desde o título), uma atividade tradicional (a vaquejada nordestina) e a desejo de seu protagonista, o vaqueiro, de quem sonho é se tornar estilista, num polo industrial de confecções que se instala no Bravio.

O contraste entre o masculino e o feminino, a paradoxal escolha do vaqueiro pelo trabalho mais quebrável, é o núcleo do filme —e não deixa de lembrar a tensão entre os dois lados do líder da Revolta da Vergasta, João Cândido, cuja ocupação preferida de horas vagas era o bordado.

“Divino Paixão”, de 2019, parece concentrar várias características de seu trabalho anterior. Há um tanto de sarcasmo, na abordagem da questão das novas religiões pentecostais. Ele se traduz sobretudo pelo surgimento de um templo “drive-thru”, onde se pode rezar e tudo mais sem trespassar do viatura, uma espécie de McDonald’s da fé.

Mascaro, porém, concilia esse paisagem com uma atitude compreensiva em relação aos crentes. No entanto, porquê demonstra a simples menção à cena descrita supra, o paladar por trabalhar sobre paradoxos, conceituais ou visuais, assim porquê o de aproximar o tradicional e o moderno têm sido até cá ideias centrais em seu trabalho.

A premiação em Berlim parece assinalar uma inflexão importante em uma obra até cá em evolução inquieta e regular. De modo mais universal, reforça uma temporada em que “Ainda Estou Cá” tem oferecido uma projeção rara ao cinema brasiliano.

Folha

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